A crise de segurança no Equador é social e política

Planos do FMI e ingerência dos EUA na raiz da explosão de violência

O que já era cotidiano no Haiti chegou ao Equador: gangues extorquem desde empresas até pessoas do povo mediante ameaças e sequestros, guerreando entre si e disputando o controle territorial.

Em 7 de janeiro, o cabeça de uma das maiores quadrilhas do Equador, preso desde 2011, foge tranquilamente. Máfias rivais, sabedoras da cumplicidade de setores do aparelho de estado, sentem-se ameaçadas. Explode a violência.

O governo Noboa decreta, por 60 dias, estado de exceção (dia 8) depois conflito armado interno (dia 9) com toque de recolher, suspensão dos direitos de reunião e circulação, de inviolabilidade de domicílio e poderes de polícia ao Exército.

As raízes da crise
Desde 2017, a desestabilização e corrupção do aparelho estatal do Equador avançaram com a perseguição judicial (lawfare), teleguiada pelo Departamento de Estado dos EUA, lançada contra o ex-Presidente Rafael Correa (2007-2017) similar ao ocorrido no Brasil contra Lula e o PT.

Os governos Lenin Moreno e Guillermo Lasso, sucessores de Correa, obedecem às ordens do FMI: privatizam, retiram direitos dos trabalhadores, precarizam empregos, desmontam programas sociais. Assim, agravam a miséria, abrindo terreno para o crime organizado recrutar a juventude. A revolta indígena de 2019 se deu contra essas medidas pró-capital financeiro.

Num país em que o dólar é a moeda oficial desde 2000 – situação com a qual Correa conviveu – eles também afrouxaram os controles sobre os fluxos de capitais, facilitando a lavagem do dinheiro da droga.

Narcotráfico, aparelho estatal e ingerência dos EUA
Nesse mesmo período aumentou exponencialmente a presença militar e ajuda financeira dos EUA, supostamente contra o narcotráfico, mas o crime organizado penetrou ainda mais no aparelho de Estado. O próprio Lasso foi acusado por cumplicidade com os narcos e, para evitar seu impeachment, convocou eleições antecipadas.

Seu Ministro da Agricultura, Bernardo Manzano, eliminou controles aduaneiros na exportação da banana. Não demorou para se descobrir que documentação falsa foi utilizada para embarcar droga como se fosse banana.

Detalhe: Manzano foi, durante anos, e até 2022, funcionário da Corporação Noboa, maior exportadora de bananas, da família mais rica do Equador, da qual é herdeiro… o bilionário presidente Daniel Noboa.

Medidas contra o povo, não contra as drogas
Noboa assumiu em novembro de 2023 e logo aprovou no Congresso lei que autoriza a privatização do setor elétrico e cria taxa adicional no licenciamento de veículos para “financiar a transição energética”.

Em 11 de janeiro, propôs aumentar o imposto sobre o consumo (IVA) de 12% para 15% a pretexto de financiar a segurança pública militarizada.

Segundo a imprensa, a reunião do Conselho de Estado de 7 de janeiro, que aprovou o Estado de Exceção, foi assistida pelo embaixador dos EUA.

Noboa tem encontro marcado com a chefe do Comando Militar Sul dos EUA, general Laura Richardson, figura frequente no Equador.

O imperialismo não combate o tráfico, ao contrário, para ele, as drogas são instrumento de decomposição da juventude – e de lucros especulativos – enquanto suas consequências sociais devastadoras e a instabilidade política são utilizadas para aumentar a riqueza de suas multinacionais e a opressão sobre os povos.

As medidas extremas de Noboa não têm a capacidade de desarticular o tráfico, mas atingem em cheio as liberdades democráticas e a renda da classe trabalhadora.

Edison Cardoni

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