A destruição do Museu Nacional, um retrato do país

O desaparecimento do valoroso acervo é de responsabilidade da política golpista

Na noite do último dia 2, o Museu Nacional foi destruído pelo fogo. Perdemos o 5o maior acervo do mundo, um dos acervos mais importantes do país, de valor inestimável para nós, brasileiros, e para toda a humanidade. Perdemos o fóssil humano mais antigo localizado nas Américas, Luzia, múmias indígenas e egípcias, entre outros.

O Museu Nacional abrigava vinte milhões de itens, duas valiosas bibliotecas e espaços destinados à pesquisa e extensão, além de programas de pós-graduação de excelência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Citamos como exemplo o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social – sobretudo pelos trabalhos de etnologia indígena – responsável pela produção de ponta na área de ciências humanas no país hoje e que conferiu um lugar de destaque mundial para a nossa produção intelectual.

O Museu Nacional era um dos prédios mais populares do Rio. Fazia parte da formação dos alunos de escolas públicas de educação básica. Muitos estudantes entravam em contato pela primeira vez com espaços de conservação da memória, da história, da cultura, da arte e ciência do país e do mundo através da sua visitação.

Em 2018, 54 mil para manutenção!
Embora querido e de grande valor para a cultura e ciência do país, todos que visitavam o Museu, que em 1808 abrigou a família Real Portuguesa, sabiam que ele funcionava à míngua, num prédio em péssimas condições, com instalações precárias e infestado de cupins. Este ano, o Museu recebeu apenas 54 mil reais para sua manutenção. Os jornais do mundo todo repercutiram a notícia. A comoção da perda foi tornada maior diante dos parcos recursos do Corpo de Bombeiros da PM do RJ para enfrentar a magnitude do incêndio.

A grande imprensa teve a coragem de ecoar manifestações pró-privatização que apontam a tragédia como exemplo de incapacidade administrativa do poder público. Paulo Knauss, diretor do Museu Histórico Nacional, disse que “Nosso país está carente de uma política que defenda os nossos museus” (G1, 02/09).

Embora a imprensa omita, o PT é o único partido que enumera com clareza seus compromissos com a preservação do patrimônio público e dos Museus, em especial: “Retomaremos de forma ativa as políticas para o patrimônio e museus através do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). Essas duas instituições serão dotadas das condições para que conduzam iniciativas amplas e diversificadas de proteção e promoção do patrimônio cultural e de fortalecimento da política nacional de museus” (Plano Lula de Governo).

No dia 3, a polícia de Crivella jogou gás de pimenta e bateu em manifestantes injuriados que protestavam em frente ao Museu, denunciando os cortes de Temer e a PEC 241/55 dos gastos, na Quinta da Boa Vista. No mesmo dia, houve manifestação também na Cinelândia, chamada pela UNE, UEE, ANPG (Pós-Graduandos), com milhares presentes, sobretudo estudantes.

Ao contrário do que dizem Temer, Crivella e demais administradores ignorantes, não é possível recuperar o Museu Nacional. Infelizmente, o que se perdeu no incêndio nunca mais poderá ser recomposto. Esse é o legado macabro dos golpistas. O Museu Nacional virou ruína, uma chaga vinda desse momento infeliz da nossa história.

Áurea Alves

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