A extradição de Cesare Battisti

No dia 12 de janeiro, Cesare Bat­tisti, foi preso em Santa Cruz de La Sierra na Bolívia, onde havia pedido asilo político dia 18 de de­zembro, sem resposta. Preso pela polícia boliviana foi imediatamente entregue à polícia da italiana e levado à Itália, onde passou a cumprir pena de prisão perpétua.

A solicitação de asilo, na condição de perseguido político feita ao gover­no de Evo Morales em dezembro de 2018, não foi respondida. Enquanto isso, a polícia boliviana, operou com a italiana e ele foi preso.

O fato causou perplexidade e pro­testo de setores democráticos, pois, segundo a Convenção de Genebra, de 1951, e o Protocolo de 1967, Artigo 33, o status de refugiado deve seguir o princípio de NÃO DEVOLUÇÃO a países ou fronteiras onde corra riscos.

Raúl Linera, dirigente do MAS – or­ganização que dá sustentação a Evo Morales – e irmão do vice-presidente boliviano, Álvaro Linera, fez crítica contundente: “Pela primeira vez me sinto envergonhado e decepcionado pela reação governamental (…) e gri­to com toda minha alma, esta ação é injusta, covarde e reacionária.”

No Brasil, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS) criticou a prisão e extradição: “Não se trata de uma discussão ideológica e sim jurídica constitucional. Quando você politiza as decisões jurídicas você fragiliza o Estado democrático”.

O presidente do PSOL, Juliano Me­deiros, também condenou a ação do governo boliviano, que chama de “perpetuação da injustiça.”

Bolsonaro, assim que eleito, para agradar o governo italiano de ultra­direita, havia prometido entregar “o presente”. Assim que Battisti foi preso convocou reunião de emergência com três ministros, Heleno, Moro e Araújo. Mandaram um avião para trazer Battisti, um almoço e esque­ma com a imprensa foi montado em Brasília para registrar o ato da entrega. Pagou vexame. Battisti foi levado direto da Bolívia para a Itália em avião italiano

De Bolsonaro nada diferente a se esperar, o que foi triste e lamentável mesmo foi a atitude do Presidente Evo Morales ao entregar a vítima aos seus algozes.

PARA ENTENDER O CASO

Cesare Battisti militou na esquerda italiana nos anos de 1970. Preso, foi condenado a 12 anos, acusado de participar de um grupo armado, uma condenação política, portanto.

Fugiu da prisão, morou na França, México e estava no Brasil desde 2007. A justiça italiana passou a julgá-lo à revelia, por quatro homicídios que ele sempre negou a autoria. Nesses novos julgamentos Battisti foi condenado à prisão perpétua.

No final de 2010, em um de seus últimos atos como presidente, Lula negou a extradição de Cesare Battisti, que obteve o visto de permanência no Brasil. Mas, por pressão do governo da Itália, intensificada após o golpe de 2016 prosseguiu uma batalha nos tribunais, até que, em outubro de 2017, numa estranha operação policial, Battisti foi detido na fronteira do Brasil com a Bolívia sob acusação de evasão de divisas, em função dos recursos (6 a 7 mil dólares) que ele e seus acompanhantes portavam.

Em outubro de 2017 o ministro Fux do STF concedeu habeas corpus, e Battisti foi solto. Mas, depois da eleição de Bolsonaro, o mesmo Fux, em 13 de dezembro de 2018 revoga sua decisão. No dia 14 Temer assina decreto autorizando sua extradição.

Laércio Barbosa

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