A urgente Reforma Agrária

O mês de abril encerra a jornada de luta, o Abril Vermelho, que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) realiza para lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás (1996) onde 21 trabalhadores sem-terra foram assassinados pela Polícia Militar. E por que? Porque cerca de 1500 famílias de trabalhadores rurais faziam uma marcha para reivindicar o direito à terra!

A reação furiosa do agronegócio ao Abril Vermelho de 2023 (infelizmente com ecos no atual governo) expõe uma ferida aberta no nosso país. Enquanto os latifundiários detêm 45% das terras cultiváveis (uma das maiores concentrações do mundo), milhões de famílias sofrem de fome, de violência e de condições indignas de trabalho.

A eleição de Lula é um oxigênio para o MST prosseguir na luta pela Reforma Agrária. Já, para os latifundiários é uma ameaça a seus interesses que determinam a vida e a produção no campo há séculos.

A Agrishow, em Ribeirão Preto (SP) é um exemplo cabal. Feira organizada para e pelo agro negócio, ela foi palco da primeira reaparição pública do ex-presidente derrotado nas urnas. E não por acaso. Foi lá que o ex (agora acusado também de falsificar atestados de vacina) escolheu para criticar a necessária retomada da demarcação de terras indígenas feita por Lula em 28 de abril. “Vocês devem saber que há 400 pedidos de demarcações de terras indígenas e pelo menos 3.500 de quilombolas. E aquele cara disse que faria o possível para atender os anseios das comunidades. Se 10% forem atendidos, para onde irá nosso agro? Peço a Deus para isso não acontecer”, disse o capanga do agro, dos garimpeiros ilegais, dos que exploram o trabalho escravo, cujos crimes cresceram exponencialmente durante seus quatro anos no Palácio do Planalto.

Que peça a deus ou ao diabo (a quem parece realmente devoto), mas a luta no campo não vai parar. Como, aliás, a luta de toda a camada oprimida que elegeu Lula.

Intimidações virão, para acuar o governo, mas principalmente a luta. “Aqueles que invadirem terra no Estado de São Paulo terão um destino só: a cadeia” ameaçou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (FSP, 2 de maio), dama de honra de Bolsonaro na Agrishow.

É inaceitável, que de dentro do governo se diga, como o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura que: “invasão de terra não pode ser concebível e é tão grave quanto invadir o Congresso Nacional” (grifo meu). Comparar a luta pelo direito a terra ao ato fascista de 8 de janeiro, é o fim da picada! Aliás, não estariam entre os convidados da feira, para a qual o ministro foi desconvidado, financiadores, organizadores e participantes da tentativa de ato golpista, além do capo Bolsonaro?

“Queremos que o governo Lula se antecipe, desaproprie latifúndios e assente as 60 mil famílias acampadas. A previsão desse ano é assentar 6.000 famílias. Se continuar nesse ritmo, vamos precisar de três mandatos para assentar somente as famílias que estão acampadas. O governo é nosso, nós ajudamos a construir. Mas o MST tem autonomia em relação ao PT e ao governo. Nós não somos correia de transmissão [do governo] e não aceitamos nenhum tipo de coleira ou focinheira sobre a organização do MST. (João Paulo Rodrigues, dirigente do MST, FSP 27/04)

Vale lembrar
Eleito para o primeiro mandato em 2002, na campanha Lula disse que se pudesse fazer uma única reforma seria a Reforma Agrária. É verdade, a questão da terra é crucial no nosso país. “Terra para quem nela trabalha!”, como dissemos na fundação do PT. No terceiro mandato que venha a Reforma Agrária! Todo apoio à luta dos trabalhadores do campo!

Misa Boito

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