Almoço indigesto para as mulheres trabalhadoras

Uma reunião de mulheres, incluindo almoço, no luxuoso apartamento de Marta Suplicy, em janeiro, adotou uma carta aberta “À nação, a presidenciáveis, a candidatas e candidatos ao executivo e ao legislativo”, assinada por 33 mulheres presentes, entre elas a presidente do PT Gleisi Hoffmann.

Uma carta a ser apresentada a todas as candidaturas? Como assim? A única candidatura na qual a classe trabalhadora, incluindo as mulheres trabalhadoras, pode se apoiar para desfazer todos os ataques e ter novas conquistas é a de Lula!

Dessa reunião, organizada pela ex-senadora Marta Suplicy, que votou a favor do golpe contra Dilma, saiu do PT e foi para o MDB de Temer, cujo governo iniciou uma série de ataques aos direitos das mulheres, aprofundados por Bolsonaro, boa coisa não podia sair. E não saiu! Mesmo se apresenta algumas questões concretas que dizem respeito às mulheres em geral, não toca em problemas fundamentais que afligem a mulher trabalhadora.

Somos mulheres, mas em diferentes trincheiras
Juntando “alhos com bugalhos” na reunião estavam presentes, além da presidente do PT, lideranças do movimento de moradia, até a ministra do STF Carmem Lúcia, passando por Cláudia Costin, que trabalhou no governo de FHC e no Banco Mundial.

Marta Suplicy propor um documento que não toca nas principais questões que dizem respeito à vida da mulher trabalhadora não surpreende. A questão é o PT juntar-se a esta iniciativa, que confunde as militantes do partido, que lutam todos os dias nos locais de trabalho, nas escolas, nos sindicatos e nos movimentos sociais. Não é a mesma trincheira de várias mulheres presentes à reunião.

Como é possível falar em interesse das mulheres trabalhadoras sem exigir a garantia dos direitos trabalhistas para as empregadas domésticas?

O Brasil é o país que tem o segundo maior número de empregadas (os), domésticas (os). São mais de seis milhões, sendo (92%) de mulheres, entre as quais 65% são negras.

Apesar da PEC 72 (direitos das domésticas) ter sido sancionada em 2015 pela presidente Dilma – o que foi objeto de ira dos que estiveram nas ruas pedindo o impeachment – dados do IBGE mostram que em 2020 75% das domésticas não tinham registro na carteira de trabalho.

Como é possível falar em interesse das mulheres trabalhadoras, sem exigir trabalho igual/salário igual? No Brasil uma mulher ganha, para o mesmo trabalho, 30% a menos que um homem, e as negras 44% a menos que os homens brancos!

Como é possível falar em interesses das mulheres trabalhadoras sem tocar na questão do direito ao aborto que mata centena de milhares que não têm acesso às clínicas particulares e seguras? Por exigência da ministra Carmen Lúcia, esta questão não entrou no documento!

8 de março vem aí!
Exigir a revogação das contrarreformas trabalhista e da previdência que prejudicaram ainda mais as mulheres da classe trabalhadora; garantir a igualdade salarial, direito ao aborto, estas são nossas reivindicações. Nada a ver com a carta que saiu da reunião patrocinada por Marta Suplicy. O “conglomerado” feminino que assina a carta é fria! Nele não tem lugar a mulher trabalhadora, cuja luta só pode se desenvolver com sua própria classe.

Este é o conteúdo do 8 de Março, Dia Internacional de luta da mulher trabalhadora, data em que iremos às ruas levantar nossas reivindicações. Aí está nossa trincheira na luta contra a opressão das mulheres!

Lili de Souza

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