Os urros de Bolsonaro diminuíram nos últimos dias, num recuo obrigado, recurso sempre utilizado para continuar com seu plano.
Como num jogral, os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Câmara e Congresso e outros, entoam o cântico do apaziguamento com Bolsonaro. Como se o objetivo há um ano e meio por eles perseguido, de “domesticação” do monstro para cuja eleição contribuíram, tivesse sido atingido.
Seria ingênuo, não fosse oportuno aos interesses representados por estas instituições, crer em tal apaziguamento.
Bolsonaro tem um plano e dele não abriu mão. Os que o criaram têm interesses a preservar e tentam passar a sensação de “alívio”, para prosseguir a tarefa atribuída a Bolsonaro e seu ministro Guedes. Assim, mesmo quando a pandemia escancarou as condições medievais de acesso à água e esgoto em que vive grande parte da população, o Senado aprovou novo marco regulatório do saneamento básico, entregando estes serviços ao capital privado.
Com a continuidade deste governo, a crise sanitária, econômica e política, jogando o povo trabalhador numa situação deplorável, se aprofunda e com novos ingredientes.
Depois da ruptura da ala “lavajatista”, com a saída de Moro, agora a “guerra” entre os procuradores da Lava Jato e a Procuradoria Geral da República só explicita, ainda mais, a podridão do Judiciário, subserviente aos interesses imperialistas, como comprovam as novas denúncias da ingerência do FBI, órgão do Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA, na operação Lava Jato. De olho nas riquezas nacionais e sedentos da destruição dos direitos e conquistas dos trabalhadores – por isso a perseguição a Lula e ao PT – desde o DoJ, forjaram a operação, executada com a complacência da turma toda que hoje se beneficia da política de Guedes.
Por isso, movimentos ditos “democráticos” não falam em impeachment. Temem que ao mexer uma peça caia todo o arcabouço montado para garantir, por exemplo, a formalização do emprego sem direitos, o que Paulo Guedes quer fazer com a carteira verde amarela, ou a destruição de serviços públicos que a pandemia mostra ser mortal para a maioria oprimida.
Temem porque veem que, pouco a pouco, os trabalhadores vão indo à luta. A greve nacional dos entregadores de aplicativos em 1º de julho foi um primeiro grito de uma categoria super-explorada e, a depender desta turma que criou Bolsonaro, é modelo ideal para garantir o lucro do capital. Estes entregadores, trabalhadores individualizados dito empreendedores, fizeram uma ação coletiva, exigindo direitos comuns. É na ação coletiva, por baixo, que se pode abrir a verdadeira perspectiva da paz para o povo: o fim deste governo, a recuperação dos direitos, a defesa e expansão dos serviços públicos, medidas concretas contra a destruição da Amazônia, recuperação das empresas estatais, como a Petrobras, alvo principal da Lava Jato. Enfim, a democracia para servir aos interesses da maioria oprimida e da soberania da nação.
Nesta direção, a profusão de manifestos e calendários é um elemento de confusão que não ajuda a dar a confiança necessária aos jovens, trabalhadores e a todos que são vítimas do governo.
As manifestações de rua, como de maio e junho, precisam ser retomadas. Com todos os cuidados sanitários, para impor a maior medida de segurança sanitária: livrar o país deste governo infecto. É preciso unificar. O PT, e também a CUT, têm aí um lugar maior a ocupar.
Enquanto prosseguir os ataques de Guedes e Bolsonaro, não haverá paz.