Argélia: após eleições, abre-se uma nova situação

O Partido dos Trabalhadores denuncia fraude nas eleições parlamentares

Em 4 de maio ocorreram eleições legislativas na Argélia.

A coalizão no poder, uma aliança entre a FLN (Frente de Libertação Nacional) e o RND (Reagrupamento Nacional Democrático), manteve a maioria absoluta na Assembleia Nacional Popular. Mas a FLN, ex-partido único, que domina a vida política do país desde a guerra da independência, caiu de 221 deputados para 164. A RND, seu gêmeo e concorrente, ganhou 37 cadeiras, ficando com 97 deputados. Acrescentando os deputados de pequenos partidos próximos do poder, como os islamistas do TAJ (Tajamoue Amal El Jazair) e o partido de direita MPA (Movimento Popular Argelino), o bloco majoritário que sus­tenta o governo manteve praticamente o mesmo tamanho.

As formações de esquerda, como a Frente das Forças Socialistas (caiu de 26 para 14 deputados) e o Partido dos Trabalhadores (de 24 para 11). Mas a “estabilidade”, tão cara ao regime, beira à caricatura.

A seguir alguns extratos de matérias de jornais argelinos.

Le Soir, 7 de maio

“’Um roubo. Uma deriva. Um cheiro de golpe. Um confisco da soberania popular’. A Secretária Geral do Partido dos Trabalhadores, Louisa Hanoune não economizou palavras para contestar o resultado das eleições legislativas de 4 de maio, na qual seu partido, segundo ela, foi a principal vítima. Revoltada com os representantes do poder, que se sentem incomodados com a voz do PT na Assembleia Nacional, a dirigente política deu a entender que, daqui para frente, o envolvimento do PT no parlamento será cada vez menor e vai reorientar seu combate democrático em favor da classe operária priorizando a intervenção na luta de classes direta.

Ela qualifica a Assembleia como ‘catedral do deserto’. Segundo Louisa Hanoune, a eleição de 4 de maio deu lugar a uma relação de forças no par­lamento que não emanou do povo. E concluiu afirmando que, por suas atitudes, os partidários do sistema po­lítico ‘imaginam perpetuar-se no poder pelo constrangimento, pela fraude, recorrendo a práticas medievais’. Mas, ela previne: “as leis da história são im­placáveis, nada nem ninguém poderá salvar um sistema totalmente obsoleto, desprovido de base social e isolado’”.

El Watan, 7 de maio

“No dia seguinte ao anúncio dos resultados das eleições legislativas, a principal dirigente do PT animou uma entrevista coletiva na qual ela qualificou essa eleição de um verdadeiro ‘golpe de Estado’, um ‘assalto eleitoral’ contra a vontade popular. ‘Nós sentimos o cheiro de um golpe. Houve uma operação golpista por ocasião dessa eleição, com o objetivo de eliminar os partidos que incomodam e propulsar aqueles que são exemplos de fidelidade’.

A Secretária do PT discorreu longa­mente sobre o significado da taxa de abstenções que ela qualifica de ‘histó­rica’ e sobre a fraude maciça.

Tudo isso é expressão, segundo Hanoune, de um regime que está se sufocando porque rompeu com a maioria do povo para servir a uma ínfima minoria de novos ricos. ‘Essa fraude generalizada isola ainda mais o regime e acelera seu fim. Não há esperança para o sistema atual, ele vive uma crise mortal’, dispara Louisa Hanoune que está conven­cida de que o poder fraudou para, entre outras coisas, salvar a FLN.

Todavia, a dirigente do PT avalia que os partidários do sistema em decomposição estão definitivamente desacreditados junto ao povo como demonstra a forte taxa de abstenção. O PT não vai dar tréguas, diz ela, uma nova época vai se abrir, a época do combate direto. A senhora Hanoune está persuadida de que os cidadãos vão reagir pois, agora, à insatisfação social e à cólera contra os planos de austeridade veio se juntar o desprezo do poder pela população, que foi im­pedida de escolher seus verdadeiros representantes. ‘É uma provocação contra a maioria que se absteve e contra aqueles que votaram e cujas escolhas não foram respeitadas’.

Liberté, 7 de maio

“Segundo Louisa Hanoune, ‘o que se revelou nessas eleições é de uma extrema gravidade, é a ausência de um Estado central, com instituições homogêneas, porque em todas as cidades o país cada um fez o que bem entendeu e vimos atitudes totalmente distintas, e mesmo contraditórias, não apenas dos responsáveis pela administração, mas também dos juízes. Alguns tentaram resistir a esse rolo compressor, a esse assalto. Outros, ao contrário, estavam entre seus artífices. O PT vai debater, fazer o balanço, tirar as lições das mensagens políticas enviadas pela maioria do povo e das mudanças ocorridas na cena política, para concluir com as formas apropriadas para intensificar sua intervenção política visando a ajudar as lutas em curso e a criar uma relação de forças benéfica à maioria do povo’, garantindo que a taxa de abstenção ultrapassou a casa dos 80%”.

O PT argelino é membro do Acordo Internacional dos Trabalhadores (AcIT) que convoca, com dirigentes sindicais e políticos e personalidades democráticas de 46 países, a 9º Conferência Mundial Aberta contra a guerra e a exploração, para outubro desse ano.

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