Argélia: duas revoluções que são uma só

O dia 1º de novembro é uma data histórica na Argélia, que marca o início da luta armada contra o colonialismo francês em 1954. Este ano, o dia 1º de novembro caiu numa sexta-feira (1).

De um lado, as celebrações oficiais, na clandestinidade dos palácios do governo, ou mesmo cancelada, como em Béjaïa. De outro lado, a celebração pelo povo, nas ruas. Aos milhões e milhões, os argelinos foram às ruas em todas as cidades do país para prestar homenagem aos combatentes e mártires da revolução argelina e para denunciar o regime atual, resultante do confisco dessa revolução. Esses milhões expressam um sentimento claro: de 1954 a 1962, nós libertamos a terra. Em 2019, vamos libertar o povo.

Bandeiras, cartazes em honra aos combatentes da revolução, em sua maioria mortos em combate, mas também fotos, máscaras e cartazes do velho combatente da luta da libertação nacional, Lakhdar Bouregaâ, de 86 anos, que está atualmente preso (2).

As manifestações de 1º de novembro expressaram tudo o que é a Argélia. A vitória contra o colonialismo que explorava e saqueava o país implicou, para a sua plena soberania, que as riquezas, como os hidrocarbonetos, sejam propriedade da nação.

Fora o regime
É por isso que, nessas manifestações, alternavam-se as palavras de ordem “não haverá eleição em 12 de dezembro, fora o regime, libertação dos prisioneiros políticos e não à lei sobre hidrocarbonetos” (2).

Essa rejeição das eleições que visam preservar o regime, ficou clara quando um dos candidatos à eleição presidencial, Benflis, ex-ministro de Bouteflika, foi obrigado a correr para o seu carro e fugir de uma rua em Argel, enquanto os manifestantes o chamavam de traidor e gritavam fora!

Além disso, os cinco candidatos inscritos para as eleições de 12 de dezembro fazem parte do regime. Dois foram primeiros-ministros de Bouteflika e outros dois foram seus ministros. O governo, sob pressão do chefe do estado-maior, Gaïd Salah, agarra-se à eleição para tentar preservar o regime em plena crise. Ele multiplica as intimações, a repressão e as condenações. Ao mesmo tempo, o braço do sistema que é o aparelho judiciário está em plena crise com a greve dos juízes (2).

O FMI e o Banco Mundial estão alarmados com a situação na Argélia. Submisso às regras do mercado mundial e ao capital financeiro, o governo precipitou a lei de privatização dos hidrocarbonetos, votada pela Assembleia Nacional, em 5 de novembro. Nesse mesmo dia, milhares de estudantes nas ruas de Argel tentaram chegar ao prédio da APN com o grito de: “O Parlamento não nos representa! A lei sobre hidrocarbonetos não deve ser votada!”
A soberania nacional é a soberania do povo sobre suas riquezas.

1954 e 2019: duas revoluções que são uma só.
Lucien Gauthier
(publicado no jornal francês Informações Operárias)

Notas
1 – Desde 22 de fevereiro, todas as sextas-feiras, as ruas são palco de protestos contra o atual regime.
2 – Os juízes estão em greve desde 27 de novembro. Na Argélia, onde o aparelho judiciário está sob controle do regime, uma greve de juízes é incomum e proibida por lei.
3 – A lei acaba com a exigência de 51% da participação do Estado na exploração do petróleo e gás.

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