Argentina sacudida por manifestações

Ao fundo, avizinham-se eleições presidenciais.

Quase que diariamente ocorrem manifestações no país, fundamentalmente em Buenos Aires, a capital. Geralmente são mobilizações por reivindicações específicas, na sua maioria realizada por trabalhadores cujos reclamos sociais não foram atendidos. Muito pontualmente ocorrem marchas das quais participam setores médios e endinheirados, com a que se realizou no último dia 18 de fevereiro, com ampla cobertura de mídia.

Remontando ao dia 18 de julho de 1994, na cidade de Buenos Aires, a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) sofreu um atentado à bomba que deixou 85 pessoas mortas e mais de 300 feridas. Desde então, diversas hipóteses foram aventadas sobre os responsáveis pelo atentado e até hoje não se sabe o que aconteceu.

A notícia de que o procurador federal Alberto Nisman denunciaria a presidente Cristina Kichner (de origem peronista) e outros funcionários por encobrir potenciais suspeitos iranianos gerou assombro em alguns e temor nos meios oficiais de que estava sendo gestada uma conspiração golpista contra o governo.

A suspeita sobre o Irã como o principal culpado pelo atentado foi alentada pelos Estados Unidos na época, assim que conhecido o fato. O Irã era, então, considerado como um dos países do “eixo do mal” e compunha a lista dos Estados considerados terroristas.

Mas, uma vez conhecida a denúncia do procurador, ressurgiram velhas notícias, muitas delas provenientes dos vazamentos conhecidos como Wikileaks, que indicavam os vínculos do procurador, através de agentes de serviços secretos de inteligência locais, com as centrais de inteligência estadunidense (CIA) e israelense (Mossad). Há informações de que muitas das denúncias redigidas pelo procurador Nisman eram, na realidade, feitas em consultas com a embaixada dos Estados Unidos da Argentina.

Nisman iria expor sua denúncia ao Congresso quando a notícia sobre sua morte, em 18 de janeiro, impactou o cenário político. As hipóteses de assassinato ou um suicídio começaram a circular. Os que colocavam a primeira possibilidade sugeriam que o governo argentino estaria implicado no fato.

Foi nesse marco que, em 18 de fevereiro, ocorreu a mobilização chamada por procuradores e apoiada por líderes de partidos opositores de direita. A presença na manifestação foi objeto de polêmica: o cálculo mais realista considerava 90.000 participantes com quase nula participação de trabalhadores ou jovens (parte da mídia, inclusive no Brasil, dava 400 mil ou mais!).

Neste ano de 2015 teremos eleições presidenciais na Argentina. Diante da ausência de um candidato com chances mais próximo do governo, aquela mobilização difundida pelos grandes meios de comunicação pretendeu ser capitalizada pelos setores que defendem medidas reacionárias; que exigem uma agenda de ajuste e de repressão às organizações populares.

Num cenário onde tais setores de direita tentam fixar sua agenda de futuro, o governo redobrou a aposta realizando neste domingo dia 1º de março uma manifestação maciça no marco da reabertura das sessões ordinárias do Congresso.

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas