Angel Tubau (tradução Adaias Muniz)
Desde 16 de fevereiro, as mobilizações continuam, principalmente na Catalunha, mas também em todo o país. Sem dúvida, o ponto de viragem foi a enorme manifestação que aconteceu no sábado, 27 de fevereiro, no centro de Barcelona.
Nela se reuniram as exigências de restauração da liberdade de expressão e de liberdade para o cantor Pablo Hasel, e um conjunto de reivindicações sociais através da participação de organizações que lutam contra despejos de aluguel – que aumentaram no último período – manifestantes pela saúde pública e outros. Isso explica por que essa manifestação foi a mais massiva desde 16 de fevereiro.
No entanto, esses protestos, que rompem com as restrições impostas pelo estado de alarme, têm sido utilizados como pretexto para uma campanha desenfreada travada a partir das fileiras da direita franquista para exigir do governo a sua proibição.
Provocação bem organizada
Meia hora após a dissolução da manifestação no sábado, ocorreram confrontos entre um pequeno grupo e a polícia, em frente a uma delegacia municipal (ao sul das Ramblas) que, curiosamente, não foi protegida e curiosamente também teve a presença de “jornalistas”. Na mesma noite de sábado, uma campanha coordenada foi lançada em todo o país contra o “terrorismo de rua”. Os jornais mais abertamente franquistas, como o ABC, estão exigindo até a interdição de organizações que acusam de provocar violência, como a organização juvenil da Copa (Arran). E, de novo, como um retrocesso ao passado, fala-se de “agitadores estrangeiros” (dois ou três italianos, franceses ou um escocês de passagem!).
O objetivo imediato desta campanha na mídia é forçar os partidos catalães, que depois das eleições de 14 de fevereiro formarão um governo na Catalunha, a declarar previamente sua defesa da chamada polícia catalã, em particular os esquadrões antimotim (os Brimos), conhecidos pela sua brutalidade e implicados em muitos casos de violência policial e casos de embriaguez.
Uma questão de fundo: A decomposição do regime
A “condenação” das mobilizações de Barcelona também é usada para tentar restabelecer a “união nacional” em defesa do regime monarquista. De fato, a cada semana que passa, novos elementos são publicados na imprensa sobre a corrupção que atinge a casa real (1).
A isso se soma a grande crise que atravessa o Partido Popular (PP) – representação política das instituições herdadas do franquismo, que, após sua derrota eleitoral na Catalunha, exibe cada vez mais publicamente as divergências internas entre as diversas famílias que se fragmentam.
Por sua vez, o governo socialista de Sanchez tenta estabelecer um pacto de Estado com o PP enquanto sua própria crise o impede, o que o obriga a assumir diretamente, e quase sozinho, a defesa de um regime corrompido e implementar as exigências do capital financeiro.
As grandes empresas anunciam que as reduções de salários implementadas desde a pandemia devem se transformar a partir do final de maio em um plano de ajuste, principalmente em demissões. Consideram que os fundos europeus que devem ser liberados servirão para financiar esses planos de ajustamento.
A junção, na rua, dessas exigências de liberdades e reivindicações sociais estabelece, assim, laços entre esses manifestantes e os trabalhadores ameaçados de perder seus empregos. Além disso, na segunda-feira, 1º de março, foram realizadas novas manifestações em cidades de todo o país, apesar das restrições do estado de emergência, em defesa do sistema público de previdência com o apoio da maioria das organizações de aposentados.
(1) Em 26 de fevereiro, por exemplo, foi anunciado que o Rei pai (Juan Carlos I) voltou a devolver aos cofres do Estado a quantia de 4,4 milhões de euros relativos a despesas não declaradas.