Diante da crise, empresários querem avançar contra os trabalhadores
As conquistas e garantias dos trabalhadores são alvo de ofensiva patronal para ampliar as condições de super exploração do trabalho e manter suas taxas de lucros. “Salários e empregos causam inflação”, “direitos trabalhistas são entraves a serem removidos”.
As instituições internacionais cobram reformas. São todas pressões a jogar nas costas dos trabalhadores o ônus da crise capitalista.
“A SAÍDA É FREAR A ECONOMIA É DEMITIR MESMO”
A frase acima é de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “Mais desemprego para conter a inflação”, defende o economista-chefe do Itaú-Unibanco, no coro dos banqueiros e grandes empresários exigindo de Dilma a redução dos salários no Brasil. Com sua luta os trabalhadores, nos governos Lula e Dilma, conseguiram recompor as perdas salariais. A queda gradual da taxa de desemprego também contribuiu para aumentar o poder de barganha dos sindicatos.
LUTAS ELEVARAM SALÁRIOS
Operários da indústria paulista, por exemplo, arrancaram aumento médio real de 4% anual na última década (veja gráfico abaixo). Em 2012, as negociações salariais obtiveram o melhor resultado dos últimos 17 anos: 95% concluíram com aumento de salários acima da inflação (Dieese).
LOROTAS CONTRA OS SALÁRIOS
Os banqueiros, sedentos por juros mais altos, contam uma lorota: o PIB estaria no limite do crescimento, no “pleno emprego”. Qualquer aumento da produção levaria empresas a tentar contratar mais e não encontrar trabalhadores suficientes. Isso levaria à alta salarial e à inflação. A solução: o Banco Central eleva juros e desencoraja empresas a contratar. De quebra, o consumo cai e, como sugere o economista Celso Pastore, poupa-se mais para financiar os investimentos. Os grandes empresários almejam recuperar lucratividade à custa dos salários e dos impostos (serviços públicos), alegando custo salarial muito alto, o que reduz competitividade frente aos importados. Por isso, dizem, não investem. Defendem a flexibilização das leis trabalhistas e desonerações. Robson Braga, da Confederação Nacional da Indústria diz que “a legislação trabalhista, arcaica e contra produtiva, é um grande empecilho”.
QUATRO ARGUMENTOS FANTASIOSOS
Tais argumentos são fantasiosos. Visam chegar a conclusões contra a classe trabalhadora.
1 – O Brasil não está no “pleno emprego”. O mercado de trabalho é extremamente flexível e informal. A despeito da taxa de desemprego estar historicamente baixa, há ainda enormes contingentes de sub-empregados ou excluídos que não são computados nas estatísticas oficiais de desempregados. Se os capitalistas quisessem investir e contratar, encontrariam ainda milhões de trabalhadores disponíveis.
2 – Aumento de salários não geraria inflação se houvesse, também, aumento na produção. Aumentaria a demanda (poder de compra salarial), mas também a oferta.
3 – O PIB, estagnado há dois anos, teria sim espaço para crescer. Por isso, taxa de juros baixa não criaria inflação se houvesse alta lucrativida-
de que dispusesse empresários a retomar investimentos produtivos. Inversamente, elevação de poupança (com forçada redução do consumo) não garantiria tais investimentos se a lucratividade é baixa.
4 – É fato que salários altos reduzem as possibilidades de lucratividade. Mas esta depende também de outros fatores: capital acumulado, competição e deflação internacionais e baixa produtividade podem derrubar a taxa de lucro. Sua recuperação (e a dos investimentos) não está garantida, mesmo com queda salarial.
A causa da falta de investimentos é a queda da taxa de lucro produtiva, não só no Brasil. A crise mundial torna muito incertas as perspectivas de sua recuperação. É o que explica a ausência dos investimentos privados. Apenas pesados investimentos estatais diretos podem destravar essa ar-
madilha. E defender os salários e o povo brasileiro da crise.
Alberto Handfas