Banqueiros querem mais desemprego e menos salários

Há cerca de um mês atrás ocorreu nos EUA o tradicional Simpósio de Jackson Hole (um luxuoso resort de ski no estado de Utah), que reúne dirigentes de bancos centrais e banqueiros de vários países. A preocupação maior era combater a alta nos salários, que tem gerado inflação alta. “Por isso, a manutenção de juros altos segue necessária”, explicou o presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA). Para ele, é preciso combater a forte demanda, que seria a principal causa da inflação.

Ora, a inflação está alta porque houve um enorme desarranjo nas cadeias de produção internacional nos últimos três anos. Primeiro, a quebra de partes da produção de vários insumos devido às quarentenas na pandemia e depois, com a guerra na Ucrânia, que elevou preços de combustíveis, energia e travou parte do comércio internacional. Tudo isso desorganizou os fluxos de insumos às empresas forçando uma pressão sobre vários preços. Mas com a recuperação pós-pandemia, empresas – sobretudo os grandes conglomerados internacionais – passaram a elevar fortemente seus preços, como forma de jogar para cima seus lucros, que voltaram a bater recordes a partir de fins de 2021.

São estes dois fatores – pressão devido a quebra nos fluxos de insumos, e alta nos preços oligopolizados, devido à alta nos lucros – que geraram o grosso da inflação. Alta nos juros não impactam tais fatores diretamente. Por isso, a despeito do FED e de vários outros Bancos Centrais (incluindo o do Brasil) terem elevado fortemente suas taxas de juros já há mais de um ano, a inflação segue pressionada.

Os salários dos trabalhadores têm tentado correr atrás – a recuperação econômica reduziu o desemprego, o que melhorou o poder de barganha e de luta dos sindicatos. Mas até o momento eles conseguiram recuperar salários muito menos do que a inflação – que nos EUA – por exemplo – acumula 20% desde 2019. E é justamente para impedir que os salários consigam subir, que os bancos centrais querem manter suas taxas altas. Como isso, eles elevam os custos dos investimentos produtivos altos, do consumo (no crediário) das famílias. Provocam uma recessão – com fechamento de empresas, demissões e a desejada elevação das taxas de desemprego, dificultando a luta da classe trabalhadora e de seus sindicatos em seguirem recuperando o poder de compra de seus salários.

A reunião dos banqueiros centrais, de certa forma, representa a política consciente do grande capital internacional.

Alberto Handfas

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