Brasil é um dos países que mais compram armas de Israel

Lula e o PT têm a responsabilidade de impedir avanço de acordo de cooperação militar

No mês de outubro, enquanto Israel despejava uma infinidade de bombas sobre crianças palestinas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apresentava “novos armamentos” das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a ROTA, tropa especial da Polícia Militar paulista.

Era a cerimônia de 53 anos da tropa e a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual destacava 10 metralhadoras leves Negev de calibre 7,62 mm, da Israel Weapon Industries Ltda (IWI), consideradas armamentos de guerra, para uso em campo aberto e capazes de disparar 700 munições por minuto. Apesar de apresentadas como novas, foram adquiridas em 2020, ainda no governo de João Doria (PSDB).

Também em outubro, 10 dias depois do início do atual massacre na Faixa de Gaza, a Polícia Civil da Bahia apresentava 225 fuzis calibre 5.56 de fabricação israelense. O governo de Jerônimo Rodrigues (PT) afirma que o armamento vai “reforçar a ação policial no combate à facções criminosas no estado”. Como O Trabalho vem noticiando nas últimas edições, essa é a desculpa oficial para a polícia baiana ser a que mais mata no Brasil – e as mortes por intervenção policial aumentaram quase 80% no terceiro trimestre de 2023.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro, sob governo de Cláudio Castro (PL), adquiriu no ano passado o mesmo armamento que a Civil baiana. Mas, neste caso, foram 600! Já o governo de Goiás, de Ronaldo Caiado (PSDB), fechou contrato com a Israel Weapon Industries para adquirir carabinas semiautomáticas – contrato assinado durante o mês de outubro.

A afirmação de que a mesma indústria de guerra mata palestinos em Gaza e negros nas periferias e favelas brasileiras é fato! É pela alta letalidade das ações armadas de Israel contra os palestinos que a indústria bélica israelense propagandeia sua eficiência (em matar) e comercializa armamentos e “tecnologia” no mercado mundial. E o Brasil tem sido sistematicamente, nos últimos anos, um dos maiores compradores de equipamentos militares de lá.

Acordo militar entre Brasil e Israel
Mais grave é o fato de que a Câmara Federal aprovou, também poucos dias após o início do massacre, acordo entre Brasil e Israel sobre cooperação em segurança pública, prevenção e combate ao crime organizado. Ele será submetido ao Senado.

Segundo o acordo, podem ser campos de cooperação a investigação e inteligência policiais (inclusive com troca de dados pessoais), indústria, tecnologias e serviços aplicados à segurança pública (leia-se indústria e tecnologias bélicas) e outras.

O acordo foi assinado por Jair Bolsonaro em Jerusalém, em sua visita em 2019, quando Benjamin Netanyahu e sua esposa também ofereceram um banquete em homenagem a Bolsonaro, e desde então está em tramitação no Congresso Nacional.

O Projeto de Decreto Legislativo 55/2021, que estabelece o acordo, foi votado de forma simbólica pela mesa da Câmara, junto com dois outros acordos sobre previdência e ação civil, também com Israel.

Na ocasião, o deputado Odair Cunha (PT-MG) afirmou: “É importante fazer o registro que a bancada do PT já votou a favor deste acordo na Comissão de Relações Exteriores e nós estamos apenas ratificando a compreensão nossa em torno do conteúdo. Isso aqui não tem nada a ver com o conflito” (CNN). Como não? É um escândalo.

Em 8 de novembro, após a votação, 61 deputados federais, incluindo vários do PT (mas não Odair), divulgaram uma carta que, entre outros pontos, se dirige ao governo para que “não se promulgue os acordos de cooperação militar e de segurança assinados por Bolsonaro com Israel”.

É imprescindível que a bancada do PT no Senado (onde agora será votado o acordo) se porte de forma a tentar impedir o avanço da medida, a qual vai servir para aprofundar a violência policial no Brasil e para financiar a máquina de guerra que dilacera o povo palestino.

Segurança pública treinada por criminosos de guerra Israelenses

É ainda mais imprescindível que o governo Lula pare o andamento deste acordo! Se Lula corretamente caracteriza o que está em curso como um genocídio, como pode seu governo e o PT permitir a continuidade de acordos e comércios ditos de segurança, mas na verdade de guerra?

Suspensão dos acordos comerciais
Nas manifestações, debates, reuniões de comitês que ocorrem em defesa do povo palestino, uma pergunta se repete: por que o governo Lula não adota medidas diplomáticas em relação ao governo de Netanyahu?

É verdade que existem acordos comerciais em curso, e os montantes parecem expressivos: em 2022, a corrente de comércio entre os dois países alcançou o patamar de US$ 4 bilhões. Mas isso representa, na prática, apenas 0,65% do comércio internacional brasileiro, que movimentou 607,7 US$ bilhões, de acordo com o Ministério da Economia.

Há medidas progressivas que o governo brasileiro pode – e tem a responsabilidade – de tomar, começando, por exemplo, por chamar o embaixador do Brasil em Israel a voltar ao território nacional para consultas.

Priscilla Chandretti

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