“Nós temos muita tranquilidade no que está sendo feito. Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que não tô nem aí”. Essa foi a declaração do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), dia 7 de março, ao ser perguntado sobre irregularidades na Operação Verão na Baixada Santista. Ele que vai ser recebido pelo genocida Netanyahu semana que vem em Israel.
Para o povo das periferias não há um minuto de tranquilidade, mas sim de terror, com execuções sumárias, invasões de domicílio e agressões de todo tipo. A chacina já deixou 40 mortos, em uma continuidade da Operação Escudo de 2023 (ver OT 928).
O deboche de Tarcísio deu-se após questionamento sobre denúncia de que os corpos de mortos pela PM são levados como vivos a hospitais para evitar perícia. E em pelo menos três enterros de vítimas, PMs foram filmados acompanhando os funerais, com fuzis no entorno e dentro do cemitério. E a intimidação não parou por aí: familiares e amigos foram revistados ao sair da cerimônia. “Ele não é ser humano? Não pode ter um enterro digno? Os policiais estiveram no enterro e ainda queriam revistar todo mundo. Eles obrigavam as pessoas a levantar a blusa para ver se estavam com arma. Ficaram lá, como se estivessem fazendo escolta. Pedi: ‘Pelo amor de Deus, respeita o luto da família’. Mas os policiais não respeitaram”, relatou um familiar. A Operação não tem previsão para terminar.
Mais espaço para a Rota e bolsonaristas no comando da PM
Consonante à continuidade do morticínio, Tarcísio e o secretário de segurança Guilherme Derrite anunciaram no fim de fevereiro, a troca de 34 dos 63 coronéis do comando da PM paulista. As substituições na cúpula da PM ocorreram às vésperas do ato convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista (25 de fevereiro), no qual o governo do estado e a PM jogaram peso: Tarcísio e o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB) posaram ao lado de Bolsonaro durante todo o evento.
Nas escolhas, o governo privilegiou ex-integrantes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), da qual o próprio Derrite já fez parte. A Rota foi criada na ditadura como uma força especial de repressão e foi, de fato, a institucionalização do “esquadrão da morte”, que constituía uma organização paramilitar que perseguia e matava opositores da ditadura. Entre os agraciados estão defensores explícitos do bolsonarismo e da chacina em curso e entre os rebaixados, estão aqueles que são críticos às operações na Baixada Santista, como era o caso do número dois da corporação: José Alexander de Albuquerque Freixo.
Nos 60 anos do golpe militar de 1964, no 1º de abril próximo, essa será mais uma questão colocada. Dentre as malditas heranças da ditadura estão as PMs com estrutura militarizada. A desmilitarização das polícias é necessária para o povo preto, pobre, para a juventude, pois a espinha dorsal dessa estrutura é que os policiais são treinados como se fossem parte de um exército, com métodos de guerra, na qual, sabemos bem, o inimigo é o povo. E patrocinar a ascensão de setores da PM ligados a grupos de extermínio, como faz Tarcísio, demonstra a tentativa de uma escalada ainda maior no terror da população que o governador tripudia.
Carlos Garcia