Passados sete meses do início da explosão social no Chile, ela continua latente e pode rebrotar a qualquer momento.
Em diferentes comunas (subprefeituras) de Santiago e em várias regiões do país, voltaram a ocorrer, desde 18 de maio, protestos contra a pouca ou nenhuma ajuda recebida pelos mais pobres neste período de pandemia.
No domingo, 17 de maio, em cadeia nacional, o presidente Piñera anunciou uma ajuda de dois milhões de cestas básicas de alimentos e artigos de saúde, mas sem dizer quando e como seriam entregues ao povo. Situação a qual levou muita gente a aglomerar-se diante das sedes das comunas, especialmente nas mais pobres.
Na comuna de El Bosque começou um protesto pela morte de alguns idosos, que foi crescendo e desaguou numa manifestação de massa durante todo o dia 18. As principais exigências eram alimentos e emprego, mais fortes que o temor ao contágio da Covid-19.
O contraste entre a escassa ajuda aos setores necessitados e o grande apoio dado pelo governo às grandes empresas e seu gasto milionário para equipar as forças de repressão acumulou raiva no povo, o qual partiu para o enfrentamento com os Carabineiros policia e as Forças Armadas, obrigando-os a recuar e manter distância dos manifestantes. Situação que também ocorreu em outras localidades, provocando temor no governo de uma propagação em cadeia dessas manifestações.
Piñera reconheceu ter cometido erros, tratando de esfriar a situação, mas, os questionados ministro da Saúde, Mañalich, e o general dos Carabineiros, Rozas, continuam em seus cargos.
Novo pacto social?
Nessa situação, partidos políticos, inclusive da oposição institucional, como o PS, falam em “pacto social” diante da crise sanitária, econômica e social. Setores da direita, por seu lado, falam em anular o plebiscito sobre a Constituinte de outubro próximo.
Enquanto isso, não há orçamento para ajudar os mais necessitados, nem vontade política para solucionar o drama das aposentadorias.
Assim, o simples fato do Senado ter declarado admissível a iniciativa da Coordenação Nacional “No + AFP” propondo a anulação do Decreto Lei 3500, imposto pela ditadura Pinochet em 1980 para criar o sistema dos fundos de pensão privados (as AFP), dá um alento à luta por uma seguridade pública e universal, que foi aliás, um dos elementos que concorreram para a explosão social de outubro de 2019, a mesma que hoje reaparece nos protestos populares contra a fome em plena pandemia.