Chile: a luta para reconquistar uma Previdência Pública e Solidária

Entrevista de Javier Armando Marquez Gomes, dirigente da Confederação dos sindicatos do setor bancário e similares (CSTEBA), publicada no jornal “Informações Operárias” do Partido Operário Independente (POI) da França. Nela o sindicalista explica como vê a relação entre a luta que levam no Chile para reconquistar uma Previdência Pública e Solidária (a Previdência foi privatizada durante a ditadura de Pinochet), e a preparação da 9ª Conferência Mundial Aberta (8,9 e 10 de Dezembro em Argel, Argélia.

Como é vista em seu país a ofensiva atual do imperialismo contra a soberania nacional da Venezuela?

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o imperialismo estadunidense foi obrigado, no último período, a ceder uma parte de suas posições na América latina. Hoje a sua liderança sofre igualmente um revés no mundo todo, em particular pelo forte impulso da China. Em matéria de comércio, por exemplo, o tema dos tratados de livre comércio tem provocado fortes perturbações. Vimos isso no Chile, quando nossa própria presidente (1) se pôs a defendê-los desesperadamente. Ou seja, ela se pôs a defender o indefensável.

Tudo indica que o objetivo dos Estados Unidos, em particular da política de Trump, seja de tentar retomar as posições perdidas e, evidentemente, fazê-lo através da Venezuela. Os interesses sobre a Venezuela são enormes e múltiplos, quanto mais não seja por causa do petróleo. É uma porta de entrada para assegurar a hegemonia estadunidense na América latina.

Do ponto de vista do movimento operário, o Equador, a Venezuela, a Bolívia, a Argentina, o Brasil, foram pontos de apoio. Infelizmente, a situação hoje não é mais a mesma. No Chile, nós víamos nesses países uma perspectiva, uma abertura… sobretudo na Venezuela. Hoje vemos com horror que os horizontes se escurecem, que as coisas podem sempre ficar piores do que já estão. Nós ouvimos as declarações de Trump, elas são autênticas declarações de guerra. Isso será terrível, não só para a Venezuela, mas para a América latina e para o mundo inteiro. Esse processo nos preocupa profundamente.

Mas não há nenhuma hesitação dos movimentos de esquerda no Chile. A unidade está longe de ser realizada a respeito de inúmeras questões, mas não sobre esta que é a defesa da Venezuela. De uma maneira ou de outra, a mobilização foi organizada. Por outro lado, a mão do imperialismo é muito poderosa.

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Estão em curso no Chile mobilizações muito importantes contra os fundos de pensão – conhecidas pela plataforma “No Más AFP” – nas quais a sua federação joga um papel fundamental. Qual a próxima etapa desse combate?

Nós estamos agora em período pré-eleitoral intenso, já que as eleições presidencial, gerais e regionais serão em novembro. Nesse quadro, nós decidimos, por acordo no quadro da coordenação nacional (2), que a luta contra os fundos de pensão não deveria se diluir por causa das eleições. Por isso nos dirigimos a todos os candidatos para que eles se pronunciassem sobre o assunto. Os da direita, os da esquerda e inclusive o da Frente ampla – que em determinado momento assumiu a nossa proposta alternativa por um sistema de seguridade social solidário por repartição, mas que infelizmente ficou marginalizada nas primarias e também foi fortemente atacada por setores de direita e pelos representantes do patronato. Ataques que não são, aliás, sobre o fundo, pois nós fizemos a demonstração em nossa proposta alternativa que o sistema por repartição seria viável até, pelo menos, 2100… Nós conseguimos ampliar o combate para que ele seja nacional e popular.

A Coordenação da campanha organiza também para o fim de setembro, durante três dias, um plebiscito popular. Duas questões serão colocadas:

Você quer o sistema de fundos de pensão obrigatórios AFP? Ou,

Você quer um sistema solidário e por repartição?

O colégio dos professores do Chile aceitou colocar à disposição seus locais, em todo o país, e também as sedes de sindicatos que participam da Coordenação. Nós esperamos uma grande participação, será uma maneira de prosseguir nossa mobilização, depois das grandes manifestações do ano passado e deste ano.

Pode-se dizer que esse combate é decisivo, inclusive sobre o terreno da luta contra os interesses imperialista?

As coisas estão ligadas. Em relação ao sistema de pensão no Chile, nós estamos perfeitamente conscientes de que os interesses em jogo são enormes, pois na realidade os grandes capitalistas, tanto nacionais quanto internacionais, se alimentam desses fundos aos quais os trabalhadores são obrigados a pagar. São fundos decisivos para o autofinanciamento do capital, eles permitem dispor de dinheiro novo. Nós estamos convictos de que esses capitais servem para alimentar os mercados de armamentos e da guerra. E nós sabemos que essa situação não é específica do Chile. Ocorrem lutas contra sistemas similares na Argentina, Brasil e em todo o mundo. É exatamente nesse contexto que nós respondemos ao apelo a participar da 9ª Conferência Mundial Aberta do AcIT, em Argel, pois é a luta contra o imperialismo e a luta contra a guerra que estão no centro do nosso objetivo, dos povos e da classe operária. O combate se leva a nível nacional, mas também, sem nenhuma dúvida, sobre o terreno internacional.

  • A socialista Michelle Bachelet foi reeleita para um segundo mandato – não consecutivo ao primeiro – em março de 2014, por 4 anos (NDT)
  • Chamada a Coordenadora nacional dos trabalhadores “Abaixo as AFP!” (CNT) constituída desde 2013 (NDT)

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