No Brasil, o dirigente palestino Salah Salah discute a luta contra o imperialismo e o Estado de Israel
Diante da crescente opressão do Estado de Israel, a juventude palestina tem dado uma resposta, ao iniciar há dois anos uma nova Intifada (“levante”), como em 1987 e em 2000. Assim, o veterano dirigente Salah Salah, membro do Conselho Nacional Palestino e integrante da coordenação do Acordo Internacional dos Trabalhadores (AcIT), apresentou, em reunião no Brasil, a luta de seu povo.
Salah explicou: “Há uma nova Intifada, na qual a maioria dos participantes é jovem. E a resposta que a Intifada deu é: tentamos de tudo para ter um acordo de paz, mas ele não deu certo. A única possibilidade que temos é lutar pelos direitos do povo palestino. Essa é a nossa forma de resistir”.
A reunião foi realizada em 15 de julho, na sede nacional do PT, em São Paulo, promovida pelo Diálogo e Ação Petista. A mesa, dirigida por Julio Turra, contou também com a presença de Khadija El Husaini, dirigente da Liga em Defesa dos Direitos das Mulheres do Líbano.
Ao responder a perguntas do plenário, Salah agregou: “Quando a liderança perde a sua capacidade de agir, a juventude se levanta e toma a iniciativa. O que há de comum nas três Intifadas é que a juventude assume o papel de liderança. A primeira mensagem que estão mandando não é para Israel, mas para suas próprias direções. Dizem: acabou essa negociação sem fim”.
Salah fez um balanço dos Acordos de Oslo (1993-1995), firmados entre o Estado de Israel e a OLP, sob mediação dos EUA. Ele afirmou que “o processo de paz a partir dos Acordos de Oslo chegou a um beco sem saída”. Citou várias iniciativas tomadas nos últimos anos, pretensamente para fazer avançar as negociações, que não deram resultado. Para ele, o caos criado pelo imperialismo no Oriente Médio beneficia os interesses do governo sionista: “Nessa situação complicada para os países árabes, Israel pode impor suas condições”. E acrescentou: “Por isso, Israel está feliz com o que houve na região. E é obvio o apoio que dá ao Estado Islâmico”.
Um único Estado
Salah explicitou a sua posição sobre uma saída para o conflito: “Defendo uma solução democrática, a criação de um Estado democrático em toda a Palestina, onde poderíamos viver todos juntos num Estado único, em iguais condições. Sem nenhuma diferenciação baseada em raça, religião ou etnia”, permitindo o direito ao retorno dos palestinos expulsos com a criação do Estado de Israel.
Khadije trouxe para o debate questões relativas à situação das mulheres diante dos conflitos: “Existem guerras em toda a região: Síria, Iraque, Líbia etc. O Líbano sofre os efeitos da guerra. E as primeiras vítimas desses conflitos armados são as mulheres, que sofrem violência, agressões sexuais”.
A reunião aprovou uma moção de solidariedade ao povo palestino e em repúdio ao governo golpista brasileiro, que votou na ONU a favor de Israel, além de rever a proposta do governo de Dilma Rousseff de receber 100 mil refugiados sírios. Na reunião foi informado que Salah Salah e Khadije, acompanhados por Markus Sokol, encontraram-se com a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, que se dispôs a uma delegação de organizações, como o PT, a CUT e o MST, para visitar campos de refugiados no Líbano.
Cláudio Soares
Artigo publicado na edição nº 790 do jornal O Trabalho de 21 de julho de 2016.