Em 22 de fevereiro a unidade da Ford de Taubaté (SP) retomou a produção com uma parcela de seus 830 funcionários em acordo com o Sindmetau (CUT). No mesmo dia o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) manteve liminar que proíbe a multinacional de demitir em massa, obrigando-a a pagar salários e licenças, proibindo a venda de bens e maquinário da fábrica, até que se concluam as negociações com o sindicato.
Também em Camaçari (BA), os trabalhadores começaram a voltar ao trabalho de forma escalonada desde o dia 22. O presidente do sindicato (CTB), Júlio Bonfim, fala numa “trégua” para nova negociação sobre indenizações. Cinco empresas fornecedoras da Ford já fecharam e demitiram todos os seus trabalhadores na região.
Os sindicatos conseguiram assim suspender momentaneamente as demissões. Mas a decisão da Ford fechar suas três unidades no Brasil – além das citadas, a de Horizonte (CE) – está mantida e as demissões na cadeia produtiva podem chegar a 120 mil postos de trabalho.
A saída da Ford do Brasil anuncia a de outras montadoras, como a GM, que decidiu acabar com a produção de veículos a combustão até 2035 e abriu PDV (plano de demissão voluntária) nas suas unidades de São Caetano do Sul, São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS). A Audi (marca da VW) anunciou suspensão de atividades em São José dos Pinhais (PR), alegando dividas que o governo teria com ela no programa InovaCar.
O que está em curso é um processo mundial de reestruturação das montadoras para produzir carros elétricos, anterior à pandemia e que hoje a utiliza como pretexto para fechar fábricas. Para defender os empregos e a manutenção da produção no Brasil, portanto, se exigem medidas muito mais amplas e políticas.
Nacionalizar a Ford como empresa pública
A CNM-CUT abriu a discussão sobre a nacionalização da Ford. Uma audiência pública na Câmara dos Deputados em 27 de janeiro, entretanto, não avançou na proposta de um Projeto de Lei neste sentido, limitando-se a propor uma comissão parlamentar para discutir a desindustrialização.
Em 5 de fevereiro a plenária do Conselho Nacional dos Direitos Humanos discutiu o caso da Ford. O dirigente metalúrgico do ABC Aroaldo Oliveira disse na ocasião que a Ford “deve para o Estado brasileiro, teve isenção fiscal, teve um regime tributário diferente no Nordeste, tem empréstimos ativos junto ao BNDES. Quando um cidadão comum deve ao Estado, a União cobra essa pessoa e pega os bens para quitar a dívida, então nada mais justo do que ter essa iniciativa com a pessoa jurídica”. O Conselho aprovou recomendar um projeto de lei de nacionalização da Ford ao Congresso.
Mas a discussão de que nacionalizar é encampar a Ford pelo poder público, como sugere a fala de Aroaldo, aparece misturada com a ideia de “autogestão dos trabalhadores”, na forma de cooperativa, o que a experiência já demonstrou ser uma falsa solução. É preciso cobrar do poder público a encampação da Ford, como uma empresa estatal, única forma de garantir os empregos e direitos dos trabalhadores e assegurar a continuidade da produção.
Julio Turra