Neste ano, que começou com a retomada de mobilizações e greves por aumento de salários, sobretudo no setor público, mas também em empresas privadas, diante da contínua alta de preços e perdas salariais acumuladas, a executiva nacional da CUT faz sua primeira reunião (virtual) em 24 de fevereiro.
Entretanto, o Fórum das Centrais esteve bastante ativo nesse início de ano, adotando notas públicas, como sobre o tema da reforma trabalhista e iniciativas. Uma delas é a da realização de uma “Conclat” – conferência nacional da classe trabalhadora – em 7 de abril. Sua convocatória, assinada por dirigentes de dez centrais (7/2), indica que ela se dará no “formato híbrido (presencial e virtual) em São Paulo e nela será lançada a Pauta da Classe Trabalhadora 2022 (em elaboração)”. Pauta que será “entregue aos candidatos/as à Presidência da República e ao Congresso Nacional”.
O título deste artigo reproduz a reação de um membro da executiva nacional da CUT, ao saber desse novo “prato feito” do Fórum das Centrais, e ele tem razão: Conclat só teve uma, aquela que em 1981 decidiu a fundação da CUT, com delegados eleitos em todo o país.
A “nova” Conclat, que é o termo usado pela Força Sindical em seu site e também pela CTB, que vai além, dizendo ser a “3ª Conclat” (a 2ª teria sido o ato de centrais feito no Pacaembu em junho de 2010), são, na verdade, manipulações da história a serviço de uma política de “consenso permanente” entre cúpulas de centrais, como se elas fossem a “direção do movimento sindical”.
E o protagonismo da CUT?
Na última plenária nacional da CUT (outubro 2021) se aprovou a elaboração de uma plataforma da central para incidir, a partir das reivindicações da classe trabalhadora, no debate eleitoral deste ano, em particular em direção à candidatura de Lula, que tem na base cutista um importante ponto de apoio, como todos sabemos.
Mas a luta concreta por salários, em defesa de direitos e conquistas, contra os ataques do governo Bolsonaro, não pode esperar até outubro, ela é agora e precisa da presença ativa dos sindicatos. Estão aí as lutas por aumento emergencial de salários no setor público, contra as privatizações, as campanhas salariais do período.
A responsabilidade da CUT é a de impulsionar essas lutas, que inclusive são o melhor terreno para o “Fora Bolsonaro” e alimentam o debate eleitoral. Para cumprir esse papel, a CUT não pode diluir-se no Fórum das Centrais e contentar-se com uma “pauta unitária” voltada para o que o próximo governo deve fazer em 2023.
O que não quer dizer que a CUT não deva ter a sua própria plataforma para as eleições e que a agite de forma independente. Afinal, a “Conclat” de 7 de abril não é uma conferência deliberativa com delegações eleitas, muito menos vai criar uma nova “super central”, mas apenas um ato para selar um consenso obtido entre as cúpulas.
É preciso que a CUT retome o seu protagonismo na luta de classe. O que passa por discutir em suas instâncias as propostas a serem levadas, seja ao Fórum das Centrais, seja aos seus parceiros do movimento popular. E não o inverso, como vem ocorrendo.
Julio Turra