Em reunião do G20, ministros das finanças (dos 20 países mais ricos), debateram os possíveis riscos do Coronavírus. O FMI tem feito discursos procurando minimizar o impacto da epidemia, alegando que ela “reduziria o crescimento econômico global em apenas 0,1% neste ano”.
Na China, o número de casos aproxima-se dos 100 mil, incluindo mais de 2,5 mil mortes (e 24 mil curas). Lá, as autoridades seguem declarando que o esforço “progressivo na contenção da epidemia tem sido positivo” – também minimizando o impacto nas metas de crescimento econômico. Mas o país permanece com boa parte de sua capacidade produtiva inoperante, com várias cidades em quarentena e ramos econômicos paralisados pelo medo da epidemia e pelas restrições governamentais. Nas áreas industriais, as fábricas estão reabrindo gradualmente, embora siga existindo receio de contaminação nas linhas de produção. Numa pesquisa, 2/3 das pequenas e médias empresas chinesas afirmaram terem caixa apenas para não mais de 2 meses de operação.
E os surtos de infecções estão aumentando rapidamente em outros países, com mais de 2 mil casos (e dezenas de mortes) já somados ao todo apenas na Coréia do Sul, Japão, Irã e Itália.
Pelo lugar central da China e de seus vizinhos nas cadeias de produção mundial, o impacto pode ser ainda maior. Por exemplo, a montadora britânica Jaguar-Land Rover (JLR), alertou que em 3 semanas começará a ter problemas no fluxo de peças” produzidas nas plantas chinesas.
A Apple (computadores) e Xiaomi anunciam uma quebra em seus resultados financeiros deste trimestre “devido ao Coronavírus”. Já o transporte aéreo global terá uma contração prevista de 0,6%.
A epidemia, enfim, soma-se a outros fatores já existentes (guerra comercial, redução do crescimento etc.) na criação de um ambiente de crise da economia capitalista internacional que pode levar a quebradeiras piores do que a crise de 2008. As fortes baixas nas bolsas internacionais (com impacto no preço do dólar no Brasil) são um sinal disso.
Alberto Handfas
Brasil: cortes no SUS comprometem o tratamento
A chegada do Coronavírus ao Brasil se somará a gripes e pneumonias que já matam por ano mais de 80 mil pessoas. Isso numa situação em que o SUS já trabalha além do limite, sobrecarregado e com uma falta de recursos que deve ser agravada com a diminuição do orçamento da saúde: as verbas previstas para 2020 são de R$ 136 bilhões. R$12 bi a menos do que em 2019. Em muitos estados e municípios a situação de hospitais e postos de saúde já é falimentar.
A crise econômica e a redução de políticas sociais enfraqueceram o sistema de saúde e a vigilância de doenças. A situação pode piorar se houver uma sobreposição de epidemias. Em SP, por exemplo, já há um aumento de casos de dengue neste ano.
O país sequer tem um laboratório de proteção de nível 4 [nos EUA existem oito deles]. Isso significa que não há nenhum lugar no Brasil capaz de cultivar o Coronavírus para desenvolver uma vacina a partir do vírus.
Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica: “só existe segurança sanitária verdadeira em sistemas de saúde capazes de oferecer acesso universal à saúde”. Ninguém pode se considerar seguro em relação às doenças infecciosas se depender apenas das condições financeiras individuais, sobretudo diante de crises econômicas. A decadência dos sistemas universais de saúde e o avanço do mercado de seguros são hoje, juntamente com o descalabro da falta de confiança na ciência e a desinformação, a maior ameaça à segurança da saúde global.”