14 de abril 2025
Os anúncios de Trump sobre as tarifas aduaneiras testemunham, antes de tudo, a crise generalizada do capitalismo mundial, em particular de seu eixo, o imperialismo dos EUA.

O sistema da propriedade privada dos meios de produção está asfixiado. Ele não encontra outras soluções, em todos os continentes e em todos os países, que não seja atacar os direitos e garantias dos trabalhadores e a soberania das nações, provocando a guerra na Ucrânia, o genocídio na Palestina e numerosos conflitos na África, Oriente Médio e Ásia. Para o presidente do Conselho dos assessores econômicos da Casa Branca: “o comércio e a defesa estão ligados de forma indissolúvel. (O comércio mundial, principalmente o feito em dólares) só pode prosperar graças ao poderio militar americano que garante nossa estabilidade financeira e a credibilidade de nossos empréstimos”. Constatemos que, no mesmo momento em que Trump toma essas decisões de ordem “econômica”, provocando um verdadeiro abalo mundial, ele dá um apoio total a B. Netanyahu que massacra o povo palestino e que se pretende ser o garantidor da ordem em toda essa região do mundo.


É nessa situação, para tentar desesperadamente superar a crise do capital estadunidense, que Trump desencadeia essa guerra em escala mundial.
“As tarifas aduaneiras constituem o choque político mais importante para o sistema comercial mundial desde que Richard Nixon explodiu (os acordos de) Bretton Woods em 1971”, Wall Street Journal
A desconexão do dólar e do ouro em 1971 feita pelo presidente Richard Nixon não só fez do dólar a moeda de reserva mundial e de referência para o comércio internacional; ela permitiu uma superprodução maciça de dólares impressos pelo Tesouro e uma sobrevalorização que reduziu suas exportações e criou um déficit financeiro e comercial abissal. O secretário do Tesouro dos EUA havia declarado então: “o dólar é nossa moeda e é vosso problema”. Cinquenta e cinco anos depois o The Times escreve: “o ‘privilégio exorbitante’ da moeda de reserva mundial é agora qualificado de ‘fardo exorbitante’ pela equipe presidencial”.


A decisão de Trump exprime brutalmente o que tentaram fazer os precedentes governos dos EUA sem o conseguir completamente. Trata-se para Trump hoje fazer que todo o planeta pague o gigantesco déficit estadunidense através das tarifas aduaneiras, a supressão das barreiras à penetração das suas mercadorias, a compra de armas dos EUA, a relocalização das fábricas no país ou ainda, como escreveu a Casa Branca, “a emissão de cheques para o Tesouro dos EUA”. Trata-se da pilhagem e confiscação das riquezas das nações pelo imperialismo estadunidense, em escala mundial.
Tudo isso para financiar as forças armadas dos EUA e a manutenção do dólar como moeda de reserva mundial. O imperialismo dominante concentra todas as contradições do sistema capitalista mundial e decide agora jogar essa crise sobre o conjunto dos países, a começar pela China. Para o representante dos EUA para o Comércio, Jamieson Greer:
“O sistema comercial mundial dos últimos 70 anos pode ser que estivesse adaptado à época, mas ele fracassou após uma ou duas décadas nos Estados Unidos. Enquanto isso a China se tornou a grande ganhadora do sistema comercial, é preciso mudá-lo”, entrevista à Fox Business
A burocracia chinesa reagiu rapidamente e de forma firme à escalada de tarifas impostas pelos EUA, porque é a própria existência do Estado chinês que está em questão, e não uma simples concorrência econômica no mercado mundial. As burguesias europeias, imprensadas pela pressão do imperialismo dos EUA e o medo de que se produzam mobilizações operárias e populares contra as demissões, ligadas às tarifas, e os cortes nos orçamentos sociais exigidos pelo imperialismo estadunidense em nome do esforço de rearmamento, estão atordoadas.
Reunidos em 9 de abril numa cúpula continental em Honduras, 33 governos da América Latina e Caribe não adotaram qualquer medida prática comum para se opor às medidas unilaterais de Trump, quando eles levam ao estrangulamento orçamentário e à desertificação de regiões inteiras.
Ao engajar uma guerra comercial planetária, reforçando o caráter autoritário do poder no interior mesmo dos Estados Unidos, ao travar a guerra contra os imigrantes, os refugiados e o próprio povo estadunidense, ao impor multas de 1000 dólares por dia a milhões de imigrantes e refugiados ameaçados de expulsão e que não abandonem o país, o imperialismo prepara a guerra. O mercado mundial é demasiado estreito. Para poder seguir de pé, agora que são rejeitados e questionados, para salvar o seu sistema da falência e assegurar os seus lucros ainda mais colossais, para explorar e pilhar ainda mais, os dirigentes do capital financeiro estão prontos a mergulhar os povos e nações na guerra, a colocar em questão a soberania duramente arrancada pelas nações oprimidas. A economia de armamento, principal força motriz do capitalismo mundial, deve rodar a pleno vapor.
Em visita à sede da OTAN em Bruxelas, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, recordou a sua exigência de aumentar os orçamentos militares a 5% do PIB dos Estados membros, nos quais 64% das compras de armas proveem dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo prossegue a carnificina na Ucrânia; a idade para serviço militar obrigatório é constantemente rebaixada. O genocídio da população palestina de Gaza, massacrada pelo exército israelense com a ajuda das bombas dos EUA e confrontada ao bloqueio, sem alimentos, eletricidade e água, se agrava em proporções inéditas. A guerra é a imagem do futuro prometido aos povos pelo sistema capitalista em crise.


Não existe super-imperialismo, nem nos Estados Unidos, nem em outro lugar. O silêncio constrangido ou as declarações dos principais dirigentes do movimento operário que chamam, abertamente ou com meias palavras, a aumentar as despesas militares sem cortar nos orçamentos sociais, em nome da defesa dos interesses nacionais, soam como um alinhamento com os governos que fomentam a guerra e que pedem a união nacional. Eles vão se chocar inevitavelmente aos 100 mil manifestantes que desfilaram em Roma em 5 de abril para exigir “dinheiros para os hospitais, e não para mísseis” ; aos milhões de estadunidenses que saíram às ruas no mesmo dia, 100 mil em Washington e outro tanto em Nova York, para se opor ao governo Trump ; à juventude e os dezenas de milhares de sérvios que se organizam em assembleias populares ; ao milhão de marroquinos que se manifestaram em 6 de abril em Rabat aos gritos de “chega de guerras” e às centenas de milhares que se manifestam há meses na Inglaterra, no Iêmen e nos quatro continentes para se opor ao genocídio do povo palestino.
Mais que nunca ajudemos a reagrupar as forças em cada país e em escala internacional para ganhar as ruas no 1º de Maio nas condições próprias de cada país:
- Ruptura com o imperialismo e os governos que fazem a guerra!
- Cessar fogo na Palestina!
- Embargo sobre as armas!
- Nem Otan, nem Putin, nem Trump!
- Dinheiro para salários, hospitais, escolas e infraestruturas públicas, não para a guerra!