Declaração do Secretariado internacional da 4ª Internacional

14 de abril 2025

Os anúncios de Trump sobre as tarifas aduaneiras testemunham, antes de tudo, a crise generalizada do capitalismo mundial, em particular de seu eixo, o imperialismo dos EUA.

Trump descreve o aumento de tarifas do lado de fora da Casa Branca em 2 de abril

O sistema da propriedade privada dos meios de produção está asfixiado. Ele não encontra outras soluções, em todos os continentes e em todos os países, que não seja atacar os direitos e garantias dos trabalhadores e a soberania das nações, provocando a guerra na Ucrânia, o genocídio na Palestina e numerosos conflitos na África, Oriente Médio e Ásia. Para o presidente do Conselho dos assessores econômicos da Casa Branca: “o comércio e a defesa estão ligados de forma indissolúvel. (O comércio mundial, principalmente o feito em dólares) só pode prosperar graças ao poderio militar americano que garante nossa estabilidade financeira e a credibilidade de nossos empréstimos”. Constatemos que, no mesmo momento em que Trump toma essas decisões de ordem “econômica”, provocando um verdadeiro abalo mundial, ele dá um apoio total a B. Netanyahu que massacra o povo palestino e que se pretende ser o garantidor da ordem em toda essa região do mundo.

Protestos em massa “Hands Off” nos Estados Unidos em 2 de abril, em Chicago. Os manifestantes ligaram o ataque às conquistas dos trabalhadores americanos à guerra em Gaza: “Dinheiro para as pessoas, não para as guerras”

É nessa situação, para tentar desesperadamente superar a crise do capital estadunidense, que Trump desencadeia essa guerra em escala mundial.

A desconexão do dólar e do ouro em 1971 feita pelo presidente Richard Nixon não só fez do dólar a moeda de reserva mundial e de referência para o comércio internacional; ela permitiu uma superprodução maciça de dólares impressos pelo Tesouro e uma sobrevalorização que reduziu suas exportações e criou um déficit financeiro e comercial abissal. O secretário do Tesouro dos EUA havia declarado então: “o dólar é nossa moeda e é vosso problema”. Cinquenta e cinco anos depois o The Times escreve: “o ‘privilégio exorbitante’ da moeda de reserva mundial é agora qualificado de ‘fardo exorbitante’ pela equipe presidencial”.

Centenas de milhares de pessoas se manifestaram na França em 22 de março, aqui na Place de la République, em Paris, com Deputados da França Insubmissa

A decisão de Trump exprime brutalmente o que tentaram fazer os precedentes governos dos EUA sem o conseguir completamente. Trata-se para Trump hoje fazer que todo o planeta pague o gigantesco déficit estadunidense através das tarifas aduaneiras, a supressão das barreiras à penetração das suas mercadorias, a compra de armas dos EUA, a relocalização das fábricas no país ou ainda, como escreveu a Casa Branca,  “a emissão de cheques para o Tesouro dos EUA”. Trata-se da pilhagem e confiscação das riquezas das nações pelo imperialismo estadunidense, em escala mundial.

Tudo isso para financiar as forças armadas dos EUA e a manutenção do dólar como moeda de reserva mundial. O imperialismo dominante concentra todas as contradições do sistema capitalista mundial e decide agora jogar essa crise sobre o conjunto dos países, a começar pela China. Para o representante dos EUA para o Comércio, Jamieson Greer:

A burocracia chinesa reagiu rapidamente e de forma firme à escalada de tarifas impostas pelos EUA, porque é a própria existência do Estado chinês que está em questão, e não uma simples concorrência econômica no mercado mundial. As burguesias europeias, imprensadas pela pressão do imperialismo dos EUA e o medo de que se produzam mobilizações operárias e populares contra as demissões, ligadas às tarifas, e os cortes nos orçamentos sociais exigidos pelo imperialismo estadunidense em nome do esforço de rearmamento, estão atordoadas.

Reunidos em 9 de abril numa cúpula continental em Honduras, 33 governos da América Latina e Caribe não adotaram qualquer medida prática comum para se opor às medidas unilaterais de Trump, quando eles levam ao estrangulamento orçamentário e à desertificação de regiões inteiras.

Ao engajar uma guerra comercial planetária, reforçando o caráter autoritário do poder no interior mesmo dos Estados Unidos, ao travar a guerra contra os imigrantes, os refugiados e o próprio povo estadunidense, ao impor multas de 1000 dólares por dia a milhões de imigrantes e refugiados ameaçados de expulsão e que não abandonem o país, o imperialismo prepara a guerra. O mercado mundial é demasiado estreito. Para poder seguir de pé, agora que são rejeitados e questionados, para salvar o seu sistema da falência e assegurar os seus lucros ainda mais colossais, para explorar e pilhar ainda mais, os dirigentes do capital financeiro estão prontos a mergulhar os povos e nações na guerra, a colocar em questão a soberania duramente arrancada pelas nações oprimidas. A economia de armamento, principal força motriz do capitalismo mundial, deve rodar a pleno vapor.  

Em visita à sede da OTAN em Bruxelas, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, recordou a sua exigência de aumentar os orçamentos militares a 5% do PIB dos Estados membros, nos quais 64% das compras de armas proveem dos Estados Unidos.  Ao mesmo tempo prossegue a carnificina na Ucrânia; a idade para serviço militar obrigatório é constantemente rebaixada. O genocídio da população palestina de Gaza, massacrada pelo exército israelense com a ajuda das bombas dos EUA e confrontada ao bloqueio, sem alimentos, eletricidade e água, se agrava em proporções inéditas. A guerra é a imagem do futuro prometido aos povos pelo sistema capitalista em crise.

50.000 pessoas marcharam em Milão, Itália, em 12 de abril, para dizer não ao genocídio em Gaza, por um cessar-fogo e contra o fornecimento de armas

Não existe super-imperialismo, nem nos Estados Unidos, nem em outro lugar. O silêncio constrangido ou as declarações dos principais dirigentes do movimento operário que chamam, abertamente ou com meias palavras, a aumentar as despesas militares sem cortar nos orçamentos sociais, em nome da defesa dos interesses nacionais, soam como um alinhamento com os governos que fomentam a guerra e que pedem a união nacional. Eles vão se chocar inevitavelmente aos 100 mil manifestantes que desfilaram em Roma em 5 de abril para exigir “dinheiros para os hospitais, e não para mísseis” ; aos milhões de estadunidenses que saíram às ruas no mesmo dia, 100 mil em Washington e outro tanto em Nova York, para se opor ao governo Trump ; à juventude e os dezenas de milhares de sérvios que se organizam em assembleias populares ; ao milhão de marroquinos que se manifestaram em 6 de abril em Rabat aos gritos de “chega de guerras” e às centenas de milhares que se manifestam há meses na Inglaterra, no Iêmen e nos quatro continentes para se opor ao genocídio do povo palestino.

Mais que nunca ajudemos a reagrupar as forças em cada país e em escala internacional para ganhar as ruas no 1º de Maio nas condições próprias de cada país:

  • Ruptura com o imperialismo e os governos que fazem a guerra!
  • Cessar fogo na Palestina!
  • Embargo sobre as armas!
  • Nem Otan, nem Putin, nem Trump!
  • Dinheiro para salários, hospitais, escolas e infraestruturas públicas, não para a guerra!

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