O Tribunal Federal da 4a Região confirmou a condenação de Lula e ampliou a sentença de prisão para 12 anos, indicando a disposição de tirar Lula da eleição, até prendê-lo, e liquidar o PT. Cármen Lucia, do STF, escolheu um jantar com multinacionais (Shell, Coca-cola etc.) para anunciar que não vai “pautar” a revisão da prisão após condenações em 2a instância.
Lula, contudo, poderá ser candidato – até se estiver preso -, pois só em 15 de agosto, após sua inscrição, começam a correr os prazos legais para impedi-lo nos tribunais superiores, e não terminam antes do 1o turno.
Mas o Judiciário dobrou a aposta para tentar tirar da crise a coalizão golpista, cumprindo o exigido pelo “mercado” com apoio da mídia, a começar da reforma da Previdência. Há, de fato, um agravo na situação.
Tanto que um editorial do Financial Times, ligado ao mercado financeiro, se disse “preocupado” com o “vácuo” que se criaria. De fato, a ofensiva contra os direitos sociais e democráticos, pode empurrar, cedo ou tarde, à uma explosão, sem que o grande capital, de seu ponto de vista, disponha de uma interlocução efetiva.
A vontade de milhões
No dia do julgamento em Porto Alegre, e no dia seguinte principalmente em São Paulo, e também outras capitais mais de 100 mil pessoas em pleno verão saíram em defesa de Lula. Os “coxinhas” eram gatos-pingados.
Certo, os milhões ainda não se mobilizaram. Mas é diferente do impeachment, quando a aprovação de Dilma era cerca de 10% (e os coxinhas eram centenas de milhares). Agora, após o TRF4, segundo o Datafolha, Lula lidera a pesquisa beirando os 40% e vence qualquer adversário no 2o turno. Se impedirem Lula, mais de um terço dos eleitores declara se abster, votar nulo ou branco, algo nunca visto desde a ditadura militar.
Não é fácil, mas é possível mobilizar e impor a vontade popular de milhões, a candidatura de Lula. À condição de evitar as armadilhas.
Lula foi firme ao se recusar a “respeitar a sentença” do TRF4 e apontar o dedo para “as instituições”. A resolução da Executiva do PT confirma o seu nome, aponta os Comitês Populares como instrumento de luta prática pela candidatura, e a Constituinte como meta insubstituível da luta (ver abaixo), passando pela greve contra a reforma da Previdência que deve engajar milhões.
Ao que se deve acrescentar a resistência às conseqüências da reforma trabalhista, aos cortes de verbas, às privatizações e ao obscurantismo, lutando pelos direitos conspurcados e pela soberania nacional.
É por aí o caminho da vitória em outubro.
Não ajuda, atrapalha desviar e arrastar a militância a um processo de “congresso do povo” ao longo do semestre. E não será o complemento de “ações exemplares” de pequenos grupos que derrotará os golpistas ou que mobilizará o povo (ao contrário, isolariam). Mas tampouco se mobilizará o povo com falso realismo do “plano B”, bem-entendido, “B” do PT ou “B” negociado com aliados “muy amigos” – aí se perde o povo.
O caminho são mesmo as lutas de massa, a formação de milhares de Comitês Populares e as Caravanas para a campanha eleitoral antecipada de fato, para impor a candidatura de Lula, ganhar a eleição e garantir a posse.
É o árduo caminho da ação direta da classe trabalhadora, ganhando as amplas massas, sem bravatas, por vezes doloroso, mas que vai desnudando a todo o povo o que são estas instituições, a urgência e os meios para refundá -las.
Markus Sokol