Desfile militar na CPI

Ao depor na CPI da Covid, no dia 10, o tenente-coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida negou-se a responder perguntas que pudessem incriminá-lo. Valeu-se de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, cujo fechamento ele defendera no site do “instituto” que dirige.

Além de difundir fake news e atacar o uso de máscaras e a aplicação de vacinas, ele é suspeito de participar dos esquemas para lucrar com a compra de vacinas pelo governo. Ou seja, negacionista, sim, mas não rasga dinheiro.

Helcio teria feito a aproximação entre o policial Luiz Paulo Dominghetti, ligado à empresa Davati Medical Supply, e outros militares do Ministério da Saúde, como o coronel Élcio Franco, ligado ao ex-ministro (e general) Eduardo Pazuello. Dominghetti relatara à CPI a oferta do pedido de propina de 1 dólar por vacina oferecida pela empresa.

O tenente-coronel foi para a reserva aos 42 anos, em 2000, e recebe aposentadoria de R$ 23 mil. Privilégio de militar, enquanto o governo de seu chefe promoveu uma contrarreforma da Previdência que fixou a idade mínima para aposentadoria dos trabalhadores homens em 65 anos.

“Lado podre”
São vários os milicos implicados nas negociatas. Roberto Dias, ex-sargento da Aeronáutica e ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, foi o acusado de cobrar a propina de 1 dólar por vacina. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou durante o seu depoimento que ele integra o “lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”. Vestindo a carapuça, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, divulgou nota de protesto contra o “ataque leviano”.

Outro tenente-coronel da reserva do Exército, Marcelo Blanco, teria levado Dominghetti ao jantar com seu ex-chefe no Ministério, Dias, no qual trataram do esquema para faturar com a venda de vacinas.

Quem ocupa o mais alto posto militar entre os investigados pela CPI é Pazuello, general da ativa do Exército. Como ministro da Saúde, caracterizou-se pela falta de ações para conter a Covid-19 e pela tentativa de esconder as informações sobre o número de mortos. É um dos responsáveis diretos pelo genocídio praticado pelo governo.

Parasitas do Estado, as altas patentes das Forças Armadas podem ter tido um presente a mais. Reportagem da revista “Fórum”, com base em dados do Portal da Transparência, indica que vários generais e até oficiais de patente mais baixa teriam sido promovidos a marechais, o que é ilegal. Esse posto só pode ser obtido por generais de quatro estrelas que se destaquem em situações de guerra. O Exército negou as promoções, mas a nomenclatura “marechal” pode servir para garantir pensões superiores a R$ 100 mil mensais para as filhas solteiras dos promovidos.

Cláudio Soares

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