Eleições na Argélia: a Campanha de Louisa Hanoune, candidata pela Segunda República

“Nós defendemos a existência do Estado argelino e sua soberania qualquer que seja sua natureza. Mas nós militamos para mudar sua natureza. É por isso que sou candidata para instaurar a Segunda República, que acabe com os vestígios do regime de partido único”

 

Candidata do PT da Argélia a presidente da República, Louisa Hanoune multiplica os comícios por todo o país visando à eleição presidencial de 17 de abril. A campanha se desenvolve numa situação marcada pelas ameaças que pesam sobre a unidade e a integridade da Argélia.

Repercutindo a pressão do imperialismo dos EUA, a imprensa internacional alimenta rumores sobre uma iminente crise no país que poderia levá-lo a uma explosão.

Na base de Moron (sul da Espanha), os EUA reforçaram seu dispositivo militar capaz de intervir no norte da África, particularmente na Argélia. Louisa  Hanoune tem levantado essa questão.

O jornal argelino “Nation” de 24 de março, ao noticiar o andamento de sua campanha, escreveu: “A candidata, num comício em Skikda, advertiu que a Argélia está em perigo e que essa eleição será diferente das de 2004 e de 2009: ‘O país corre um grande risco, um vasto complô nacional e internacional se desenha contra nós. Não digo isso para lhes meter medo, mas o país está verdadeiramente em perigo’, declarou”. A defesa da independência e da soberania da Argélia traduz-se ainda na recusa a qualquer plano de privatização e no combate à modificação do dispositivo legal que limita em 49% a participação acionária de investidores estrangeiros nas empresas da Argélia.

A candidata do PT pronuncia se também contra as exigências do FMI e pela ruptura dos acordos de associação com a União Europeia e de adesão à Zona Árabe de Livre Comércio.

O jornal “El Watan”, também de 24 de março, registrou que Luisa prometeu “uma ‘reconstrução global’ do país baseada em ‘novas instituições’ e um ‘Estado civil’, e acentuou a questão dos direitos da mulher argelina”. De acordo com a publicação, a candidata “afirmou que trabalhará para instaurar ‘a igualdade entre as mulheres e os homens’ por meio de leis que ‘garantirão os direitos das mulheres, principalmente os direitos sindicais das trabalhadoras’”.

A campanha levanta uma plataforma de reivindicações que abrange, entre outros pontos, a defesa do tamazight como segunda língua oficial do país, a instauração de um imposto sobre o patrimônio, a defesa de conquistas da revolução argelina em matéria de saúde, educação e informação – por meio da reversão das contrarreformas executadas nos últimos anos – e a realização de uma verdadeira reforma agrária.

Sobre a Segunda República, no lançamento de sua candidatura, em fevereiro, Louisa definiu-a como “um Estado democrático em que todos os cidadãos tenham direitos e obrigações iguais”, o que exige, segundo ela, “uma reforma constitucional”. A candidata do PT tem uma proposta para concretizar essa perspectiva: “Proporemos ao povo convocar eleições legislativas antecipadas depois da eleição presidencial, seguida por eleições locais. A soberania popular significa para nós a instalação de uma verdadeira Assembleia Nacional com Câmara única, dotada de prerrogativas que lhe permitam exercer plenamente suas missões dentro do respeito ao mandato. Uma assembleia popular nacional composta de verdadeiros deputados, eleitos pelo povo e revogáveis por ele, que não usarão sua imunidade e seu mandato para enriquecer ou escapar da Justiça”.

Artigo publicado originalmente na edição 746 do jornal O Trabalho.

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