Entrevista com militante francês: “nada será como antes”

Em 4 de fevereiro, Jérôme Legavre, da redação de “Informações Operárias” (órgão do POI) e da delegação permanente do Comitê Nacional de Resistência e Reconquista (CNRR), nos deu a seguinte entrevista.

O Trabalho: A resistência dos trabalhadores franceses continua. Qual o papel dos sindicatos nessa mobilização?

Jérôme: Neste momento é certo que a resistência da classe continua. Os advogados estão em greve há um mês, a greve começou nos docentes do ensino superior, no ensino secundário há duas semanas as escolas estão bloqueadas por estudantes e professores revoltados com as reformas do ministro da Educação. O governo reprime com violência e há uma ebulição permanente.

Mas a greve refluiu e não se generalizou. Durante 50 dias as ferrovias (SNCF) e o metrô de Paris (RATP) foram paralisados pela greve. No ensino, nas refinarias, houve uma batalha encarniçada para somar-se à greve ilimitada. A força da mobilização vinda de baixo obrigou as direções das confederações (CGT e FO em particular) a abraçar o movimento e fincar pé na exigência de retirada da reforma de Macron. Mas, enquanto as assembleias gerais reconduziam a greve todos os dias, as direções das confederações mantinham um dispositivo de “jornadas de ação” repetidas, o que alimentou hesitações na classe operária. A greve não se generalizou e refluiu, responsabilidade direta das direções das confederações. Ao mesmo tempo, toda uma série de militantes combateu pelas assembleias gerais para decidir a greve, para engajar os seus sindicatos nesse terreno. A lição que podemos tirar do que se passa há dois meses é que essa força, esse movimento, precisa se organizar para ultrapassar as direções. Mas, a resistência não se interrompeu, a classe não foi derrotada e existe um sentimento amplo de que nada está resolvido.

OT: Há uma crise política que se acelera. Qual seria a saída para ela?

J: A crise política se agrava. Há uma aversão a Macron e a seu governo. O ministro encarregado da reforma das aposentadorias é pago pelos seguros privados que serão os grandes beneficiários da mesma. A rejeição é enorme. O governo desde já está ferido de morte. As manifestações dos “coletes amarelos” eram marcadas pelos gritos de demissão de Macron. Hoje ele é tomado como alvo. A ideia que se impôs na maioria da classe é que a reforma é uma mudança de sociedade. Uma mudança que a massa dos trabalhadores não quer. Nessa etapa tudo se concentra na exigência de retirada. Para uma ampla massa fazer que Macron se dobre será derrotá-lo. O que abriria uma outra situação onde todas as questões seriam colocadas.

OT : Qual o objetivo da convenção nacional dos Comitês de Resistência e Reconquista convocada para 28 de março?

J: Desde já há uma conquista formidável: milhares de trabalhadores, de militantes, deram um passo à frente para organizar a greve e para estendê-la. Novos militantes, novos « quadros organizadores» surgiram. No plano local eles se conhecem, os trabalhadores os reconhecem. Laços foram criados localmente e nas organizações sindicais. Nas últimas semanas, no quadro dos comitês de resistência e reconquista, milhares de militantes, de jovens, de trabalhadores, reuniram-se no “fogo” da batalha pela greve. Eles trocaram ideias sobre a situação e sobre como agir. Esses laços devem ser reforçados, é preciso passar da escala local para o nível nacional para estruturar uma força política organizada que ajude a classe operária a superar os obstáculos à sua frente.

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