Estados Unidos – Às vésperas das eleições presidenciais

Não está mais nas mãos de Biden do que de Trump resolver a crise

por Devan Sohier

A eleição de Donald Trump, há quatro anos, surpreendeu o mundo. No contexto de uma abstenção massiva, que afetou particularmente o eleitorado democrata, ele ganhou os votos de uma camada de trabalhadores brancos rebaixados, excluídos de empregos bem pagos na indústria americana.

Esse eleitorado foi seduzido pelas promessas de reindustrialização de Trump uma vez que, após a crise de 2008, o emprego industrial nos Estados Unidos havia caído para seu nível mais baixo desde 1941 (1). Para além do desemprego, o emprego industrial, baixo na época da eleição de Trump, e que continuou a diminuir ao longo de seu mandato até a epidemia de Covid, é um indicador importante: trata-se de empregos bem pagos e protegidos por meio de convenções coletivas, ao contrário dos milhões de “bicos” uberizados que foram criados desde 2008.

O jornal econômico frances “Les Echos” de 12 de outubro de 2020 publica uma reportagem sobre a situação de Wisconsin, antigo estado industrial e um dos estados-chave para a vitória de Trump em 2016, onde os anúncios de fechamentos de fábricas se sucedem. A Foxconn, fabricante taiwanesa de peças para informática, recebeu a promessa de mais de 3 bilhões de dólares em subsídios federais em 2017 para construir uma fábrica em Mount Pleasant com 13.000 trabalhadores. Desde então, a Foxconn anunciou que a fábrica vai empregar 1.500 pessoas, a maioria engenheiros e técnicos.

Este é apenas um exemplo, entre outros, da inviabilidade das promessas de Trump. Ainda mais grave para ele, os grandes industriais estadunidenses, em particular do setor automotivo, também continuam fechando fábricas. Enfim, a curva de emprego industrial continuou sua lenta ascensão (2.300.000 empregos perdidos na crise de 2008; 400.000 se recuperaram de 2014 a 2016; 450.000 de 2017 a 2019), até a epidemia, quando atingiu um novo mínimo.

A crise aberta pela Covid é profunda
Apesar dos trilhões de dólares despejados pelo Congresso por meio de leis aprovadas tanto por democratas quanto por republicanos para evitar o colapso da economia dos Estados Unidos, a taxa de desemprego beira os 8%, e até os supera muito, se levarmos em conta o desemprego parcial imposto.

Enquanto a recuperação pós-Covid é lenta, Nancy Pelosi, presidente democrata da Câmara dos Representantes, está negociando com a Casa Branca um pacote de estímulo pré-eleitoral que prevê a liberação de trilhões de dólares para as empresas (Washington Post, 19 de outubro).

No entanto, apesar dos maciços subsídios à aeronáutica, a United Airlines acaba de colocar 13.000 de seus funcionários em licença sem vencimento; a American Airlines licenciou 19.000.

No setor hospitalar, as greves estão aumentando: no condado de Alameda, os grevistas conseguiram o desmantelamento do conselho de administração não eleito de seu hospital, símbolo de sua privatização; o mesmo ocorreu no hospital de San Joaquin, em uma casa de repouso em Michigan … Eles estão exigindo melhores convenções coletivas que lhes permitam cuidar melhor dos pacientes neste período de epidemia.

O súbito fechamento de grandes setores da economia após a Covid é um fator desencadeante da crise. Mas também é um reflexo do caráter ilusório das promessas de Trump: apesar da guerra comercial, o déficit comercial com a China foi de 345 bilhões de dólares em 2019, contra 347 em 2016; com a Europa, passou de 147 bilhões em 2016 para 178 bilhões em 2019 (2).

O jornal “Les Echos” de 6 de outubro cita um especialista do banco de investimentos Rothschild: “Joe Biden vai aumentar as formas, mas as negociações continuarão difíceis, especialmente na aeronáutica”. Ou seja, a eleição de Biden não mudará em nada a orientação econômica dos Estados Unidos, ditada pelas necessidades das multinacionais. Não está mais nas mãos de Biden do que de Trump resolver essa situação: as eleições de 3 de novembro não resolverão a crise.

O empobrecimento em massa da população estadunidense, agravado pela epidemia, levantou centenas de milhares de jovens, negros, durante o verão: se as manifestações começaram pela indignação diante da violência policial, elas colocaram todos os problemas enfrentados pelos trabalhadores, em particular os trabalhadores negros. As greves que agora se desenvolvem no setor da saúde colocam essas mesmas questões, as quais não serão resolvidas por um novo pacote de estímulo, seja ele republicano, democrata ou bipartidário.

(1) Fonte: Bureau of Labor Statistics (BLS) (Secretaria de Estatísticas Trabalhistas) do Departamento do Trabalho dos EUA.
(2) Fonte: US Government Census Bureau (Departamento do Censo dos Estados Unidos).

Tradução Adaías Muniz

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