EUA: “Medicare for All”, Biden e as manifestações Black Lives Matter

Os custos com saúde nos Estados Unidos são extremamente altos. Muitos empregados (e suas famílias) se beneficiam do seguro privado pago pelo empregador, geralmente por meio de contratos coletivos. Mas a cobertura desses seguros varia muito de acordo com os empregadores e não cobre mais o empregado quando ele é demitido. A generalização do Medicare (Medicare for all), ou seja, o sistema público de saúde para maiores de 65 anos, é a forma que toma hoje a reivindicação tradicional do movimento sindical, por um sistema de saúde com pagador único, ou seja, do qual as seguradoras privadas seriam excluídas.

Nos dias 23 e 24 de janeiro, foi realizada a Conferência Estratégica pelo Medicare para Todos, organizada pela campanha sindical por um sistema de saúde com pagador único e por Saúde Já!

Esta conferência, organizada online, reuniu 1.200 participantes, militantes sindicais e associativos, para discutir a estratégia a ser adotada para defender a generalização do Medicare a todos os residentes dos Estados Unidos. Antes do encontro, foi divulgada uma série de intervenções e debates sobre estes temas.

Em meio à epidemia da Covid-19, na sequência da posse de Biden, esta é uma questão central para todo o movimento operário nos Estados Unidos: ela concentra a relação do movimento operário com o Partido Democrata, por um lado, e com os milhões de trabalhadores que perderam seus empregos e, portanto, o seu seguro de saúde nesta crise, por outro lado.

Ficou claro nesta conferência que os defensores da generalização do Medicare, enquanto se regozijam como milhões de americanos com a derrota de Trump, não acreditam que Biden, que sempre tomou abertamente posição contra esta medida, vai concedê-la espontaneamente, e eles estão se preparando para ir à luta. No contexto da epidemia, o governo Biden anunciou a extensão automática da cobertura de saúde aos trabalhadores demitidos que corriam o risco de perdê-la: é uma medida muito parcial, que mantém a centralidade dos seguros privados no sistema de saúde estadunidense.

De forma marcante, muitos oradores mostraram a conexão entre esta questão e os protestos em massa que se seguiram à morte de George Floyd neste verão. A primeira das intervenções da conferência foi reservada à questão da ligação entre o Medicare para todos e a justiça racial: os negros e os latinos estão mais frequentemente desempregados do que brancos, e quando estão trabalhando seus empregadores geralmente não oferecem seguro saúde ou oferecem seguros de baixo custo e com cobertura limitada. Os hospitais nos bairros onde vivem dependem mais do Medicaid (o sistema de saúde pública para os mais pobres) do que aqueles nos bairros mais ricos e, como o Medicaid paga menos (porque cobre menos intervenções e em montantes inferiores) do que os seguros privados, estes hospitais oferecem cuidados de qualidade inferior, mesmo a doentes com seguro saúde.

A reivindicação, que surgiu a partir dos protestos Black Lives Matter, de diminuir os fundos destinados à polícia também contém a exigência de destinar esses valores aos serviços públicos e, sobretudo, ao sistema de saúde.

Assim, as manifestações que reuniram milhões de negros, latinos, jovens, militantes sindicais e associações constituem o principal ponto de apoio, na situação atual, para todas as exigências da classe operária; e seu caráter multirracial mostra que os manifestantes estavam cientes disso. Também é notável que alguns sindicatos, em sua maioria defensores do Medicare para todos, tenham convocado essas manifestações e ajudado a organizá-las.

Devan Sohier
Publicado no jornal francês Informations Ouvrières
Tradução Adaias Muniz

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