Em toda a América Latina, é hora de defender a soberania dos povos
A entrada de tropas dos EUA no país vizinho é uma ameaça a todos os países da América Latina e exige uma resposta imediata de todas as organizações populares e sindicais, partidos e governos progressistas da região.
Abaixo segue editorial da última edição do jornal “El Trabajo”, tribuna livre animada pelos militantes da 4ª Internacional no Peru.
Fora tropas dos EUA; Em defesa da soberania do Peru; Fora Dina Boluarte!
A maioria do Congresso da República autorizou o ingresso de 1.172 soldados dos Estados Unidos em território peruano a partir de 1 de junho, à pedido da ditadura de Dina Boluarte e com a aprovação da cúpula do Comando Conjunto das Forças Armadas e Polícias.
Este fato revela o plano político de Washington para retomar sua influência no sul do continente diante dos governos “progressistas” da Bolívia, Brasil e Colômbia e, ao mesmo tempo, sustentar o governo em crise de Dina Boluarte, visando garantir a exploração pelos EUA dos monopólios na mineração, no petróleo, gás, jazidas de lítio, pisoteando com essa invasão a soberania nacional de nosso país.
Diante disso, a imprensa oligárquica monopolizada por “El Comercio” e sua rede jornalística mantém um total silêncio e busca distrair e desviar a opinião pública, qualificando de “ingerencistas” ou de “intrometer-se nos assuntos internos do país” os presidentes López Obrador do México e Gustavo Petro da Colômbia, que denunciam as matanças do governo golpista no sul e centro do país.
Uma resistência que não para
Tanto a resistência como o “estalido”, abertos desde 7 de dezembro, (golpe contra Pedro Castillo, NdT) não terminaram. Os fatos falam por si: o 1º de Maio com milhares de trabalhadores e cidadãos tomando as ruas de Lima em rechaço ao governo, aos gritos de “Dina assassina, o povo te repudia”, “Urgente, urgente, Assembleia Constituinte”. Um dia antes, com mais de 200 delegados vindos de todo o país reunidos no Encontro Nacional dos Povos, acordou-se seguir lutando por uma Assembleia Popular Nacional organizada desde as bases e organizar uma Paralisação Nacional Cívica e Popular com um Comando Nacional Unitário de Luta.
Agora mesmo, a CGTP- Central Geral dos Trabalhadores Peruanos- convocou uma Jornada Nacional de Luta para 14 de junho, pelo atendimento das reivindicações, “apoiando a unidade na luta para derrotar o governo ditador e genocida”. As regiões do sul do país preparam-se para lutar contra os monopólios do projeto mineiro Tia Maria e no norte do país o povo de Ayabaca mobilizou-se no último 22 de maio de forma maciça contra a empresa mineira Rio Branco. Hoje diferentes formas de auto-organização expressam essa resistência em graus diversos, como ocorre com as assembleias do sul que anunciam uma Marcha à Lima, a assembleia popular de Chimbote, a do populoso distrito de Lambayeque, José Leonardo Ortiz, e a 5ª Assembleia Macro Regional Norte que acontecerá em 17 de junho.
É preciso a centralização política!
Uma situação que se combina com a crise de poder aprofundada com a apresentação do informe da Comissão Internacional de Direitos Humanos com denúncias de “execuções extrajudiciais e massacre” no sul do país e a afirmação de que Dina Boluarte era “chefe das Forças Armadas, mas não tinha o poder do comando militar”, o que gera mais fricções e desconfiança com as cúpulas das Forças Armadas e ateia fogo à crise que continua.
É necessário seguir lutando pela mobilização nacional, ainda dispersa, para ajudar na sua centralização política. A direção das principais centrais sindicais e camponesas do país, as Assembleias das Macro Regiões sul, centro, norte, os distritos de Lima têm a responsabilidade de dar resposta à exigência das ruas de centralizar politicamente as diferentes formas de luta em curso em um só Comando Nacional Unitário que integre em sua plataforma: Fora as tropas dos EUA do território peruano! Fora Dina Boluarte! Liberdade para Pedro Castillo e todos os dirigentes presos! Assembleia Constituinte Soberana Já!
Lima, 12 de junho de 2023
Saia justa no Brasil: venda de armas ao Peru
Em 24 de maio, o chanceler Mauro Vieira declarou a deputados em Brasília que havia conversado com o presidente Lula e que o Brasil “não vai mais vender armas ao Peru”. O Ministério da Defesa, ao ser perguntado pela imprensa, respondeu que “não foi formalmente informado de que haverá alteração nas relações comerciais com o Peru”.
Essa saia justa ocorreu poucos dias antes do anúncio feito pelo governo peruano de autorização da entrada de tropas dos EUA no território do país vizinho.
Outros incidentes já haviam oposto o Itamaraty e Lula aos militares e ao ministro José Múcio da Defesa, como o convite às forças armadas de países membros da OTAN para seminários, e não à China (o que teria exigido nova intervenção de Lula) e a realização de exercícios e recebimento de uma missão militar dos EUA na Amazônia.
Posição equivocada
O fato é que a base para essas trombadas, pelo menos no que diz respeito ao Peru, é a posição equivocada assumida por Lula de, ainda antes de sua posse como presidente, reconhecer o governo golpista e repressor de Dina Boluarte, que teria respeitado a sucessão institucional (ela era a vice de Pedro Castillo), em contraste com os governos de López Obrador do México, Gustavo Petro da Colômbia e Luís Arce da Bolívia, que nunca reconheceram o golpe e ainda hoje pedem a libertação de Castillo. O que se espera do governo Lula é que efetivamente não sejam enviadas armas, letais ou não, ao governo peruano e que condene de forma clara e contundente a entrada de tropas dos Estados Unidos no território do país vizinho. Sim, pois a ingerência militar dos EUA num país sul-americano é uma ameaça à soberania de todos os países da região.
Lauro Fagundes