As eleições legislativas na Grécia, realizadas no dia 7 de julho, tiveram uma abstenção de 42% em um país onde o voto é obrigatório! A Nova Democracia, o partido da direita ganhou com 39,8% dos votos, o que corresponde a 23% dos eleitores inscritos. Suas 158 cadeiras lhe dão a maioria absoluta, o que lhe permite formar o novo governo. Syriza chegou em segundo lugar com 31,5% dos votos, ou seja, 18,27% dos inscritos.
Num contexto em que a rejeição ao governo Syriza não parou de crescer e após um primeiro revés sofrido nas eleições europeias em maio último, o Primeiro ministro, Alexis Tsipras, convocou eleições legislativas antecipadas, com efeito plebiscitário. O resultado da eleição de 2019 é, sem dúvida, uma punição ao governo Syriza, que aplicou os memorandos (a política exigida pela Tróika: FMI, União Europeia e Banco Central Europeu).
O Partido Comunista Grego (KKE) manteve-se estável com seus 5% de votos e suas 15 cadeiras, o que não tem mudado desde 2015. O resultado do Pasok, partido social-democrata que foi um grande partido de esquerda tendo governado muito tempo em alternância com a direita e se transformou no Kinal, continua fraco, com 8% dos votos e 22 assentos.
O Syriza tinha ganho as eleições legislativas de 2015 com 36,34% dos votos, muito à frente da Nova Democracia (27,81%), após uma campanha centrada no compromisso em voltar atrás nas medidas de austeridade dos memorandos. O Pasok, após uma grande queda iniciada em 2012, só obteve 4,68% dos votos. Os eleitores haviam assim punido a Nova Democracia e o Pasok, os dois partidos que tinham aplicado os memorandos e fizeram campanha pela continuidade destas políticas.
A Aurora Dourada, o partido da extrema direita, do qual vários dirigentes são atualmente julgados por participação em “uma organização criminosa de caráter militar” e por várias mortes cometidas por membros da organização, com 3% perdeu suas 18 vagas, ficou sem assento no parlamento.
Há dez anos, a abstenção era de 29%. A partir daí não parou de crescer, chegando a 58% nas eleições europeias (maio 2019). Ela mostra a rejeição da política do governo Syriza. No Pireu, município operário, a abstenção atingiu 51%. Em julho de 2015, a Troika havia imposto um terceiro “plano de salvação” à Grécia, onde estavam incluídas novas medidas de austeridade, entre as quais o aumento para 67 anos de idade mínima para aposentadoria e o aumento do imposto TVA.
Num referendo de 5 de julho de 2015, Tsipras chamou a população a se manifestar, no quadro de um terceiro Memorando, tendo 61% dos votantes se pronunciado contra ele. Após informar os resultados, em 13 de julho, Tsipras anunciou que aceitava as medidas de austeridade claramente rechaçadas pela população.
Para validar o acordo no parlamento, ele apoiou-se nos partidos de oposição. Um terço dos deputados de Syriza votaram contra esse acordo ou abstiveram-se. Em seguida, Tsipras demitiu-se. Em novas eleições legislativas que se realizaram em setembro de 2015, Syriza conservou 145 lugares dos 149 que tinha. Em agosto de 2018, no final do último “plano de salvação”, Tsipras se vangloriava de um crescimento de 1% e um superávit primário no orçamento de 4,3% do PIB, ou seja, 0,8% superior ao que estava previsto no quadro desse plano.
Um país devastado
Em 2015, a dívida grega representava 175,9% do PIB. Em 2019 ela sobe a 180% do PIB. O país está devastado. As conquistas operárias foram dinamitadas. Os bens públicos e as empresas nacionais desmanteladas e vendidas. A Grécia perdeu 25% do seu PIB, 35% da população vive abaixo do nível de pobreza. A taxa de desemprego é de 18%, a mais alta da Europa, os salários baixaram de 30 a 50%. Os impostos e taxas consomem entre 60 e 80% dos salários dos gregos. Das quarenta privatizações exigidas pela União Europeia, trinta foram realizadas pelo governo de Tsipras. O governo de Tsipras fez o trabalho necessário ao capital financeiro; cabe ao novo governo continuar e ampliá-lo.
Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, em uma carta pessoal ao futuro Primeiro Ministro, Kyriakos Mitsotakis, congratula-se: “A Grécia está agora no seu lugar no coração da Europa e do euro. Muito já foi realizado. Mas resta muito a fazer.”
Mas esse novo governo deverá fazer face à classe operária, esgotada por essas políticas, como acontece com os marinheiros. Em 3 de julho eles fizeram uma advertência: respondendo ao chamado de sua federação à greve, nenhum navio saiu do porto.
Como afirmou Antonis Ntalakogiorgios, presidente da PENEN, sindicato dos marinheiros da frota comercial “Não recuaremos um milímetro das nossas reivindicações” (o aumento dos postos de trabalho e dos salários).
Correspondente