
A União Europeia e o Mercosul fecharam um acordo comercial que deve fragilizar ainda mais as economias sul-americanas frente aos interesses das multinacionais europeias. O acordo, cuja negociação levou mais de 20 anos, foi fechado às pressas e sem transparência por Bolsonaro e Macri, que lideraram as duas principais delegações do cone sul.
A União Europeia impôs os interesses de suas grandes empresas nas negociações, fazendo os países do Mercosul derrubarem suas tarifas de importação aos produtos industrializados e serviços – aqueles que embutem mais sofisticação tecnológica, como telecomunicações, serviços financeiros, de transporte-navegação de cabotagem, serviços ambientais e de consultoria etc. Em troca, os países europeus se comprometeram a reduzir (ainda não se sabe quanto) tarifas para produtos agrícolas.
No Brasil e Argentina, países que ainda têm uma indústria de tamanho razoável isso terá impacto desastroso para o sistema produtivo, sobretudo de certos ramos estratégicos como tecnologia, sistemas marítimos e fluviais, obras públicas, compras do Estado, laboratórios medicinais, indústria automotiva e economias regionais.
Outro ponto do acordo é a extensão de patentes: no caso de medicamentos, por exemplo, isto excluirá do mercado novas empresas, produtores públicos ou privados de medicamentos genéricos, em favor do monopólio das grandes multinacionais farmacêuticas. O acordo também coíbe a autonomia do Estado de decidir comprar de ou contratar (no caso de obras públicas) empresas do próprio país (conteúdo nacional), como uma ferramenta ao desenvolvimento industrial.
Na prática, isso levará ao estrangulamento da indústria manufatureira sul americana. Sem a proteção tarifária, a competição das multinacionais europeias (mais ricas e tecnologicamente capacitadas) destruirá milhões de empregos.
A Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul denunciou o acordo como uma sentença de morte para as indústrias da região e, consequentemente, para a classe trabalhadora. Criticou também a falta de transparência das negociações e afirma “que o acordo não leva em conta o emprego de ambas as partes”. Sindicatos europeus, sobretudo os ligados à agricultura, também protestaram.