Pela décima terceira semana consecutiva, neste sábado, 16 de outubro, ocorreram manifestações contra o “green pass” (passe sanitário) em várias cidades italianas. Cada vez maiores, essas manifestações se opõem à obrigação do passe sanitário, de Milão a Palermo, via Florença, Bolonha, Trieste, Gênova, Roma, Nápoles…
Essa rejeição se expressa inclusive em certos níveis do aparelho estatal. Em 25 de setembro, a subprefeita de Roma – suspensa no dia seguinte – tomou a palavra durante uma manifestação de protesto contra o passe verde, segundo ela, em desacordo com a Constituição. “Nenhum direito pode ser subordinado a um certificado verde”, declarou.
A oposição ao passe sanitário ficou ainda mais forte desde a decisão do governo de torná-lo obrigatório, a partir de 15 de outubro, para todos os trabalhadores, públicos e privados.
A presença de ativistas de extrema direita nas manifestações é usada pelo governo e pela mídia, na Itália e em outros lugares, para rotular os manifestantes como fascistas e antissemitas. “Uma tentativa de criminalizar nosso movimento”, comentou um manifestante em Bolonha.
A palavra de ordem “Liberdade!” repetida nas manifestações, em meio a slogans contra a política de Draghi e sua “ditadura sanitária”, assume aqui um significado muito concreto. Como explica este manifestante em Milão, é “a liberdade de chegar ao seu local de trabalho sem ter que colocar a mão na carteira” (os testes são pagos).
Em Trieste, 6.000 trabalhadores portuários participaram da manifestação do sábado, dia 16 de outubro, com a palavra de ordem “Saiam do local de trabalho!” Eles tiveram que enfrentar a violência da polícia que usou canhões de água e gás lacrimogêneo. A coordenação dos trabalhadores portuários de Trieste (CLPT) considera “criminoso e instrumento de chantagem” o decreto que torna obrigatório o passe verde que “nada tem a ver com segurança sanitária nem com o combate à Covid” mas “obriga uma parte dos trabalhadores a pagar para trabalhar”. A coordenação deu um aviso ao governo: “Se até 30 de outubro, não retirarem o passe verde, vamos bloquear toda a Itália”.
Em Torino, os alunos estão presentes. Entre eles, uma estudante furiosa: “Fui duas vezes à minha sala de aula sem passe verde e duas vezes fui recusada”. Agora ela está lá, junto com outros alunos, com a bandeira: “Tirem as mãos da universidade!”.
Esta mobilização contra o passe sanitário na Itália está ocorrendo na esteira de uma crise social cada vez mais brutal. O alto custo de vida (o preço da eletricidade acabou de aumentar 30%) está atingindo camadas cada vez maiores da população já empobrecida pelas medidas tomadas durante a pandemia: as muitas contrarreformas, inclusive as da previdência, a degradação dos serviços públicos, a regionalização do sistema de saúde, a desregulamentação do trabalho.
As demissões e fechamentos de fábricas estão aumentando, principalmente a partir do fim da medida que proibia as dispensas, em vigor durante a pandemia, provocando muitas greves em diversas empresas (1).
Todos os olhos estavam voltados para a poderosa greve dos trabalhadores da companhia aérea Alitalia, cuja destruição deixa na pior 10.400 funcionários. “Um laboratório social”, como a chamou um dirigente sindical. Uma mobilização durante a qual pudemos ver a polícia, enviada para desalojar os grevistas que bloqueavam a rodovia do aeroporto Roma-Fiumicino, tirarem seus capacetes em solidariedade aos manifestantes.
As recentes eleições municipais e regionais foram marcadas por uma abstenção incomum na Itália.
Em uma tentativa de centralizar a resistência contra o governo Draghi, sindicatos de base, incluindo o USB (União Sindical de Base), convocaram uma greve geral para 11 de outubro. As confederações CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho), UIL (União Italiana do Trabalho) e CISL (Confederação Italiana dos Sindicatos de Trabalhadores) não convocaram. A greve foi seguida por um milhão de empregados públicos e privados, iniciada com o bloqueio dos principais portos italianos e articulada com marchas em 40 cidades da península que reuniram 100 mil manifestantes.
Foi uma greve lançada contra Draghi, “fiel executor dos desejos da Confindustria (confederação patronal, nota do Editor) e da UE”, contra as demissões, as realocações, contra “o custo de uma transição ecológica que arrisca cair sobre os empregados”, e “Não ao fascismo, não ao passe verde”. Também foi denunciado o novo pacto que a CGIL, com a CISL e a UIL, está fazendo com o governo e a Confindustria “no interesse exclusivo do patronato”, uma resposta da direção da CGIL à política de consenso nacional de Draghi. Uma orientação que, no entanto, encontra forte oposição dentro da própria CGIL.
Assim como em toda a Europa, a classe operária italiana, em condições particularmente difíceis, procura meios para resistir.
(1) Esta medida foi extinta com a anuência da CGIL.
Em Roma, instalações da CGIL atacadas por provocadores de extrema direita
A manifestação contra o passe verde de 9 de outubro foi massiva, reunindo dezenas de milhares de pessoas quando, de repente, a Plaza del Popolo onde se realizava o comício é cercada pela polícia. Incompreensão, violência, cassetetes, canhões de água e gás lacrimogêneo contra uma multidão pacífica, incluindo muitas famílias com crianças, segundo testemunhas. Foi à margem desta manifestação que a sede nacional da CGIL, a principal confederação sindical italiana, foi atacada por provocadores, membros de um pequeno grupo de extrema direita, Forza Nuova. A condenação desta violência contra uma organização operária foi imediata em escala internacional: CGT, FO e Solidários pela França.
As três principais confederações italianas decidiram convocar uma manifestação nacional em Roma em 16 de outubro com a palavra de ordem “Chega de fascismo!”
Em 11 de outubro, a primeira página de todos os meios de comunicação mostrava os abraços de Draghi e Landini, em frente à sede da confederação sindical. O primeiro ministro veio dar seu apoio ao Secretário-Geral da CGIL.
A manifestação de 16 de outubro reuniu quase 200 mil pessoas. Landini, da tribuna, chama Draghi para abrir “uma fase de mudança social” e a dissolução dos grupos fascistas.
Entre os manifestantes, nada menos que cinco ministros do governo Draghi.
Marie Stagliano
publicado no jornal francês Informations Ouvrières, tradução Adaias Muniz