Drama vivido por Jandira atualiza a questão e pede resposta
Jandira Magdalena dos Santos Cruz, 27 anos, desapareceu após ser levada a uma clínica clandestina em 27 de agosto no Rio de Janeiro.
O mais provável é que seja dela um corpo encontrado no dia seguinte, carbonizado e sem arcada dentária, dentro de um carro igual ao que Jandira foi levada para a clínica.
A hipótese considerada mais provável pela polícia é a de que ela passou mal durante o aborto e teria sido morta para não atrair atenções para a quadrilha que comanda a clínica clandestina. A mãe de Jandira afirmou que já não tem mais esperança de que a jovem seja encontrada com vida.
Sobre a clínica clandestina procurada pela filha ela disse: “Eu escutei muito falar que as meninas vinham de lá passando mal e às vezes morriam no hospital. E ela (Jandira) tinha consciência disso”.
A tragédia teve início com o fato de que Jandira, com uma gravidez indesejada, viu-se diante da situação de pagar R$ 4,5 mil pelo aborto e colocar sua vida nas mãos de uma quadrilha.
Ficou famosa a mensagem de texto que ela enviou antes de desaparecer: “Amor mandaram desligar o telefone, tô em pânico, ore por mim!”.
Aborto legal, gratuito e com segurança
O drama de Jandira soma-se ao de centenas de milhares de mulheres que acabam submetendo-se à precariedade e insegurança por que não têm o direito de decidir sobre os seus próprios corpos e interromper uma gravidez indesejada.
Com o aborto sendo considerado crime no Brasil não restam alternativas seguras para essas mulheres: ou abortam em suas próprias casas sem qualquer assistência, ou recorrem a verdadeiros criminosos que lucram com seu desespero.
A cada dois dias, uma brasileira morre por ter realizado um aborto inseguro. Estima-se que, anualmente, cerca de 1 milhão de abortos são provocados e ocorram 250 mil internações para tratamento de complicações pós-aborto. Quem mais sofre com as consequências do aborto inseguro, ou é criminalizada, são as mulheres pobres, como mostram pesquisas da UERJ e outras instituições.
Por tudo isso, o aborto legal, realizado de forma segura e gratuita no SUS, é uma necessidade urgente!
No cenário eleitoral, a discussão sobre um tema de tal gravidade é desanimadora. Marina Silva (PSB) já declarou inúmeras vezes que é contra a legalização do aborto. Ela chegou a propor um plebiscito sobre esse assunto. Uma questão que é de foro íntimo de cada mulher.
Já Dilma, pressionada pela sua própria opção e da direção do PT de fazer alianças com setores conservadores, também não avança na questão da legalização do abordo e nada diz nada sobre o tema!
A militância petista, por seu lado, faz o combate pelo aborto legal há anos! Um debate que não pode ser ignorado, pois se trata da vida de centenas de milhares de mulheres, na maioria jovem. Trata-se de um direito democrático e de uma questão de saúde pública.
Priscilla Chandretti
Artigo originalmente publicado na edição nº 755 do Jornal O Trabalho