A revolta do povo libanês contra o sistema comunitário e confessional que estrutura o país desde a independência já dura mais de cem dias.
A classe política libanesa, os elementos mais corrompidos do regime, confundindo todas as comunidades, articula as manobras para se manter no poder. O anúncio da constituição de um novo governo (22/01) com conselheiros escolhidos pelos políticos no poder, que pretende executar o orçamento de austeridade preparado pelo governo anterior, provocou uma nova onda de protestos.
Esse novo governo é essencialmente composto pela aliança entre o Hezbollah e os cristãos maronitas, o que faz o Estado israelense, principal fator de guerra na região, dizer que “o Líbano sob um governo do Hezbollah constitui um inimigo”.
Longe das ameaças e alegações israelenses, muitos veem nesse orçamento votado em déficit uma operação para favorecer os bancos, pilares de um sistema econômico que não produz nada e cujas medidas provocam continuamente a indignação popular.
“Queremos todos eles fora”
Os “novos chefes do novo governo foram todos nomeados pelos mesmos, por aqueles que já foram rejeitados pelo povo”, afirma um manifestante. Enquanto a maioria dos libaneses afunda progressivamente abaixo da linha de pobreza, quando o desemprego ultrapassa hoje os 30%, outros se encontram sem nenhum recurso e vivem situações de quase fome.
O nível de pobreza do povo libanês é produto direto da política de predação das riquezas nacionais realizada há décadas por todas as camadas dirigentes, a começar por aquelas ligadas à Arábia Saudita, aos Estados Unidos e à França.
O regime não tem outra coisa a propor aos manifestantes a não ser a repressão, que se agravou nas últimas manifestações. “Queremos um novo governo sem nenhum dos representantes do sistema atual, queremos todos eles fora”, continuam a exigir os manifestantes.