“Um momento de desalento e descrença nas instituições, nossos partidos não nos representam, o Congresso não nos representa e o Judiciário não funciona”. Essa não é a opinião de um extremista, é do banqueiro Pérsio Arida, coordenador de programa de governo de Alckmin do PSDB (Valor, 06/06).
Os setores mais pró imperialistas estão em apuros. O ilegítimo Temer agora se mostra sem autoridade. Os golpistas não encontram o que propor e nem tem candidato presidencial competitivo.
Desesperados, os políticos da área tiraram o manifesto “por um pólo democrático” a fim de “unir as candidaturas do ‘centro’” com um programa de “equilíbrio fiscal, diminuição do Estado e reforma da Previdência”. Mas é o mesmo programa de Temer! Escrito antes da crise dos caminhoneiros pela cúpula do PSDB (FHC etc.) com o DEM e outros, o lançamento do manifesto teve que ser postergado, e já veio à luz morto pela crise – o DEM nem apareceu no dia!
Economia desorganizada
O bloqueio das estradas 10 dias e o desabastecimento, além de sofrimento e carestia, causaram grande destruição de valor em empresas e particulares na produção e no mercado de títulos. As abruptas concessões de Temer – subsídios, cotas e tabelamento de fretes, baixa dos pedágios etc. – reviraram as relações com as empresas e entre elas. Vem daí a ofensiva de vários grupos econômicos para rever medidas e arrancar compensações do Estado ou dos outros.
A desorganização assombra a economia. Um cenário de conflitos a curto prazo – com greves fortes, como a dos petroleiros – pode trazer o caos vislumbrado nos dias do bloqueio, devido à putrefação do governo e a “descrença nas instituições”.
Eleição e não “salvação”!
As elites cogitam formas de “salvação”.
Carmen Lucia, do STF, levantou, mas recuou de um parlamentarismo que seria para o ano que vem.
Aqui e ali se fala de adiar eleições. Mas ninguém de peso pôs o guiso no gato – de fato, qual autoridade legítima asseguraria depois a ordem? A intervenção militar, o banho de sangue? Mas o Exército, apesar da ordem para desobstruir as estradas, preferiu ficar atrás das Polícias Militares. Vários generais (inclusive da ativa) descartaram a ameaça agora (mesmo Bolsonaro). Afinal, os trabalhadores não foram aplastados, as organizações estão aí.
Então, eleições indiretas? A Comissão de Constituição e Justiça do Senado acaba de aprovar regras para a eleição pelo Congresso do presidente em caso de vacância nos dois últimos anos do mandato. O projeto ainda segue para a Câmara (se não houver recurso no plenário do Senado). Mas, como há trâmites, as indiretas acabariam sendo poucas semanas antes das diretas. E não há mais tempo hábil para antecipar eleições diretas.
Haveria ainda problemas: primeiro, Temer precisaria renunciar (um novo pedido de impeachment tomaria mais tempo); segundo, a linha sucessória de Temer começa por Maia (DEM) que se mostra sem condições.
Fora Temer, Lula Lá!
As lutas de resistência contra os cortes, por direitos, salários etc. devem crescer, estimuladas pelo êxito dos caminhoneiros. Também veio para ficar a bandeira da redução do diesel, gasolina e gás de cozinha. Mas uma política de combustíveis justa, passa por um novo governo e outro congresso, com a revogação das medidas dos golpistas – como a PEC que abriu o marco do pré-sal – e outras reformas populares.
Só um novo governo eleito pode avançar nesse rumo e convocar a Constituinte Soberana para refazer as instituições.
A única saída legítima do golpe são eleições diretas e livres, aonde Lula saia da cadeia para a presidência da República. A força do povo pode fazer isso. Sim, seria dramático e inusitado, mas a situação já é dramática!
É incompreensível a esta altura que PCdoB e PSOL mantenham suas candidaturas e não vejam o óbvio: só Lula pode encabeçar uma coligação de forças populares, respaldada numa bancada parlamentar, que derrote o golpe, afaste o caos e refaça as instituições.
Markus Sokol