Ex-esquerdista, ex-petista, ex- Marina virou a queridinha do mercado.
“Marina tem uma boa história para contar e ideias muito razoáveis de política econômica”, diz em Washington o diretor para América Latina da Brookings Institution, Harold Trinkunas (a Brookings é um centro da direita conservadora dos EUA; quando governos não podem falar são os tais “especialistas” que falam).
Assim é Marina: uma “boa história”. Origem seringueira, ministra do governo Lula, mas que hoje tem “ideias razoáveis”. É o mercado pintado de verde!
Foi essa evolução de Marina. Do esquerdismo pré-PT até a adesão a uma seita evangélica “criacionista” dos EUA (que nega a evolução das espécies) que a tornou a queridinha do mercado.
Esse percurso, sabemos hoje, passou pela conversa no apartamento de FHC em 2010, que decidiu sua candidatura presidencial naquele ano, em relação com os interesses financeiros internacionais agenciados pelo PSDB.
Já em 1994 foi ela quem defendeu a “exceção”, para o PT do Acre poder aliar-se ao PSDB.
Hoje, sua equipe atual é recheada de ex-deputados PSDB, como Walter Feldman e de economistas tucanos como André Lara Resende e Eduardo Gianetti.
“O seu programa é profícuo em acenos favoráveis ao mercado”, explica o jornal empresarial Valor Econômico que a apoia destacando o fim das políticas discricionárias e a redução de normas para os setores produtivos. Música para os ouvidos do capital.
Direita, volver!
É assim que o insuspeito jornal Valor Econômico (01/09/2014) resume as propostas da candidata:
- Banco Central: independente, de forma institucional;
- Reforma administrativa: promoções por desempenho, produtividade e mérito;
- Tripé econômico: superávit necessário e câmbio livre, sem interferência do Banco Central;
- Responsabilidade fiscal: conselho independente sem vinculação governamental para verificar metas;
- Trabalho: Atualizar a legislação trabalhista, contratos sem prazo indeterminado, nem jornada integral (especialistas localizaram aí a terceirização ampla);
- Política externa: acordos comerciais com EUA, Europa e Ásia;
- LGBT: suprimida a equiparação da discriminação na orientação sexual às já previstas em lei (cor, etnia, religião);
- Reforma política: unificação do calendário eleitoral, mandato de 5 anos e candidaturas avulsas (sem partido);
Isso para ficar apenas nos itens destacados pelo jornal que apoia Marina. Os incrédulos podem consultar a íntegra na internet, confira!
Mas a esperteza pode comer o esperto
Agora, Marina se apresenta para governar com os “bons do PT e do PSDB”.
Quer desconstituir os partidos num tipo de “união nacional” ao seu redor. Contra a democracia, contra a representação popular, um messianismo que salta séculos para trás.
Mas, se ela tem audiência é porque, além do apoio midiático e financeiro, tenta expressar a vontade de mudanças saídas das ruas de junho de 2013. Explora o desgaste das instituições em geral e do próprio PT.
Esperta, ela pegou a candidata Dilma cobrando no debate da Band: “o que deu errado com os pactos propostos na esteira das manifestações de junho?”.
Adivinhou que a presidente não entregaria o vice Temer – aquele que bloqueou o pacto principal, o Plebiscito da Constituinte sobre a Reforma Política.
“Acreditamos que deu tudo certo”, disse Dilma. Esse “Brasil colorido cinematográfico não existe”, retrucou Marina (jornal O Estado de São Paulo de 27/8).
Mas Marina é muito frágil.
O PT tem autoridade para explicar com clareza os interesses pró-imperialistas que Marina representa.
Basta querer fazê-lo.
Dilma, por seu lado, tem autoridade para explicar que quando propôs o pacto do Plebiscito Constituinte, a famosa Marina se escondeu debaixo da cama porque defende uma contrarreforma política, igual ou ainda pior que a do PMDB do vice Temer.
E aí a esperteza comerá o esperto!
João Alfredo Luna