Em 1 de julho o México realizará eleições para Presidente da República, deputados, senadores e governadores de diversos estados e municípios.
O interesse das amplas massas se concentra na eleição para a presidência.
Dos três candidatos com chances reais de vitória, Lópes Obrador é o único que – mesmo com limitações e contradições – apresenta uma posição de ruptura com a política pro-imperialista seguida pelos governos nos últimos 30 anos.
José Antonio Meade é o candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional), em aliança com dois pequenos “partidos”, o Verde e o Panal (constituído pelo aparelho do SNTE-Sindicato Nacional de Trabalhadores da Educação, sindicato integrado ao Estado). O PRI governou o México – como partido de estado – durante os últimos 80 anos, exceto nos períodos 2000-2006 e 2006-2012, quando a crise do regime e a pressão do imperialismo dos EUA o levou a aceitar sua derrota frente ao PAN (Partido de Ação Nacional, partido católico, igualmente pro-imperialista).
Meade representa a continuação da política de ataque aos direitos dos trabalhadores e entrega das riquezas da nação. O PRI o apresenta como um candidato “apartidário” porque não é originário diretamente de suas fileiras. Ele foi Secretário de Economia, de Relações Exteriores, de Assuntos Sociais tanto no governo do PRI quanto no governo anterior de Felipe Calderón, do PAN.
Ricardo Anaya é o candidato de uma singular aliança entre o PAN com o PRD (Partido da Revolução Democrática) que se apresenta como “esquerda”. O PRD foi criado em 1989 – como saída diante da fraude eleitoral orquestrada pelo PRI nas eleições de 1988 – por Cuauhtémoc Cárdenas, filho do ex -presidente Lázaro Cárdenas que, na década de 1930, nacionalizou o petróleo.
López Obrador foi o candidato do PRD nas eleições de 2006 e 2012 mas, diante da decomposição desse partido (que em 2012 assinou com o PRI e o PAN o anti-popular e pro-imperialista “pacto pelo México”) rompeu e formou seu próprio partido, o Movimento de Regeneração Nacional (MORENA).
Provocação, denúncias e manobras
Ao largo dos últimos oito meses proliferam provocações, denúncias e manobras contra López Obrador, na tentativa de retirá-lo da liderança nas pesquisas. A um mês das eleições, segundo o jornal Reforma (institucional) ele está com 54% contra 25% para Anaya e 18% para Meade.
Para dispersar os votos e semear a confusão, para favorecer o PRI, o regime, por meio do Instituto Nacional Eleitoral-INE, autorizou a inscrição de supostos candidatos independentes.
Vários personagens se inscreveram entre os quais a esposa do ex-presidente Felipe Calderón (Sra. Zavala) provocando uma ruptura no PAN.
Outro “independente” é Jaime Rodriguez, governador de Nuevo León, conhecido como “bronco”, que se distinguiu nos debates televisivos por fazer propostas tais como “cortar as mãos” dos ladrões.
Na extrema esquerda houve a tentativa de inscrever uma candidata “indígena” por parte do “Conselho Indígena de Governo” (dirigido pelo chamado Exército Zapatista de Libertação Nacional-EZLN), que obteve cerca de cem mil assinaturas de apoio (eram necessárias 867 mil para garantir a inscrição). Essa força vai influir setores indígenas e jovens a se absterem com o falso argumento de que os três candidatos são iguais, que Obrador também é “burguês”. Ignoram o caráter pro-imperialista da política do PRI, e do PAN-PRD.
Mas tanto os candidatos “independentes” quanto a campanha da mídia, que tenta assustar a população afirmando que se Obrador vencer “seremos uma nova Venezuela”, não fizeram cair a preferência por Obrador que, ao contrário, continua aumentando.
O movimento em direção a Obrador
O esgotamento do PRI face a setores importantes das massas também é inédito. Os 24 anos de Tratado de Livre Comércio com EUA e Canadá aceleraram a concentração da riqueza nas mãos de uma pequena oligarquia, enquanto a maioria da população foi empurrada para a pobreza e a extrema pobreza. Hoje, o salário mínimo de um trabalhador mexicano da indústria automotriz – que paga melhor – corresponde a cerca de 10% do salário de um trabalhador estadunidense.
A isso se acrescenta a atual ofensiva do governo Trump contra o México, com um novo Tratado ainda mais agressivo, a imposição de tarifas aduaneiras ao aço e alumínio, a política contra os imigrantes (muro, tropas na fronteira…).
O país vive um situação de extrema violência, verdadeira guerra que golpeia a juventude e as zonas mais pobres do campo e das cidades. Nos últimos 12 anos foram 240 mil assassinados por quadrilhas e entre as quadrilhas de narcotraficantes.
O país começa a ter uma lista de nomes de sequestrados ou assassinados, sobretudo jovens: os 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa, o assassinato e dissolução dos corpos em ácido de três estudantes de arte de Guadalajara, o massacre e professores e colonos de Noxistlan, Oaxaca, etc, etc, etc… Ao mesmo tempo, se efetivaram as contrarreformas trabalhista, da educação, da saúde, o desmantelamento da Pemex – a estatal do petróleo.
O movimento em direção a Obrador também se explica pela ausência de um partido da classe trabalhadora e uma central sindical de classe. As massas buscam em Obrador um ponto de apoio para dar um basta à violência, para lutar por suas reivindicações.
Numa palavra, o país caminha para um giro na situação política. O reconhecimento do triunfo de Obrador ou a imposição de uma nova fraude eleitoral pelo regime vai precipitar – sob formas distintas conforme os resultados eleitorais – a luta pelas reivindicações e o enfrentamento popular com a oligarquia e os partidos do regime, a começar pelo PRI.
Luiz Vasquez, da Cidade do México