Mobilização derruba governo no Sri Lanka

Uma grande mobilização popular contra o regime corrupto se desenvolve há meses no Sri Lanka, país asiático situado próximo à Índia. Concentrado na principal cidade do país, Colombo, o movimento pediu a saída imediata do presidente Gotabaya Rajapaksa e do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe, responsável pelo massacre da minoria étnica tâmil.

Reivindicou também um sistema de distribuição de alimentos e de gêneros de primeira necessidade, o congelamento de preços e o fim do pagamento da dívida externa. No dia 9 de julho, centenas de milhares de trabalhadores reuniram-se em frente aos palácios governamentais. Três dias depois, Rajapaksa renunciou e fugiu do país. Um novo governo foi formado, com Ranil à frente, que desencadeou uma onda de repressão. Apesar disso as mobilizações prosseguem.

A militante Marisa de Silva, coordenadora da Aliança Popular pelo Direito à Terra, falou sobre a situação, em entrevista concedida ao jornal francês “Informações Operárias”, da qual publicamos trechos.

Informações Operárias – O que ocorreu em 9 de julho?
Marisa de Silva –
O dia 9 de julho não pode ser visto sem levar em conta a situação anterior. É o fim de 74 anos de mentalidade de escravo. São 74 anos de insatisfação, de traição e de raiva contra os políticos que decepcionaram, que oprimiram, que falharam em protegê-los. O dia 9 de julho deve ser visto como um ponto culminante porque a jornada foi liderada pelos jovens. O povo do Sri Lanka só quer que sua voz seja ouvida. Houve um chamado da Galle Face (praça central em Colombo) para que o país tomasse as ruas, para vir a Colombo de qualquer forma. O objetivo era (…) uma saída política pondo um fim ao governo, a este presidente e este primeiro-ministro.

IO – Quais são as exigências dos manifestantes? Os sindicatos e partidos políticos estão representados?
MS –
A ocupação dos palácios veio em seguida. Principalmente porque o presidente e o primeiro-ministro não levaram em conta as exigências, mas acima de tudo porque eles não tinham mais o mandato do povo. Rajapaksa queria, até o último momento, um acordo que lhe permitisse escapar. A ocupação da presidência, do palácio presidencial e da residência oficial do primeiro-ministro pôs fim a essa ilusão. O povo ocupou os palácios do governo não para uso individual, mas como um ponto de pressão. O 9 de julho foi o ápice de vários meses de luta econômica, de uma crise humanitária, em que não havia combustível, nem remédios adequados, nem gasolina. As pessoas estão lutando para sobreviver. Os manifestantes são o reflexo da sociedade: em grande parte o cidadão médio, os jovens, os idosos. Todos liderados pelos jovens. Você tem, é claro, as organizações de massa, sindicatos, sociedade civil, partidos políticos, pequenos e grandes. Na luta, eles foram identificados pelos seus grupos de jovens, seus estudantes. A classe trabalhadora estava representada em todos os seus componentes: grupos de mulheres, tâmiles, muçulmanos, trabalhadores das plantações.

IO – E agora, quanto à mobilização?
MS –
Os manifestantes estão pedindo a demissão imediata [do novo governo] e a realização de eleições em um prazo muito curto. Acabam de serem formados conselhos populares com representantes de todo o país, que constituirão um órgão de poder, de contraponto, que validará as leis aprovadas pelo Parlamento. Isso dará essencialmente poder ao povo e indicará em que o Parlamento não poderá agir. Um novo documento de exigências está começando a ser desenvolvido e servirá como base para esses conselhos.

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