Na crise das instituições Bolsonaro avança

“As instituições estão funcionando” repetem desde 2016 os que apoiaram a destituição de Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade. “Funcionaram” para gestar o golpe, acobertar a corrupção institucional da “operação Lava-jato”, retirar Lula da disputa de 2018 e passar pano nos crimes eleitorais de Bolsonaro.

Levado à presidência como produto da latrina dessas mesmas instituições, Bolsonaro nunca escondeu seus intentos golpistas. Ao contrário, é estimulando choques, explorando crises que, como candidato a Bonaparte, ele alimenta sua turba de milicianos, pastores corruptos e fascistóides diversos – que não existia como tal em 2018.

Já depois de eleito ele dizia que só não ganhou no primeiro turno porque houve fraude. Desde então, com avanços e recuos, está em campanha permanente para desacreditar a urna eletrônica brasileira, em funções desde 1996 e reputada como das mais seguras do mundo.

Tentando covardemente apaziguar, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) convidou as Forças Armadas para participar da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), criada dois dias após o ataque golpista do 7 de setembro de 2021.

A ofensiva bolsonarista prosseguiu e, em 24 de abril, numa palestra por videoconferência, o Ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que até fevereiro presidiu o TSE, verbalizou o que todos sabem: “As Forças Armadas estão sendo orientadas para atacar o processo eleitoral e tentar desacreditá-lo”.

A reação furibunda de ministros-generais soa como confissão de culpa. Em nota oficial, ordenada por Bolsonaro, segundo a imprensa, o Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, “repudia qualquer ilação ou insinuação, sem provas, de que as Forças Armadas teriam recebido suposta orientação para efetuar ações contrárias aos princípios da democracia”.

Outro general-ministro, Luiz Ramos, da Secretaria de Governo, ousou atribuir às forças armadas a responsabilidade de zelar por “eleições democráticas e transparentes”. Desde quando? Com base em qual lei?

Mais grave, na mesma declaração da videoconferência, Barroso afirmara (candidamente) que “até aqui não tem ocorrido o esforço de politização das Forças Armadas”. Por suas reações, é como se os generais-políticos respondessem a Barroso dizendo: você está se enganando, estamos, sim, politizando as forças armadas!

O militar indicado para a CTE formulou 88 “perguntas” ao TSE sobre as urnas eletrônicas. Nos fatos, é uma forma de calçar o discurso golpista de Bolsonaro. Ainda assim, o presidente do STF, Fux, reuniu-se com o general Paulo Sergio, após sua nota golpista, para tratar da “colaboração dos militares para o processo eleitoral”. Mas dessa “colaboração” é Bolsonaro quem precisa.

A crise é social, econômica, institucional: 13 milhões de desempregados, milhares de sem-teto nas ruas dos grandes centros. Inflação acima de 8% ao ano, salários arrochados. Juros em quase 13% ao ano, o que vai provocar mais desemprego.

O responsável principal é Bolsonaro, mas o STF vai de recuo em recuo diante de seus avanços. Do Congresso, controlado pelo centrão, que mama à vontade no orçamento da república, nada se pode esperar, mesmo diante das dezenas de crimes de responsabilidade de Bolsonaro.

A saída só pode vir da resistência popular a Bolsonaro e seus generais.

Edison Cardoni

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas