NAKBA: Sessenta e seis anos de limpeza étnica na Palestina

Dia 15 de Maio é o aniversário da NAKBA que, em árabe, quer dizer catástrofe. Ela marca o princípio da tragédia que se abateu sobre o Povo Palestino perseguido, massacrado e expulso da sua terra pelos ocupantes judeus.

A independência do Estado de Israel proclamada unilateralmente em 14 de Maio de 1948 significou para os palestinos o início da devastação da sua sociedade e a eclosão de um drama individual e coletivo que perdura até aos nossos dias. Com seu território dividido pelo Estado Judeu de Israel criado pela Resolução 181 das Nações Unidas de 29 de Novembro de 1947, pelo reino da Jordânia (a Cisjordânia) e pelo Egito (a Faixa de Gaza). Com a maioria das terras confiscadas e os direitos civis reduzidos ou eliminados os palestinos tornaram-se exilados na sua própria pátria.

Na a guerra de 1967 Israel ocupou militarmente os territórios da Cisjordânia e de Gaza bem como Jerusalém Oriental, cidade que fora considerada pela ONU como zona de administração internacional, e ocupou também, ao longo dos anos, as zonas férteis da região com a construção de colônias. Na memória e na história dos palestinos a Nakba constitui a linha de demarcação de dois períodos distintos e opostos, o momento em que as suas vidas foram dramática e irreversivelmente alteradas.

A data chave de 1948 assinala o desaparecimento de um País e de um Povo dos dicionários e dos mapas como se nunca tivessem existido. Daí em diante os palestinos passaram a ser chamados “refugiados” ou “árabes israelitas”– a pequena minoria que escapou à expulsão generalizada do Estado de Israel.

Em meados deste ano de 2013, mais uma vez, Israel bombardeou indiscriminadamente a região de Gaza deixando um rastro de morte e destruição.

Os bombardeios cessaram, mas o bloqueio a Gaza continua.

E, como diz o Apelo lançado pela União Geral dos Trabalhadores Argelinos e pelo Partido dos trabalhadores da Argélia (clique aqui para ler) que já conta com centenas de adesões do Brasil: “Não pode haver paz sem o fim incondicional, total e imediato do bloqueio, sem a reconstrução das fábricas, das infraestruturas e habitações destruídas, sem o restabelecimento incondicional do direito à pesca, sem o direito a ter portos e um aeroporto”.

Nesta semana, até dia 29 de novembro estarão se realizando atos, manifestações, pronunciamento e delegações à embaixadas em vários paises pelo fim do bloqueio a Gaza.

Leia entrevista e relato de militantes palestinos realizada por Jean-Pierre Barrois para o jornal francês, Informations Ouvrières:

Com a palavra Zakaria Baker, coordenador de la Comissão de Pescadores de Gaza

Pode nos falar sobre as consequências da agressão sionista para os pescadores de Gaza e por que o fim do bloqueio é um tema de vital importância para vocês?

As consequências são catastróficas. Antes de guerra, a situação já era muito difícil. Faz quase oito anos que a população de Gaza está sitiada, isolada do mundo e, obviamente, isso tem consequências para todos os trabalhadores.

Os pescadores de Gaza, durante esses período, não tiveram o direito de pescar além de seis milhas marinhas da zona costeira. Mas isso não serve para nada. É a partir de nove milhas que o pescado pode ser encontrado.

A essa situação acrescente as destruições fruto da ofensiva militar e a guerra empreendida pelo exercito sionista que destruiu Gaza. Não deixou quase nada em pé e os pescadores têm sofrido perdas consideráveis em todas as áreas.

No que se refere às questões materiais e infraestrutura:trinta e nove prédio foram destruídos com todo os equipamentos que ali estavam. Os barcos, as redes, os geradores, etc. Tudo completamente destruído pelos bombardeios. Estou falando de 35 barcos, duas mil redes e cem geradores. Conheço quatro pescadores que morreram como mártires, assim como seus filhos.

Ao final da guerra e depois da negociação indireta entre a resistência palestina e o governo de Israel no Cairo, a situação no mudou.

Desafortunadamente, a zona de pesca é a mesma de antes da guerra. Esse é um dos aspectos do bloqueio. Para nós, para toda a população essa questão é vital. Além do fato de que essa distância não se encontra pescado, existe o problema dos esgotos que são despejados nessa área. A situação não mudou e a agressão sionista continua. Foram registrados cento e trinta e dois ataques contra pescadores e o confisco de vários barcos pela marinha sionista. Dezoito pescadores que se encontravam na zona de seis milhas foram presos ; vários feridos à bala. Para não falar também dos foguetes lançados contra os pescadores no meio do mar. Ontem mesmo, um foguete destruiu um barco.

Gostaria de enviar uma mensagem internacional?

Nossa mensagem é clara : É preciso exercer pressão sobre o governo sionista para que respeite a Convenção Internacional sobre a Pesca. Isso nos permitirá sair para além das seis milhas sem estar em constante perigo.

Queremos a condenação do Estado de Israel e o estabelecimento dos direitos dos pescadores.

Fazemos um chamamento aos sindicatos operários para que se posicionassem pela abertura das passagens de fronteira para levantar o confinamento a que estamos submetidos.Pedimos apoio para as reivindicações dos pescadores, sobre tudo para a recuperação da infraestruturas marinhas. Também queremos um contato permanente com os sindicatos para trocar informações e explicar em tempo real a situação.

De Jerusalém Oriental

Com a palavra Thaer, militante palestino de Gali:

Sexta-feira, 7 de novembro:

Sobre os violentos incidentes na Galileia região norte da Palestina, os chamados « territórios de 48 », quer dizer, essa parte confiscada do território dos palestinos durante a agressão do Estado de Israel, por telefone, Thaer, militante palestino, concedeu essa entrevista durante o ataque sionista contra Gaza em julho último.

Thaer: Não posso ficar muito tempo no telefone pois tenho que ir à uma manifestação. Desde julho a situação aqui é tensa, com manifestações e enfrentamentos.

Você apoia o que está ocorrendo em Jerusalém Oriental (Cisjordânia), a resistência à política de implantação de colonias ; estará em curso uma política de limpeza étnica?

Thaer: Sim, mas não apenas pois há 15 dias. Agora, está em curso uma verdadeira revolta da juventude em resposta à repressão em Jerusalém e também em função da situação social que se encontram os jovens: a pobreza, o desemprego, a repressão. Já distúrbios nos bairros de Jerusalém Leste, em Chouafat, Baher Sul e Wadi Joz.

Então, na Galileia, são principalmente os jovens quem estão nas ruas em solidariedade com Jerusalém Oriental?

Thaer: Sim. Mas, na noite passada, a situação virou. EmKafr Kanna, perto de Haifa, um policial matou um jovem de 22 anos. – Kheir Hamdan – que havia participado de uma manifestação. Entraram em sua casa e o mataram. O prefeito declarou que foi assassinato a sangue frio. Todo o mundo, toda a população, jovens ou não, está indignada por esse assassinato.

Sábado, 8 de novembro, 23:30, hora local:

Thaer: Voltei agora de Kafr Kanna. Onde ocorreram os funerais do jovem morto. Havia muita, muita gente. Muitos jovens e também a participação maciça da população. A indignação é ainda maior porque o assassinato foi filmado por alguém. Vê-se no vídeos a polícia sionista matá-lo como se mata um coelho. Disparar de cima enquanto ele estava caído. Há uma convocatória de uma greve geral para amanhã. Todos os partidos políticos árabes, organizações de defesa dos direitos humanos e os sindicatos firmaram uma convocatória conjunta pela mobilização. Falo sobre ela amanhã.

Domingo. 9 de novembro, 19 :00 hora local:

Thaer: A greve geral foi hoje. Verdadeiramente maciça. As escolas estavam em greve, o comércio fechado e não havia transporte. Os jovens estavam fortemente mobilizados. Bloquearam a rodovia que liga Tiberíades a Haifa. O ministro do interior declarou que não aceita a proibição da circulação. Há enfrentamentos que continuam até agora. Houve manifestações de apoio em Gaza. Essa a situação que nos encontramos no momento. Envio fotografias das manifestações e o vídeo do assassinato.

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