Estudantes secundaristas já ocupam 74 escolas em São Paulo contra política de Alckmin
No fechamento desta edição já se eram 74 as escolas ocupadas por estudantes secundaristas no estado de São Paulo. Essa é a resposta dos estudantes – que contam com a solidariedade de muitos pais e professores – ao plano de “reorganização” do governo Alckmin (PSDB) que pretende fechar 94 escolas inteiras além de centenas de salas de aulas em outras escolas, transferindo milhares de estudantes e professores arbitrariamente.
Embora Alckmin negue e apresente argumentos ditos pedagógicos, a medida tem o claro objetivo de cortar gastos. Enfrentando a queda de arrecadação de impostos decorrente da crise econômica aprofundada pelo ajuste fiscal feito pelo governo Dilma sob o comando do ministro Joaquim Levy, o governo Alckmin ousa atacar a educação e já anunciou um orçamento para 2016 que congela a quantia destinada à pasta, sem fazer a correção pelo IPCA ou qualquer outro índice que corrija a inflação.
De acordo com um levantamento feito pela bancada legislativa do PT de São Paulo, esse congelamento equivaleria a R$ 2 bilhões a menos para a educação no ano que vem.
A prática de redução de custos com serviços públicos já é tradição dos tucanos. Beto Richa no Paraná também ameaçou fechar escolas, depois recuou. Em Goiás, Marconi Perillo entrega escolas para à administração das Organização Sociais (entidades privadas) e para a Polícia Militar!
O que não cabe é que o governo do PT seja o responsável pelo ajuste fiscal que provoca queda na arrecadação e cortes nos gastos sociais em nome do pagamento de juros da dívida pública, que enche bolso de banqueiro e especulador. Passou da hora de mudar a política econômica e demitir Levy.
Quanto ao governo Alckmin, alvo principal da luta em curso, é preciso ajudar o movimento a encostá-lo na parede. Obrigá-lo a recuar. É necessário pôr fim ao projeto de reorganização, impedir o fechamento de qualquer escola e qualquer sala de aula e todas as medidas que na verdade desmantelam a educação para economizar recursos.
Ocupações se multiplicam e se organizam
É para esse enfrentamento que os estudantes decidiram ocupar as escolas. Embora em alguns casos militantes do MTST tenham tentado ocupar no lugar de estudantes, quem protagoniza as ações são os estudantes secundaristas organizados politicamente ou que começaram a despertar para a luta política.
A primeira ocupação começou na Escola Estadual Diadema no dia 10 de novembro. No mesmo dia estudantes ocuparam a escola Fernão Dias, no bairro de Pinheiros na capital paulista e, a cada hora, o número de escolas ocupadas cresce.
Na escola Estadual Saboia de Medeiros, na zona sul da capital de São Paulo, a organização da ocupação foi clara: para ocupar é preciso seguir regras definidas pelo próprio movimento.
Para não dar qualquer pretexto à repressão, uma delas é a total proibição de consumo de álcool e drogas. O mesmo procedimento é adotado em outras ocupações como a da E.E. Caetano de Campos no centro da capital ou da E.E. Maria Petronila também na zona sul. todas elegem comissões para limpeza, segurança, organização etc.
As ocupações têm programações como aulas públicas, debates, oficinas e diversas atividades com participação da comunidade escolar. Falta ainda centralizar a luta num comando geral.
Resistência e repressão.
Pais, professores, movimentos e organizações populares têm se mostrado solidárias. Uma rede de coleta de alimentos está sendo organizada por diversas entidades como a UBES, a UNE, Centros Acadêmicos, sindicatos, etc. Há várias doações espontâneas da população. A APEOESP (Sindicato dos Professores da Rede Pública do Estado de São Paulo) tem oferecido ajuda jurídica e material além de seus dirigentes ajudarem a proteger o local das provocações policiais. Até o fechamento desta edição uma decisão da justiça impedia a reintegração de posse das escolas, mas o caso continua em julgamento. Mesmo assim a PM de Alckmin já invadiu escolas, bateu e prendeu estudantes e professores. O movimento, entretanto, não dá sinal de cansaço e resiste.
Luã Cupolillo
Artigo originalmente publicado na edição nº 777 do jornal O Trabalho de 19 de novembro de 2015