“Não teve arrego! ”

Luta dos estudantes impõe recuo ao governo Alckmin

A luta dos estudantes secundaristas de São Paulo arrancou uma vitória!

Os secundaristas entraram em luta contra o fechamento de 93 escolas em todo o estado e a transferência de centenas de milhares de estudantes. Tudo isso iria superlotar salas de aula e criar o chamado “ciclo único”, que representaria um passo a mais do processo de destruição da escola pública.

A mobilização começou no início do semestre deste ano com passeatas e manifestações e culminou com uma onda de ocupações que chegou a mais de 220 escolas. A luta ganhou as ruas, a opinião pública e obrigou o governador Alckmin (PSDB) a suspender a “reorganização” escolar. No dia 4 de dezembro o decreto para a transferência de professores de uma escola para outra foi revogado e o Secretário da Educação Herman Voorwalrd foi demitido por não ter “segurado o rojão”.

Apesar do recuo, os estudantes estão desconfiados, e com razão! Alckmin não desistiu de seu plano de cortar gastos da educação, o real objetivo da reorganização. Ele anunciou que quer retomar a discussão no ano que vem, “escola por escola”, o que é uma armadilha.

Os estudantes queriam defender as escolas…

A primeira ocupação foi em 9 de novembro na E.E Diadema, se multiplicou em todo o estado. Os secundaristas buscaram o apoio de ex-alunos, pais e professores. Aprenderam a se organizar.  Um estudante explicou: “reunimos a galera numa assembleia que decidiu ocupar. No dia seguinte entramos na escola e com cadeados e correntes fechamos os portões. Houve resistência da diretoria e de alguns alunos contrários, mas no fim conseguimos ficar”.

Em outra ocupação, no Maria Petronila, na Zona Sul da capital, um ex-aluno, ex-presidente do grêmio, voltou para ajudar: “estudei a vida toda aqui e acho que é minha responsabilidade ajudar”.

Nas ocupações as atividades envolviam todos os participantes, as assembleias eram quase diárias e reuniões regionais organizavam a divisão de tarefas.

Foi a ação dos estudantes que impediu a reintegração de posse decidida pela Justiça. Em várias escolas, os alunos organizaram a resistência contra a pressão policial diária para que desocupassem.

…Alckmin queria guerra

Em 29 de novembro vazou um áudio da reunião do chefe de gabinete do Secretário da Educação, Fernando Padula, onde ele conversa com dirigentes de ensino, apresenta militantes do PSDB e anuncia que agora iria à guerra contra os estudantes.

No dia seguinte, várias escolas foram cercadas por funcionários da secretaria e gente paga pelo PSDB, tentando invadir as escolas, com o apoio da Polícia Militar (PM).

Os secundaristas resistiram e, uma por uma, as escolas repeliram as invasões e colocaram a PM e os bate paus do PSDB para fora.

Nos dias seguintes, centenas de estudantes em comissões das ocupações se organizaram para fechar o trânsito em pontos estratégicos da cidade, com manifestações com cerca 40 a 50 estudantes e que, apesar do apoio da maioria da população, enfrentaram brutal repressão policial.

Chovia bombas sobre os estudantes, mais de 30 foram detidos ou presos temporariamente. A polícia que chegou a acusar estudantes secundaristas de 18 anos de corrupção de menores e formação de quadrilha (!). O tempo todo a PM agiu com violência, algemando menores de idade, enforcando, batendo, espancando e até roubando as cadeiras de salas de aulas, símbolo da luta.

Tamanha truculência não arrefeceu o ânimo dos estudantes. Alckmin, com a popularidade despencando, foi obrigado a reconhecer a derrota e mudar sua tática.

Anunciado o recuo, na Virada Cultural das ocupações com dezenas de artistas, os estudantes comemoraram.

Começam as desocupações, a luta deve continuar

Com a vitória, começaram as desocupações. Algumas escolas se mantêm ocupadas, os estudantes argumentam que é preciso permanecer até que Alckmin cancele a reorganização. Mas o sentimento que parece ser majoritário nas ocupações é de que essa vitória, ainda que parcial, permite encerrar as ocupações, terminar o ano letivo e preparar as forças para o novo combate. Como resumiu um estudante da E.E. Caetano de Campos “é uma vitória, mas é um adiamento. Arrancamos dele (Alckmin) a última gota este ano, mas temos que nos preparar para o ano que vem”.

O saldo da será ainda medido pela capacidade dos estudantes de reforçarem a criação de grêmios estudantis, organizando-se desde a base para reconstruir uma verdadeira a União Municipal de Estudantes Secundaristas na capital, e se apropriarem de suas entidades estadual (UPES) e nacional (UBES). Para isso não ajuda a política sectária de setores do PSTU e do Movimento Passe Livre MPL que dificultaram a unificação do movimento.

A Juventude Revolução que defendeu nas ocupações a criação de um comando unificado de estudantes eleitos das escolas ocupadas com a participação de todas as entidades estudantis, entende que é o momento de desocupar. Para dar continuidade à luta, propõe a formação de comitês amplos contra a reorganização e a construção de um encontro de estudantes secundaristas no ano que vem para construir a unidade contra a manobra de Alckmin que quer envolver os estudantes no debate “escola por escola”.

Nenhuma escola, nenhuma sala fechada! Com esse slogan vamos entrar em 2016: “não tem arrego! ”.

Artigo originalmente publicado na edição nº 778 do jornal O Trabalho de 10 de dezembro de 2015

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