No Peru, Castillo muda ministros sob pressão da direita

A velocidade como se desenvolve a crise política do governo encabeçado por Pedro Castillo no Peru é impressionante.

Como se recorda, Castillo foi eleito em abril deste ano num 2º turno polarizado com a direitista Keiko Fujimori. Ele tomou posse, após meses de questionamento aos resultados eleitorais por parte dos partidos que apoiaram Keiko, em 28 de julho e nomeou como chefe do seu gabinete de ministros a Guido Bellido, do partido Peru Livre (PL).

Em 27 de agosto, com o Congresso cercado por milhares de manifestantes pedindo “voto de confiança” a Bellido – uma exigência da atual Constituição, fruto do autogolpe de Alberto Fujimori com apoio militar em 1993 – sem o qual o ministério, que já havia sofrido a substituição do chanceler (relações internacionais) por pressão da Marinha, não poderia assumir suas funções. Com apenas 30 parlamentares sobre o total de 150, o PL, partido de Castillo, dependia dos votos do “centro”, o que acabou sendo obtido graças à mobilização e pressão popular.

Mas, em 6 de outubro, um dia antes de uma jornada nacional de luta convocada pela CGTP (central sindical), de forma repentina o presidente Castillo substituiu sete ministros, inclusive Bellido, colocando em seu lugar Mirtha Vásquez, da Frente Ampla (centro-esquerda), política ligada a uma ONG ambientalista que havia participado do governo anterior, presidido por Sagasti. A nova chefe de gabinete, que deve obter sem dificuldades o “voto de confiança” do Congresso, ao ser indicada por Castillo declarou que “a Constituinte não é uma prioridade”.

Mudanças agradam a burguesia
A burguesia local viu com bons olhos a mudança de ministros. O tradicional jornal “El Comércio” saudou, em 8 de outubro, “a nova equipe ministerial que deveria deixar a linguagem extorsiva e ameaçadora contra a empresa privada e enterrar de vez a carta da Assembleia Constituinte”.

Na semana anterior às trocas de ministros, o cenário esteve marcado pela discussão sobre a nacionalização do gás, defendida por Bellido, e pela adoção da Agenda 19 pelo ministro do Trabalho, Iver Maraví que tinha apoio dos sindicatos. Maraví também foi substituído.

É importante destacar que toda essa reviravolta ocorreu após a viagem de Pedro Castillo aos EUA para o seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU em 21 de setembro (ocasião em que abandonou a sala no discurso de Bolsonaro). Ele foi acompanhado por uma comitiva que incluía empresários peruanos e que esteve em Washington e Nova York. Daí teria saído a ideia de buscar um consenso com o “centro político” no Peru, o que se daria através de um ministério “mais moderado”.

Crise aberta no PL e mobilizações de massa
Esse giro brusco de Castillo provocou reações de parlamentares e dirigentes do PL, alguns deles dizendo que o presidente estava traindo o mandato que recebeu do povo peruano, em particular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Assim, tudo indica que haverá uma fratura no atual partido do presidente. Circulam rumores de que Castillo já estaria organizando outro partido, com os seus aliados mais próximos, e que romperia com o Peru Livre, que é atacado diariamente pela imprensa e a oposição como refúgio de “terroristas” que teriam feito parte do extinto grupo “Sendero Luminoso”.

Mas, em 7 de outubro a Jornada Nacional de Luta da CGTP, em apoio às reivindicações de todos os sindicatos em luta (há 198 conflitos em todo o país), realizou-se com força. Nas marchas ecoava a exigência “urgente, urgente, Assembleia Constituinte”.

Nas greves e mobilizações vários sindicatos se somam à campanha, lançada pelo deputado Jaime Quito do PL (com o apoio do demitido Bellido), para a obtenção de 2,5 milhões de assinaturas por um plebiscito que decida a convocação da Constituinte. Essa campanha tem a adesão de Assembleias Populares, como as de Lambayeque e Ayacucho, que juntam representantes de organizações sindicais e populares, de regionais da CGTP e sindicatos, que estão coletando adesões nas ruas e no bojo dos conflitos existentes.

A seção da 4ª Internacional no Peru, que anima o jornal “El Trabajo” como tribuna livre que associa militantes sindicais e políticos de distintas origens para a intervenção na luta de classes, participa também dessa campanha pela Constituinte, em estreita ligação com a defesa das reivindicações urgentes do povo peruano, buscando ajudar na auto-organização de setores sindicais e populares, seja em comitês unitários de luta, em frentes de defesa e na extensão da formação de assembleias populares em todos os distritos e províncias do país.

Sim, pois na crise política já aberta no governo de Pedro Castillo, a última palavra será dada pela luta de classes e pelo grau que for alcançada na auto-organização dos trabalhadores e das massas oprimidas do Peru em seu combate pela emancipação e pela soberania nacional.

Correspondente

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