O aquecimento global e a política do imperialismo

Jean-Sébastien Pierre e François Péricard •

Os dois artigos abaixo foram publicados originalmente no Jornal “Informations Ouvriere” (Informações Operárias) edições nº 121 e 123. Este jornal é tribuna livre dos trabalhadores publicada pelo Parti Ouvrier Indépendant (Partido Operário Independente), partido francês aderente do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT) da qual participa a Corrente Comunista Internacionalista, seção francesa da 4ª Internacional.

PRIMEIRA PARTE

Os “erros” científicos

Há mais de 20 anos, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC [Intergovernamental Panel on Climate Change], órgão da ONU) profere afirmações científicas apresentadas como totalmente indiscutíveis. Em todo o mundo, elas servem de garantia a projetos políticos ultra-reacionários.

Jean-Sébastien Pierre,
professor de biologia evolutiva e de ecologia na Universidade de Rennes

 

O Conselho InterAcadêmico (IAC [InterAcademy Council], reunião de quinze das principais academias de ciências nacionais), uma das maiores autoridades científicas mundiais, tornou público um relatório que revela erros grosseiros nos trabalhos do IPCC, caracterizados, em termos duros, como incompletos e tendenciosos, falsos em vários pontos específicos. É uma crítica radical que chega à recomendação pública de que o IPCC seja reformado profundamente.

Na próxima semana informaremos sobre a origem do IPCC, fundado em 1988 sob a tutela da ONU, sua natureza, seu funcionamento e seus objetivos.

Constatamos primeiro que as dúvidas sobre a confiabilidade científica de seus anunciados peremptórios, para não dizer arrogantes, não datam de ontem. E lembremos a questão de bom senso colocada por Vincent Courtillot, geofísico, membro do Instituto, em entrevista que concedeu ao nosso jornal em fevereiro: “Pode haver verdade oficial na questão do aquecimento climático?”

Desenvolvimento sustentável, perigo dos gases para o efeito estufa (principalmente o CO2) e proteção do meio ambiente foram, de fato, os principais “conceitos” desenvolvidos sob a caução e a autoridade autoproclamada do IPCC.

Vejamos… Uma apresentação sumária das curvas dos principais gráficos conhecidos sobre o assunto mostra que os períodos de reaquecimento global estão associados a uma elevação da taxa de gás carbônico na atmosfera, e os períodos glaciais com sua diminuição. Esse paralelismo tem sido citado constantemente como prova da “responsabilidade” do CO2 na temperatura da atmosfera. O problema é que, nessas grandes escalas de tempo, os eventos que parecem simultâneos podem ser espaçados em várias centenas de anos, e um estudo atento desses gráficos mostram igualmente que, na maioria das vezes, o aumento da taxa do gás carbônico acompanha a temperatura com um atraso de 800 a 1000 anos, o que pode sugerir que, no passado, é o aumento da temperatura que geralmente causa a elevação do CO2 e não o contrário.

 

A falência da curva do “taco de hóquei”

Em 2001, o terceiro relatório do IPCC se apoiava principalmente na curva dita “taco de hóquei” proposta pelo climatologista Michael E. Mann em 1988. Trata-se de uma reconstituição das temperaturas dos últimos mil anos. A curva mostraria uma estagnação aproximativa das temperaturas do ano 1000 ao ano 1900, seguida de um crescimento brutal durante o século XX. A curva de Mann rapidamente se torna uma peça convincente do dossiê. Ela invade até os manuais escolares, pelo menos na França, nos cursos de ciências da vida e da terra, as chamadas ciências naturais.

Mas, essa curva vai se revelar totalmente falsa. Para construí-la, seus autores utilizaram uma metodologia estatística completamente errada.

A questão passa a ser levantada por Steve McIntyre e Ross McKitrick, assim que a metodologia é totalmente refutada por outro relatório científico feito por Edward J. Wegman, presidente do Comitê de Estatísticas da Academia de Ciências dos Estados Unidos. Este último mostra que se pode obter a famosa curva do taco de hóquei com dados totalmente aleatórios, desde que se aplique a metodologia errônea de Mann.

Este relatório é tão cientificamente preciso que não é contestado por ninguém.

Mann publica na revista Nature uma curva “corrigida”, alegando “novos dados”.

 

Os erros intencionais de reconstituição do clima

O IPCC, em 2007, publicou essa nova curva sem nenhum comentário, substituindo o anterior, mas numa posição bem mais discreta.

Ao mesmo tempo, McIntyre e McKitrick dão a estocada final nessa reconstrução das temperaturas, mostrando que ela se apóia apenas no peso dado aos anéis dos troncos de algumas árvores fossilizadas, escolhidas arbitrariamente. É incontestável que a curva em formato de taco de hóquei está liquidada.

Em novembro de 2009, é o “Climategate”. Um site na Internet divulga um conjunto de e-mails e de arquivos trocados entre os principais pesquisadores da unidade de pesquisa climática da Universidade East Anglia, no Reino Unido. Seu conteúdo sugere fortemente que parte dos erros de reconstituição do clima seria intencional. Um verdadeiro embargo circunda as observações feitas em mais de 90.000 mensagens dos cientistas.

Os modelos climáticos contêm, forçosamente, incertezas consideráveis sobre os fenômenos físicos em questão, particularmente sobre aqueles buscados para impingir à opinião pública do mundo inteiro e que se apóiam sobre uma “aceleração” do sistema, o aumento da temperatura devido ao CO2 provocando uma liberação maior deste e de outros gases que causam o efeito estufa.

Esse fenômeno, chamado de retroalimentação ou feedback, não parece corresponder ao que é observado nos milênios passados.

 

Direito de poluir cotados na bolsa!

Acrescentamos que cientistas de alto nível como Ferenc Miskolczi, Svensmark e Löhl apresentam hipóteses, a partir de constatações diferentes, mas convergentes, segundo as quais nós estaríamos entrando agora… em um período de resfriamento da Terra, talvez até de uma nova era glacial!

A controvérsia científica é normal. Sobre a questão climática, chamamos atenção para o fato de que este debate existe, com incertezas, erros, comparações de métodos e de teorias. Isso é absolutamente normal. A existência do IPCC, monstro misto científico-governamental em escala mundial, distorceu completamente essa discussão.

O IPCC foi criado baseado na afirmação de que o aquecimento observado era de origem humana (o que é parcialmente possível) e fez de tudo para impor, através da propaganda, essa opinião como verdade absoluta. Imensos interesses se misturaram nesse debate: a propaganda reacionária das ONG’s “ambientalistas” pregando o retrocesso e a ação dos governos imperialistas, buscando realmente organizá-lo, marcaram o ritmo dos debates sobre o aquecimento do clima e as grandes conferências internacionais: Rio, Kyoto, Montreal, Copenhague. Um mercado mundial da “poluição” pelo CO2 surgiu. Direitos de poluir são cotados na bolsa! Os “líderes mundiais” conduziriam a uma reorganização completa do mundo industrial.

 

————————— MARCOS CRONOLÓGICOS————————— 

• 1988: Criação do IPCC sob a tutela da ONU.

• 1992: “Cúpula da Terra”, também conhecida como Rio-92 ou Eco-92, no Rio de Janeiro, que impõe a exigência do desenvolvimento sustentável e de acordos multilaterais sobre o ambiente (preparado pelo primeiro relatório do IPCC de 1990).

• 1997: Cúpula e protocolo de Kyoto denunciando o gás do efeito estufa, o CO2, e exigindo a redução de suas emissões ou sua compensação através dos “direitos de poluir” (preparado pelo segundo relatório de 1995).

• 2007: Reunião sobre o ambiente na França, após o terceiro relatório (2001).

• 2009: Conferência de Copenhague: vontade de afirmação em escala mundial dos objetivos de Kyoto (preparado pelo quarto relatório do IPCC de 2007). Discurso de Barack Obama sobre a necessidade de uma nova governança mundial.

————– A FRAUDE DAS GELEIRAS DO HIMALAIA ————– 

A gafe mais monumental do relatório do IPCC se refere ao desaparecimento total das geleiras do Himalaia em 2035! O IPCC não pôde evitar reconhecer este erro flagrante, tergiversando que ele teve sua origem em uma simples revista de vulgarização, sem pretensão científica alguma, que tinha ocorrido um erro de impressão (2035 ao invés de 2350…). É nesse nível…

Certamente, o alcance desse erro pode ser considerado como limitado de um ponto de vista científico. É, portanto, um verdadeiro escândalo. Trata-se de uma das afirmações fornecidas aos jornais de todo o mundo – como esta outra igualmente fantástica: a metade da Holanda estaria sob o novo nível do mar – para permitir-lhes exagerar até o infinito sobre as centenas de milhões de seres humanos (até um bilhão, segundo um grande jornal indiano) fadadas num prazo muito curto a se transformarem em “refugiados climáticos” antes de morrer por conta das inundações, dos tsunamis, de fome e de epidemias. Sempre a mesma vontade: o catastrofismo, culpar e aterrorizar as pessoas de todo o mundo.

 

SEGUNDA PARTE

As imposturas políticas

Mostramos, no artigo anterior, os numerosos “erros” cometidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês) há mais de vinte anos em suas afirmações científicas. Falsas provas, trazidas à luz pelas maiores autoridades científicas internacionais, reconhecidas por muitos e até mesmo pelo próprio IPCC. Elas têm por objetivo impor um modelo pretensamente irrefutável: a catástrofe do aquecimento climático está em marcha e é inexorável; deve-se impor o “desenvolvimento sustentável”, mudar, de fato, todo o funcionamento da economia mundial. Por quê? De onde vem o IPCC? Como ele funciona? A que serve?

Por François Péricard

O IPCC não surgiu do nada. Criado em 1988 pela ONU, ele foi instituído como instrumento e respaldo científico de um projeto iniciado nos anos 1970, no seio dos círculos mais restritos do alto grupo financeiro internacional, do imperialismo.

Reagrupados no seio do Clube de Roma, sob a batuta de Rockfeller e outros, como Agnelli (dono da FIAT italiana), começaram a considerar que o funcionamento da economia mundial já não lhes assegurava lucros suficientes. A revolução industrial e o modo de produção que ela engendrou já não bastam para suas necessidades, não é mais suficiente.

Para o capital financeiro, existem muitos operários e camponeses no planeta, muitos trabalhadores com muitas organizações independentes, um movimento operário estruturado através de mais de um século de lutas de classe. Ele planeja reestruturar tudo de cima a baixo, deslocar todas as atividades de produção, acabar com as conquistas sociais e os serviços públicos dos países industrializados, privar de suas riquezas naturais os povos da Terra, esmagados por sua suposta dívida e pelos planos de ajustes estruturais.

Os “mestres do mundo” querem preparar, em escala planetária, pelo menos um começo de desindustrialização. Precisam, então, impingir aos povos do mundo – e, muitas vezes, até a alguns de seus governos ainda não completamente convencidos – que não é o sistema da propriedade privada dos meios de produção que provoca as crises econômicas e financeiras, mas a própria atividade humana.

Mas o que o “aquecimento global” e todas as afirmações que o precederam e o acompanham têm a ver com isto?

Na primeira parte desta investigação, Jean-Sébastien Pierre, professor de biologia evolutiva e de ecologia, caracterizou o IPCC como um “monstro misto científico-governamental em escala mundial”. Isso é, de fato, a exata realidade, e o desenrolar dos acontecimentos é claro…

Em 1987, temos o relatório da norueguesa Gro Brundtland, primeiro documento oficial da ONU a evocar em termos brutais o efeito estufa, a responsabilidade criminosa dos que submetem o planeta à emissão de gases que provocam o efeito estufa, dentre os quais o CO2, qualificado na ocasião de gás “politicamente interessante” (nosso destaque). Na seqüência, os sete “grandes” do G7 fazem com que a ONU decida pela fundação do IPCC, como mencionado anteriormente. O palco está montado para as grandes conferências internacionais de Haia, Rio, Kyoto e, mais recentemente, Copenhague, todas acompanhadas de um verdadeiro furor midiático (não existe outro termo) debruçado sobre grandes temas da ecologia política.

 

Sob hipótese nenhuma uma instituição científica

Na tradução francesa, o IPCC é o GIEC-Groupe d’Experts Intergouvernamental sur l’evolution du climat (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima); notamos que a inicial “I” não significa independente, mas sim intergovernamental. Na versão em inglês, apenas IPCC – “Intergovernamental Panel on Climat Change” –, ou seja, Grupo Intergovernamental sobre a Mudança Climática. Notemos que essa designação inglesa não menciona o termo “especialista”; o termo panel significa simplesmente grupo, conjunto.

O IPCC não é, sob hipótese alguma, uma instituição científica. Trata-se de uma organização política internacional, cuja missão, estabelecida pela ONU, é “avaliar as informações de ordem científica, técnica e sócio-econômica necessárias para compreender os riscos ligados à mudança climática de origem humana.”

Esta carta-compromisso especifica, desde o início, que a mudança climática tem origem na atividade humana. Seus membros não são eleitos ou designados pela comunidade científica, mas nomeados pelos governos. Cento e noventa e quatro governos estão representados e são membros plenos do IPCC. Ele está sob a autoridade institucional da ONU e da Organização Meteorológica Mundial.

O IPCC está dividido em três grupos de trabalho, onde apenas um se ocupa da ciência do clima e é dirigido, desde 2002, pelo indiano Rajendra Pachauri, que tem responsabilidades consideráveis no mercado do desenvolvimento sustentável, principalmente à frente da Organização Tata (grupo industrial hindu).

Rapidamente, cientistas de renome mundial como John Christy, Madhav Khandekar, Christopher Landsea, Hajo Smit e muitos outros deixam de colaborar com o IPCC. A unanimidade inequívoca que eles têm por tarefa tornar indiscutível não corresponde ao estado de seus conhecimentos nem de suas pesquisas. Especialistas em meteorologia, principalmente, se afastam cada vez mais da instituição da ONU, sendo substituídos por outros “especialistas”, desta vez em ciências econômicas. Tudo programado.

Quanto àqueles que logo são chamados de “céticos climáticos”, são tratados como farsantes, como negacionistas e são ridicularizados. A publicação de seus trabalhos nas revistas científicas de referência se torna mais difícil, assim como, sobretudo, seu acesso aos laboratórios e a financiamentos de pesquisas.

Há apenas uma via para eles: afirmar que o aquecimento climático é uma evidência absoluta, apresentar qualquer dado sobre o tema, mesmo o mais banal, como um exemplo certo do novo credo mundial.

 

————————- ESCLARECIMENTO ————————- 

O CO2, um gás “politicamente interessante”!

As aspas se impõem aqui, visto que a afirmação parece grotesca e delirante. O que pode haver de político na natureza de um gás? A afirmação consta com todas as letras (e sem aspas) no relatório Brundtland da ONU (1987), um dos pilares pretensamente teóricos e científicos, dos trabalhos do IPCC. Mas, certamente, isso tem um sentido…

O dióxido de carbono, ou gás carbônico (CO2), é um componente da atmosfera terrestre. Ele é essencialmente de origem orgânica e indispensável à nutrição das plantas e das vegetações do planeta. Elas o absorvem durante o dia e expelem o oxigênio durante o processo natural da fotossíntese. É a única fonte de oxigênio em todo o planeta; não pode haver vida na terra sem que o CO2 esteja presente em quantidade suficiente na atmosfera. Desde a segunda metade do século XIX, a concentração de CO2 passou de 280 para 388 ppm (partículas por milhão).

A origem humana desse crescimento é incontestável: combustão de petróleo e seus derivados, desmatamento das florestas tropicais, queima de cimento etc. Isso o torna um agente poluidor?

É necessário primeiro entender o sentido desse termo, principalmente sua origem etimológica do latim pollutio: sujeira, mancha. E ele pode ser, por si só, um fator de aquecimento climático? Supondo admitidos dois postulados perfeitamente incertos – que existe o aquecimento climático e que o “efeito estufa” (retenção da radiação solar pelos gases da atmosfera) seja causado por alguma coisa – por que, mais que outros gases igualmente considerados responsáveis pelo efeito estufa (o metano, o óxido nitroso ou outros compostos fluorados e, sobretudo, o vapor de água, cujo desenvolvimento é o mais difícil e mais incerto à modalização), justamente o CO2? É porque o CO2 é um símbolo, muito político nesse momento: o símbolo da era industrial.

Sua denúncia pode servir de apoio à denúncia das atividades humanas desse período. Os fraudadores do relatório Brundtland não ousaram chegar a chamá-lo de “politicamente correto”, mas é isso que queriam dizer, do seu ponto de vista.

Esta é a origem da grande falsificação constantemente martelada em todos os lugares, tanto que as propagandas de automóveis (todos!) fazem da baixa taxa de emissão de CO2 de seus novos modelos um argumento de venda! É por isso que é necessário satanizar esse gás: o CO2 é o apocalipse.
Tradução Tiago de Almeida

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