A Argélia vive ao ritmo de mobilizações revolucionárias há mais de um ano. Nesse contexto o 8 de março foi marcado por grandes manifestações de mulheres em geral e de trabalhadoras em particular.
Nas ruas da capital, Argel, elas realizaram uma marcha de mais de quatro horas, enfrentando e contornando um forte aparato repressivo.
Em resposta ao presidente Tebboune, que havia feito um discurso falando da “festa das mulheres” elas responderam: “não viemos festejar, viemos exigir a saída de todos vocês”.
Em 13 de março, como há um ano em toda sexta-feira, os argelinos saíram em massa às ruas do reafirmando a exigência de libertação de todos os presos políticos, o rechaço à repressão e, sobretudo, a vontade de acabar com o regime.
No dia seguinte, pela terceira vez consecutiva, as tentativas de manifestação em Argel e Oran foram duramente reprimidas.
Por causa do coronavírus, o Primeiro-Ministro pediu aos manifestantes para suspender as mobilizações por razões sanitárias. Mas ao mesmo tempo recusou-se a proibir a celebração de cultos religiosos. Depois de vários dias de polêmicas e protestos o governo recuou e aceitou fechar as mesquitas.
Sistema de saúde está à mingua
Ainda mais porque é a política do regime que deixa os hospitais argelinos à míngua. Embora os médicos e suas equipes sejam qualificados e competentes eles trabalham em condições deploráveis. Segundo dados oficiais, no conjunto do território, não passam de algumas centenas os leitos para doenças graves, num país de 42 milhões de habitantes.
Mas a saúde não é o único setor devastado pela política destruidora do governo. Também o é a educação básica, a universidade, a moradia, os serviços públicos de maneira geral.
Num país em que a juventude é uma parte importante da população e sofre maciçamente com o desemprego, a precarização fragiliza, do ponto de vista sanitário, toda a população, que tem pouco ou nenhum acesso ao sistema de saúde.
Tudo isso ocorre quando o preço do petróleo caiu para menos de 30 dólares o barril, alimentando a crise econômica no país – a Argélia tem 98% de suas receitas oriundas da exploração do petróleo e gás.
Lembremos que o regime não apenas decidiu privatizar parcialmente o setor petroleiro mas também suprimiu a medida de proteção nacional conhecida por 51/49 (o investimento estrangeiro não podia ultrapassar 49% de uma empresa, os outros 51% sendo do Estado) e anunciou sua pretensão de simplificar as normas e regulamentações para facilitar os investimentos.
Não demorou nada para os industriais e capitais franceses se apressarem a agir para “revigorar a antiga parceria econômica”, como declarou, durante visita a Argel, na primeira semana de março, o Ministro de Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian.
Na atual situação, é claro que a população argelina se preocupa com a crise do coronavírus. Não se sabe o que será das mobilizações do povo com essa pandemia. Mas é preciso observar que nesta terça-feira, 17 de março, uma vez mais os estudantes e numerosos outros cidadãos saíram novamente às ruas de Argel para exigir o fim do regime.
Correspondente