“O que a Otan fez ao meu país em 1999”

O retorno às privatizações no que era a República Socialista Federativa da Iugoslávia não poderia ter acontecido sem a desintegração do Estado, constituído por seus diferentes povos, que lutavam por uma sociedade socialista; luta travada não só contra o fascismo, durante a Segunda Guerra Mundial, mas também por justiça social, pelo socialismo e pelos direitos de todos os seus povos.

O imperialismo apoiou, e muitas vezes instalou, facções nacionalistas que provocaram guerras fratricidas em resposta a greves e manifestações de trabalhadores contra o processo de desmantelamento da propriedade social e contra a guerra. Finalmente, interveio diretamente por meio de sua organização militar, a Otan, pela primeira vez na Bósnia-Herzegóvina em 1995, e depois bombardeando a Sérvia de 24 de março a 10 de junho de 1999.

Slobodan Milosevic, então presidente da Sérvia, governou com métodos ditatoriais […]. Para o imperialismo estadunidense, ele não promoveu com a rapidez suficiente as privatizações e a retirada dos direitos sociais herdados do socialismo. Milosevic temia a reação dos trabalhadores que se recusavam a ir à guerra contra seus companheiros de outras nações e dos trabalhadores que defendiam os direitos sociais adquiridos. O imperialismo dos Estados Unidos, com pressa, usou a força militar direta da Otan. Essa intervenção foi realizada sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.

EUA e OTAN bombardeando Belgrado, ex-Iuguslávia, em 1999, sem o aval da ONU.

“Tapete de bombas”
Nos primeiros dias, alvos militares foram bombardeados, mas muito rapidamente os bombardeios se espalharam para instalações civis. […] A Rádio e Televisão da Sérvia (RTS) foi alvejada, o que matou 16 funcionários. O regime de Milosevic também foi responsável por esse crime, pois tinha informações de que a RTS seria um alvo, então a direção da TV fugiu e os trabalhadores foram deixados ao abandono.

A embaixada chinesa foi atingida e durante essa operação vários cidadãos chineses foram mortos. O Centro Clínico Dragisa Misovic, a Clínica de Neurologia, o Centro de Doenças Pulmonares Infantis em Belgrado, o Centro de Gerontologia em Surdulica e muitos outros centros de saúde também foram bombardeados, o que causou a morte de mais de cem pacientes e funcionários […].

Sob a ameaça de bombardeio indiscriminado de cidades, do chamado “tapete de bombas”, e a pressão diplomática conjunta dos Estados Unidos e da Rússia, a Sérvia assinou com a Otan o acordo de Kumanovo, que previa a retirada do exército iugoslavo do Kosovo e a entrada das tropas da Força do Kosovo (Kfor), sob o comando da Otan.

Eu vi tanques e outros veículos blindados entrando em Pristina (capital do Kosovo – NdT) com a insígnia da Otan. Alguns dias depois, removeram essa insígnia e a substituíram pela da Kfor. O mesmo exército que invadiu tornou-se o exército da força internacional que fez o papel de pacificador.

O comandante da Kfor tinha o poder de atribuir a quem quisesse, para uso sem compensação, tudo o que era propriedade do Estado. Foi assim que ele adquiriu a propriedade de muitas empresas estatais por meio de corrupção […].

O número total de vítimas civis do bombardeio da Otan nunca foi determinado. As estimativas variam de 1.200 a 4 mil vítimas. A maioria dos civis foi morta por bombas de fragmentação de urânio empobrecido, cujo uso é proibido […].

No ano seguinte, o regime de Milosevic caiu, diante das manifestações de massa. Infelizmente, o descontentamento da população foi usado pela facção pró-Estados Unidos, que havia sido previamente treinada e amplamente financiada pelo imperialismo estadunidense e por países da Europa Ocidental. Essa facção tomou o poder na Sérvia. A propriedade social foi retirada da Constituição e o processo de desmantelamento da propriedade social foi acelerado […].

Isso é o que a Otan e o imperialismo dos Estados Unidos fizeram ao meu país.

Nebojsa, correspondente do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI) na Sérvia

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