Mais do que nunca, é a defesa da independência das organizações construídas pelos trabalhadores a única garantia de que uma saída positiva será aberta na atual situação
O Estado de São Paulo: em editorias e artigos “de opinião”, ataca ferozmente a militância dos sindicatos e partidos de trabalhadores; afirma que a CUT tem “alinhamento automático” com o governo; diante do anúncio de atos em defesa da Petrobrás, acusa “militantes de organizações sindicais e movimentos sociais, quase sempre manipulados pelo PT” de “radicalização política [que] começa a levar a violência às ruas das principais cidades do País”; até para se posicionar contra o impeachment ameaça com “militantes petistas, sindicalistas da CUT e das demais centrais, brigadistas do MST e semelhantes não se conservarão indiferentes (…) camisetas vermelhas invadirão praças e avenidas com a violência fácil de imaginar”;
A CONLUTAS (braço sindical do PSTU) em artigo de 10.03 assinado por um dirigente condena o que chama de “lamentável papel da CUT e do MST”:
“CUT, MST, UNE, CTB, a Consulta Popular e outras organizações pró-governo vão realizar manifestações no dia 13 de março levantando bandeiras como a reforma política, a defesa da Petrobras e criticando as medidas econômicas do governo Dilma.” Dizem ainda que a maior parte da chamada frente de esquerda “estará nas ruas defendendo o governo Dilma” e conclui: “não estaremos nos atos do dia 13”.
O PSOL, em nota oficial, afirma que não participa do dia 13 porque “o partido não endossará atos cujo eixo seja apenas de defesa do atual governo”. Em nota, seu deputado Chico Alencar nega o “apenas” dizendo: “o ato do dia 13 é de apoio ao governo Dilma, por mais que elenque críticas pontuais a MPs recém-editadas”.
A Força Sindical do Paraná adere ao “nem 13, nem 15” do PSOL e do PSTU dizendo que só participa “de manifestações que valorizem a democracia, respeitem o Estado de Direito, busquem avanços sociais e defendam as conquistas trabalhistas”.
O “Revoltados On-line”, por sua vez, soube do ato convocado pela CUT e MST para São Paulo, em frente à Petrobrás, às 15h00 do dia 13 e na vã tentativa de impedi-lo marcou outro ato no mesmo local e horário.
O que tem eles em comum?
Nem Estadão, nem PSTU-CONLUTAS, nem PSOL, nem Força Sindical do Paraná, nem Revoltados On-line desejam que os trabalhadores se manifestem dia 13 de março (para não falar de emissários do próprio governo que pressionaram para o adiamento dos atos).
Por que?
OESP e “Revoltados” não querem porque preferem, é claro, a manifestação golpista e pró-imperialista do dia 15.
O PSOL porque é “oposição programática de esquerda ao governo”.
A Força Sindical do Paraná porque “os trabalhadores não são massa de manobra”.
Já o PSTU-CONLUTAS não quer a unidade no dia 13 porque se considera a “alternativa aos campos do governo e da oposição de direita” – só faltando avisar os trabalhadores!
Ruptura da unidade
Ao adotar essa posição o PSTU-CONLUTAS rompe uma unidade construída poucas semanas antes, no fim de janeiro, quando, junto com a CUT, CTB e as entidades dos servidores federais assinou um documento intitulado: “Governo Dilma: medidas penalizam, cortam e atacam direitos dos trabalhadores” que afirmava:
“O Dia Nacional de Lutas contra as MP ́s 664 e 665 e em defesa dos direitos da classe trabalhadora mobilizou unitariamente todas as centrais sindicais brasileiras e reuniu dezenas de milhares de pessoas em todas as regiões do país no dia 28 de janeiro, superando as expectativas dos organizadores e revelando à sociedade a rejeição do povo às referidas MP ́s. As medidas impostas pela nova equipe econômica sob o comando de Joaquim Levy não só subtraem direitos dos trabalhadores e trabalhadoras como ampliam a estagnação e recessão econômica. Esta é uma razão a mais para que sejam revogadas.
O caminho que defendemos é outro. Exigimos a mudança da política econômica(…) Em contraposição os interesses dos rentistas que hoje influenciam fortemente a política econômica, conduzem à estagnação, à recessão e ao retrocesso social, conforme se vê hoje na Europa.
Lutamos não só para preservar os direitos e conquistas do nosso povo como também para ampliá-las, evitando o retrocesso e avançando na direção de transformações sociais mais profundas com valorização do trabalho que deve abrir caminho para a superação do decadente sistema capitalista e construção de uma nova sociedade justa e igualitária.”
Esse é o documento que faz o balanço do dia 28 de janeiro do qual o CONLUTAS participou e que apontava para novas lutas unitárias.
O que mudou de lá para cá? Bastou apertarem o cerco da imprensa ao governo. Bastou os golpistas pró-imperialistas urrarem no panelaço de 9 de março para os “radicais” enfiarem a viola no saco? Para que passassem, como dizem no artigo, a “entender o sentimento de muitos trabalhadores a favor do impeachment”? Estarão se preparando para abandonar o terreno da classe trabalhadora e “disputar esse movimento”?
Na EuromaÏdan, na Ucrânia, os autos intitulados “ultra-radicais-revolucionários” se colocaram lado a lado, ombro a ombro, com os neonazistas apoiados financeira e politicamente pelo imperialismo estadunidense achando alegremente que estavam “fazendo a revolução”! Há quem, aqui, esteja se preparando para fazer o mesmo?
No final do seu artigo o PSTU- CONLUTAS faz um patético chamado à “CUT, MST, UNE” e “às demais centrais sindicais, como a Força Sindical para que rompam as negociações com o governo e unifiquemos os nossos esforços para realizar um dia de greve geral no país”. E ainda dizem que “o momento atual exige que a direções da CUT, do MST e da UNE rompam com o apoio político que seguem dando ao governo Dilma”
Greve geral? Com que objetivo e com que pauta? A mesma do dia 13 de março mas excluindo a defesa da Petrobras e a luta pela Constituinte da Reforma Política?
Para o PSTU-CONLUTAS é “governismo” um Dia Nacional de Luta convocado para dizer:
-Abaixo as MPs 664 e 665!
-Defesa da Petrobras! Contra a entrega do petróleo às multinacionais!
-Corrupção se combate com Reforma Política: pela constituinte exclusiva e soberana!
Seria o caso de devolver o “chamado” ao PSTU para que abandone sua cegueira sectária e não repita o “lamentável papel” que vem desempenhando ao voltar suas baterias não contra o imperialismo mas contra as organizações do movimento operário e sindical que não rezam por sua cartilha.
Que o PSTU-CONLUTAS não repita o “lamentável papel” que exerceu no momento da AP-470 e do “não vai ter copa” quando, a pretexto de que “o inimigo principal é o governo do partido operário traidor” verbalizou o mesmo discurso da direita pró-imperialista, tentando confundir os trabalhadores com o denuncismo sectário ao invés de participar das lutas unitárias em defesa das reivindicações.
Não é difícil para ninguém compreender que se os golpistas pró-imperialistas triunfarem não será apenas a CUT, o PT, o MST e as outras organizações que serão golpeadas. O próprio PSTU e a CONLUTAS também estarão na mira.
Ainda é tempo: todos aos atos do dia 13 de março, em todo o Brasil. É o que exige o atual momento de todo trabalhador consciente e de todo lutador socialista.
Edison Cardoni