Obrador visita Trump em Washington

Em 8 de julho reuniram-se López Obrador e Donald Trump em Washington. O presidente do México declarou: “Minha visita obedece em boa medida à importância que tem a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio entre México, Estados Unidos e Canadá, um avanço em benefício das três nações”.

Obrador, presidente de um país historicamente agredido e dominado pela potência imperialista dos EUA, parece se esquecer disso. Com o anterior tratado, o TLCAN (ou Nafta, da sigla em inglês), cresceram as “maquiladoras” – filiais de empresas dos EUA na zona fronteiriça – as montadoras de automóveis e as exportações, graças à mão de obra mais barata, à abertura de fronteira para importações, a entrega de recursos naturais e a perda da soberania nacional.

Já o novo tratado, cuja sigla é TMEC, abre as portas para pressões e chantagens por “descumprimento de leis trabalhistas e ambientais”, concede privilégios para companhias de tecnologia dos EUA, proíbe a assinatura de tratados comerciais com a China, além de permitir que continue em vigor a seção 232 do Código de Comércio dos Estados Unidos, através do qual foram impostas sanções ao México com pretextos como a “segurança nacional” ou a “migração”.

Jantar com grandes empresários
No jantar oferecido por Trump a Obrador estavam presentes empresários da indústria petrolífera dos EUA ao lado de dez grandes empresários mexicanos.

Empresas estadunidenses querem que Trump pressione o governo mexicano a resolver o assunto da cervejaria “Constellations Brands”. Esta empresa começou a construir uma fábrica em Mexicali, exigindo do governo um enorme volume de água de qualidade. Uma grande mobilização popular a impediu de continuar na cidade fronteiriça, obrigando Obrador a pronunciar-se em defesa da população local.

Além disso, empresários dos EUA querem permissão para criar postos de gasolina e concessões na área de energia, aprovadas no governo anterior de Peña Nieto, o que levaria a interromper os esforços de Obrador para renovar as empresas estatais como a Pemex (petróleo) e a CFE (elétrica). Essa postura de não suportar as tímidas e limitadas medidas do atual presidente é acompanhada pelas câmaras patronais e organizações de direita mexicanas.

O novo tratado não tem nada a ver com “amizade”, como parece pensar Obrador ao dizer a Trump “queremos ser amigos”. Como escreveu um articulista de “La Jornada” – principal jornal mexicano – Fernández-Vega, o discurso de Trump foi “um falatório cheio de açúcar, mais falso que uma nota de três pesos.”

Com sua defesa do TMEC, López Obrador semeia confusão nas massas, que têm ilusões nele. Mas, sem dúvida, em sua luta para resolver os seus problemas vitais, ao se colocar em movimento, essas massas vão se chocar com a política do novo tratado de livre comércio com os EUA e Canadá.

O que coloca na ordem do dia a necessidade de reagrupar os militantes e as forças que possam ajudar os trabalhadores e o povo a lutar por suas reivindicações e em defesa da soberania da nação contra as consequências desse “livre comércio”. De nossa parte, confiamos que as aspirações de transformação profunda do país que estiveram na base dos mais de 30 milhões de votos que em 1º de julho de 2018 levaram López Obrador à presidência do México, acabarão por se impor.

Luis Vázques, da Cidade do México

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