Palestina: “vamos nos unir em uma só voz”

Em meio à pandemia, os governos dos EUA e de Israel querem colocar em marcha o “Acordo do Século” anunciado por Trump em janeiro deste ano. O “acordo do século”, entre EUA e Israel, mais uma ofensiva contra o povo palestino, prevê, entre outros pontos, a exigência de reconhecimento, por parte dos palestinos, de Israel como Estado Judeu e a anexação de 30% da Cisjordânia a Israel. O primeiro-ministro israelense, Netanyahu, anunciou que colocará em votação no Knesset (o Parlamento de Israel) a anexação de parte da Cisjordânia, no início de julho.

A resistência do povo palestino, desde a criação do Estado de Israel em 1948, a qual os expulsou de suas terras, ganha um novo ponto de apoio com o manifesto que já conta com milhares de assinaturas.

O manifesto propõe eleição de um novo Conselho Nacional Palestino e foi enviado ao jornal francês Informações Operárias por um correspondente palestino do CILI (Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio). O correspondente explica: “Essa iniciativa é o produto da elaboração do Fórum Palestino (palestineforum.net) criado há dois anos, para permitir, de maneira independente, a mais ampla discussão entre nós e criar um forte movimento de opinião por essa exigência entre o povo palestino – onde quer que se encontre – e avançar para a reunificação de seu movimento nacional. A iniciativa de chamar a eleição de um Conselho Nacional Palestino despertou um amplo interesse e atraiu desde o seu lançamento, em 16 de junho de 2020, milhares de assinaturas de militantes, personalidades de toda a Palestina, dos campos de refugiados e do mundo inteiro. Ela se inscreve depois da mobilização da população da faixa de Gaza na Grande Marcha pelo Retorno, na perseverança do nosso povo na defesa de seus direitos, mas também como resultado da intensificação da campanha pelo Estado único e democrático em todo o território histórico da Palestina. Todos temos consciência de que partimos de uma situação muito difícil, devido à grande devastação política e cultural causada pelos acordos de Oslo. Hoje, uma das principais tarefas consiste em libertar os palestinos da “sociedade” destrutiva e fragmentária de Oslo e permitir que todos possam imaginar o que será uma Palestina única. Avançar para a unidade de direção palestina é uma etapa essencial deste combate.”

Manifesto propõe a reconstrução da OLP
“Nós, povo palestino, da Palestina histórica, dos países de asilo e da diáspora, pedimos a eleição de um novo Conselho Nacional Palestino, como primeiro passo para a reconstrução da Organização de Libertação da Palestina (OLP), a fim de restaurar o seu papel como entidade política representativa do povo palestino em todos os locais de residência e como dirigente de sua luta, sob todas as suas formas, sejam elas nacionais, institucionais ou eleitorais.

Esta medida torna-se ainda mais necessária neste momento em que a evolução do projeto estadunidense-sionista através do “Acordo do Século” busca liquidar a causa da Palestina e de seu povo e legalizar a colonização e a judaização de Jerusalém. Esta medida também é coerente com o anúncio feito pelos dirigentes palestinos de que a OLP vai dissolver todos os seus acordos e entendimentos com Israel e os Estados Unidos.

É também um convite que decorre do reconhecimento coletivo e incontestável da OLP como único representante legítimo de nosso povo palestino. Nossa convicção de que esta iniciativa é correta retira sua legitimidade e sua necessidade dos seguintes elementos:

1 Os estatutos de fundação da OLP (artigos 4 e 5) indicam que “todos os palestinos são membros naturais da OLP” … e que “os membros do Conselho Nacional são eleitos em sufrágio direto pelo povo palestino” … Isso mostra que a eleição é a regra  e que o sistema de quotas por facção (o “sistema de quotas”) é a exceção, e não o inverso, considerando que o desenvolvimento dos meios de comunicação e da informática poderiam permitir aos palestinos, onde quer que se encontrem, participar das eleições, usando os mecanismos apropriados.

2 Nós respeitamos e apoiamos todos os apelos e iniciativas a favor de um diálogo nacional, em todos os níveis e a qualquer momento, mas não perdemos de vista o fracasso desta opção, uma vez que o Fatah manteve seu controle sobre o governo da Cisjordânia e que o Hamas fez exatamente a mesma coisa em Gaza. Isso não nos deixa outra opção além de remeter toda a questão ao povo palestino, com um retorno às disposições dos estatutos da OLP, através do mecanismo eleitoral, que é o ponto de partida necessário para sair deste impasse e resolver a equação interna da política palestina de maneira democrática.

3 O apelo a esta opção também retira sua legitimidade da necessidade de reconstruir (reconstituir) a OLP sobre a base de uma visão nacional global que restabeleça a concordância entre a questão da Palestina, sua terra, seu povo e sua causa, a partir da unidade do povo da Palestina em todos os seus lugares de residência. E a necessidade de passar da estratégia de luta por uma parte da terra apenas, para a luta pela terra inteira e à luta pelos direitos nacionais palestinos, tanto individuais quanto coletivos.

4 O apelo à eleição de um Conselho Nacional Palestino implica em enfatizar a separação funcional e administrativa entre a OLP e a Assembleia Nacional Palestina (parlamento da Autoridade Palestina – NdT), o que devolve ao nosso movimento nacional seu caráter original de movimento de libertação nacional, a partir da unidade do povo palestino, e restaura o laço entre o povo, a terra e a causa.

5 O sistema interno da OLP (artigo 7) estipula que “O Conselho Nacional Palestino é a autoridade suprema da OLP, que define a política, os projetos e os programas da organização”. Em consequência, a eleição de um conselho nacional libertará todas as energias do povo palestino, consolidará o trabalho institucional e fortalecerá a direção coletiva e a democracia na ação nacional palestina.

Vamos nos unir em uma só voz por eleições abertas a todos os palestinos, onde quer que estejam, abrindo o caminho para a reconstrução da Organização de Libertação da Palestina como entidade de todos os palestinos”.

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