Para quem funcionam as instituições?

Eduardo Cunha é apenas a expressão mais visível da podridão do sistema político

Uma abundância de notícias é a cada dia publicada, quase que a entorpecer os olhos e ouvidos do povo, como se estivesse em curso no país um verdadeiro combate à corrupção. A caixa de pandora aberta ao vivo e a cores desde 17 de abril – no desfile de deputados votando sim ao golpe –  não faz mais que confirmar o caráter das atuais instituições do país.

O atual sistema político é movido à corrupção e para saquear os interesses populares e da nação. E não é a Operação Lava Jato – à qual se jura fidelidade – que veio para sanar o problema. Aliás não foi para isso que ela se instalou e o Judiciário faz parte desse mesmo esquema.

Eduardo Cunha, depois que prestou o serviço sujo de comandar o início do processo de impeachment -num tempo que lhe foi dado pelo Supremo Tribunal Federal – agora, virou “persona non grata”, de seus próprios pares, pelo menos em público.

Os golpistas, que dele se serviram, fingem ter descoberto agora quem ele é. O jornal O Estado de São Paulo não cessa de bradar a necessidade de sua cassação. Michel Temer finge tomar distância, enquanto os comparsas indicados por Cunha são parte de sua equipe golpista.

É evidente que a decisão do Conselho de Ética da Câmara no último dia 14 a favor do processo da cassação de Cunha foi amplamente bem recebida. Mas isso não resolve o fato de que o mesmo Congresso que permitiu que por longos oito meses Cunha usasse e abusasse para impedir sua cassação foi o que votou, sob o comando de Cunha, o golpe do impeachment.

Agora, para tentar salvar a cara do golpe, e preservar as instituições que o engendram, os golpistas procuram fazer da cassação de Cunha um pretenso saneamento.

E, ao mesmo tempo, no salve-se quem puder, os usurpadores da cadeira da presidência, andam aos sobressaltos, temem o efeito da cassação de Cunha em novas revelações, enquanto driblam os efeitos da delação premiada de Sérgio Machado, ex-PSDB, atual PMDB, ex-presidente da Transpetro.

“Fundo propina”

No mecanismo de acordo de delação premiada – mais propriamente deveria ser chamado de acordo entre interesses escusos de investigadores e investigados – Sérgio Machado disse que “o esquema na Transpetro era mantido em uma espécie de ‘fundo de propinas’, do qual saiam os pagamentos para os políticos” e explica um sistema de corrupção que existiria no país desde 1946 “segundo o qual os empresários moldavam seus orçamentos com incorporação do conceito custo político” (OESP, 16/06).

A delação de Machado colocou em polvorosa a cúpula do PMDB, a começar por Temer, já meio mal das pernas junto aos setores -empresários, mercado…- que apoiam o golpe.

Há de se convir, contudo, que o “sistema” a que Machado se refere não é segredo para ninguém, o financiamento empresarial das campanhas eleitorais.

As instituições no sistema político brasileiro, as mesmas que promovem o golpe, nunca foram moldadas por uma decisão soberana do povo, através de uma Constituinte. Elas existem e funcionam na justa medida dos interesses das oligarquias reacionárias, distorcendo a representação da maioria da nação, nelas amplamente minoritárias.  Acuado pelo envolvimento de seu nome na delação, Temer declarou: “temos hoje uma base parlamentar que revela que o país está em harmonia ao governarem Legislativo e Executivo”. “Harmonia” construída sob o comando, entre outros, de Eduardo Cunha.

A corrupção, que a Lava Jato e a mídia querem fazer crer ser obra do PT, é inerente às essas instituições.

Entre os erros do PT, a ser discutido e corrigido, está o de, no governo, ao invés de mudar as instituições, ter-se adaptado a elas.

Retomar a bandeira da Constituinte Soberana do Sistema Político deve integrar o combate para derrotar o golpe e restituir o mandato de Dilma, para promover as profundas reformas de interesse da maioria do povo e da nação – como a reforma agrária – travadas por esse sistema político apodrecido.

Misa Boito

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