Professores ocupam Assembleia e obrigam Richa a recuar
O governador Beto Richa (PSDB) queria, num mesmo pacote, atacar direitos dos professores e servidores estaduais (quinquênio, promoções e a própria carreira) e ainda liquidar a previdência, privatizando-a para ter em caixa R$ 3 bilhões.
Para tanto o tucano armou um esquema para a votação sumária dos projetos, contando com os deputados governistas que formam ampla maioria. Richa, porém, subestimou a capacidade de luta dos trabalhadores. Em 7 de fevereiro, em Guarapuava, a assembleia estadual convocada pela APP-Sindicado (entidade da categoria filiado à CUT e a CNTE) decidiu, unânime, greve geral a partir do dia 9. A adesão foi total. Os professores montaram um acampamento em frente à Assembleia. No dia 10, quando o governo anunciou um substitutivo que “atenuava” as medidas, a reação em coro foi: “Não tem acordo! Não tem acordo!”. A Assembleia já estava lotada de policiais militares.
“De fato”, diz Déborah Fait, uma das lideranças da greve em Curitiba e militante da Corrente O Trabalho, “não pode haver acordo quando tentam retirar direitos dos trabalhadores e atacar nossas conquistas históricas”. Em janeiro, Déborah havia liderado a luta dos professores contratados em processos seletivos, que ficaram sem receber salário por nove dias, forçando o governo a pagar todos os atrasados.
Ocupação da Assembleia Legislativa
Quando ficou claro que os deputados iriam aprovar o processo sumário de votação, os manifestantes derrubaram as grades da Assembleia e ocuparam o plenário, forçando a interrupção da sessão.
No dia 11, os professores ficaram ilhados no plenário, o restante da Assembleia foi tomado por policiais, inclusive da tropa de choque, e os deputados fizeram uma sessão fechada no restaurante.
No dia 12, os educadores decidiram cercar a Assembleia para impedir a entrada dos deputados e a realização da sessão que iria aprovar as propostas de Richa. Por volta das 14 horas, ocorreu o fato mais vergonhoso: tropas policiais escoltaram os deputados, a bordo de um veículo antimotins, dispersaram os manifestantes a bomba para que eles entrassem na Assembleia. A massa gritava “vergonha, vergonha!”.
Quando a notícia de que os deputados haviam conseguido entrar e a sessão iria ser realizada, milhares de trabalhadores, com incrível coragem, derrubaram novamente os portões e, em meio a bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta, balas de borracha e cães, forçaram o bloqueio policial a recuar. Poucos minutos depois, o anúncio: a sessão havia sido suspensa.
A seguir, o líder do governo informa que Richa havia retirado seu pacote.
Foi uma vitória marcante da mobilização que mostra ao conjunto dos trabalhadores que as propostas de “ajuste” que atacam direitos podem e devem ser derrotadas. Para o governo Richa, que viu implodir sua base de apoio (em três dias, perdeu 15 deputados), foi uma derrota monumental: pagou alto preço para, ao final, ser obrigado a recuar.
Esse ataque aos direitos dos trabalhadores provocou uma reação que não vai parar. A greve dos professores continua, pois os servidores estaduais ainda não receberam os 33% de férias. A eles vieram somar-se as universidades estaduais, servidores da saúde e outras categorias. É uma resposta poderosa aos planos de Richa, agente destacado dos interesses do mercado, e um exemplo para a luta dos trabalhadores de todo o país.
Artigo originalmente publicado na edição nº761 do jornal O Trabalho